[Archport] Moinho com 600 anos reabriu ontem mas só produzirá farinha em 2010
Moinho com 600 anos reabriu ontem mas só produzirá farinha em 2010
Público, 12/09/09, por Inês Boaventura
Construído por iniciativa de D. Nuno Álvares Pereira, o imóvel
classificado de interesse público nacional foi alvo de obras de
requalificação no valor de dois milhões de euros
O Moinho de Maré de Corroios, que foi construído há mais de 600 anos e
segundo Graça Filipe, directora do Ecomuseu Municipal do Seixal, é o
único moinho no estuário do Tejo acessível ao público cuja estrutura
original foi preservada, reabriu ontem. A partir do próximo ano,
depois de concluídos os necessários trabalhos de dragagem, os
visitantes poderão assistir ao vivo ao trabalho de um moleiro.
O moinho foi adquirido pela Câmara do Seixal em 1981, numa altura em
que se encontrava ainda em funcionamento, tendo sido encerrado nove
anos depois, para a realização de obras de consolidação da sua
estrutura e cobertura. Os trabalhos, orçados em cerca de dois milhões
de euros e comparticipados pelo Programa Operacional de Cultura,
incluíram também a qualificação do espaço exterior.
Conservar o moinho "na sua relação com a envolvente" foi uma das
principais preocupações subjacentes à intervenção, como sublinha Graça
Filipe, acrescentando que foi igualmente valorizada "a funcionalidade
moageira" do equipamento. Desde ontem, todo o sistema de moagem está
"montado e completamente perceptível e interpretável", como explica a
técnica, existindo ainda um modelo em três dimensões que exemplifica o
seu funcionamento.
Mas para assistir ao vivo ao trabalho de um moleiro será preciso
esperar até 2010, altura em que deverão estar concluídos os trabalhos
de dragagem que se determinou serem necessários com base num estudo do
Instituto Hidrográfico. Nos anos 90 houve uma tentativa de resolver o
problema, mas, explica a responsável pelo espaço museológico,
revelou-se insuficiente para combater a acumulação de sedimentos, por
se ter desenvolvido numa área restrita e de forma não-sistemática.
Quando adquiriu o moinho, que constitui um dos seis núcleos do
Ecomuseu Municipal do Seixal, a autarquia contou com a colaboração do
antigo moleiro, que, como conta Graça Filipe, "transmitiu o seu saber
e passou informação sobre as técnicas artesanais de moagem a outro
operador". Entretanto, esse profissional reformou-se, mas a equipa
permanente do museu já integra "um técnico operador do sistema de
moagem", que a partir do próximo ano produzirá farinha.
O moinho pode ser visitado, de forma gratuita, entre as 9h00 e as
12h00 e entre as 14h00 e as 17h00 durante a semana e aos
fins-de-semana durante a parte da tarde. Mas hoje e amanhã, para
assinalar a reabertura do espaço, estará aberto entre as 10h00 e as
20h00 e haverá concertos e "teatro electroacústico", que é como quem
diz "contos contados com som". Está também patente uma exposição sobre
a história do edifício e a sua relação com a envolvente.
Quando foi construído por iniciativa de D. Nuno Álvares Pereira, e
doado ao Convento do Carmo, o moinho estava dotado de três pares de
mós. Ao longo do século XVIII, conta Graça Filipe, foi ampliado e
chegou aos oito engenhos, não só para moagem de cereais, mas também
para o descasque de arroz.
No site do Ecomuseu Municipal do Seixal diz-se que há registo de 12
moinhos de maré no concelho, dez dos quais ainda estão de pé. Segundo
a sua directora técnica, o Moinho de Maré de Corroios, classificado
como imóvel de interesse público, é o único no estuário do Tejo que
"não foi reconstruído ou reedificado", preservando a sua estrutura
original.