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[Archport] Fortes que travaram invasão francesa abrem-se ao turismo

Subject :   [Archport] Fortes que travaram invasão francesa abrem-se ao turismo
From :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Date :   Sun, 20 Sep 2009 10:05:16 +0100

Fortes que travaram invasão francesa abrem-se ao turismo

Público, 20/09/09, por Luís Filipe Sebastião

As fortificações que abrigaram peças de artilharia vão dar lugar a uma rota histórica e cultural onde apenas se poderão escutar os "disparos" de máquinas fotográficas


Dois séculos após terem sido construídos para travar o avanço das tropas de Napoleão, as fortificações das linhas defensivas de Torres Vedras estão a ser reabilitadas para o turismo cultural. O forte do Zambujal, virado para a foz do Lizandro, é o primeiro a ser integralmente recuperado pela autarquia de Mafra no âmbito da rota histórica que junta seis municípios.


As linhas defensivas de Torres são constituídas por 152 obras militares edificadas entre 1809 e 1811. As estruturas militares, dispostas em barreiras mais ou menos paralelas entre o mar e o rio Tejo, foram construídas de raiz ou aproveitando edificações já existentes pelas tropas luso-britânicas para defenderem Lisboa da terceira invasão das forças francesas. Segundo um levantamento histórico, a primeira e a segunda linhas defensivas contavam com 142 fortes. Um rastreio realizado em 2002 confirmou a localização de 114.


O forte do Zambujal (obra 95), juntamente com os da Carvoeira e de São Julião, faz parte do núcleo militar mais a sul da segunda linha defensiva. Estas estruturas tinham por missão estratégica a defesa da foz do Lizandro, apoiando a frota naval inglesa, e o controlo da estrada entre a Ericeira e Sintra. A fortificação do Zambujal, num morro sobre o vale da Senhora do Ó, estava guarnecido com duas peças de artilharia e 250 milicianos portugueses.


Uma campanha arqueológica, levada a cabo entre Abril e Agosto deste ano, pôs a descoberto "estruturas em madeira que são muito raras de encontrar em bom estado de conservação", notou Ana Catarina Sousa, do gabinete de arqueologia da Câmara de Mafra. A escavação quase integral, apoiada nos diários com os projectos dos engenheiros ingleses, confirmou que a fortificação possuía um túnel escavado na rocha e "um aparelhamento de pedra mais elaborado". A arqueóloga precisou que os elementos em madeira recuperados faziam parte da "plataforma para o canhão deslizar e de uma paliçada que protegia [visualmente] a boca de fogo".


"Conseguimos perceber as técnicas construtivas e ao mesmo tempo recolhemos informações para o próprio restauro, de forma a manter a autenticidade da estrutura", adiantou Ana Catarina Sousa. Além das informações ao visitante - que fica a saber tratar-se geralmente de construções em terra, com uso de pedra e madeira -, foram criados dois acessos, um para viaturas e outro pedonal, este com cerca de 500 metros e que permite "usufruir da paisagem envolvente" sobre a foz do Lizandro.


O município de Mafra possui 43 fortes, mas nem todos serão recuperados como o do Zambujal. Para já, a autarquia tem apoiado a Escola Prática de Infantaria na reabilitação do forte do Juncal, no perímetro da Tapada Militar de Mafra. A Divisão de Infra-estruturas do Exército, por seu lado, tem colaborado em diversas acções de desmatação em fortificações nos concelhos que integram a Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres (Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira).


Em Mafra já foram recuperados outros dois fortes da Enxara e o posto de sinais da serra do Socorro. O telégrafo, cuja réplica foi construída em colaboração com o Museu da Marinha, fazia parte do sistema de comunicações das linhas, transmitindo informações codificadas para a capital do reino em sete minutos. Este circuito funciona desde Novembro de 2008. No próximo ano avançará a reabilitação do forte da Feira, em pleno centro urbano da vila da Malveira.


Bicentenário em 2010


O forte do Alqueidão, em Sobral de Monte Agraço, fez parte da primeira linha de defesa, entre Alhandra (Vila Franca) e a foz do Sizandro (Torres Vedras), e seria o posto de comando das forças aliadas. As primeiras escavações, em 2008, permitiram localizar a "casa do governador", duas canhoneiras, dois paióis e um poço. Entre Julho e Agosto deste ano foram escavados exaustivamente o paiol norte e o pequeno edifício revestido a telha. Aqui se reuniriam o comando militar do forte e o marechal Wellesley (duque de Wellington), que instalara o seu quartel-general em Pêro Negro.


"O paiol está menos estragado do que a casa do governador", explicou Sandra Oliveira, responsável pelo projecto das linhas de Torres na Câmara de Sobral de Monte Agraço. A técnica, que dá apoio à coordenação da plataforma intermunicipal (este ano liderada pelo concelho), acrescentou que se trata de um dos cinco paióis do forte, com 15 metros de comprido, "ainda com vestígios de reboco antigo" e do sistema de escoamento de águas pluviais.


O município, que possui nove fortificações, aposta na concretização de "uma rota histórica e cultural, comum aos vários municípios, com acções concertadas para o bicentenário das linhas em 2010". Sandra Oliveira esclareceu que, em colaboração com o Exército e outras entidades públicas, deverá ser apresentado "até Janeiro" o programa comemorativo das linhas que travaram o avanço francês. A construção arrancou em Novembro de 1809 e a primeira linha foi "avistada" pelas tropas de Massena em Outubro de 1810.


Além da musealização dos espaços do Alqueidão (incluindo os fortes do Machado e do Simplício), a autarquia do Oeste prevê a criação de um núcleo de apoio ao visitante na serra do Olmeiro/Montagraço, o restauro da antiga estrada militar para uso pedonal e recuperação do moinho do forte Novo. Embora reconheça a dificuldade em angariar apoios mecenáticos, a técnica municipal confia que Sobral e os restantes municípios consigam dinamizar a rota, quando estiverem concluídas as estruturas de apoio. No caso do seu concelho, contou, já é habitual responder a pedidos de visita às linhas quando as condições climatéricas não são favoráveis para turistas hospedados em resorts da região jogarem golfe. 



46 quilómetros era a extensão da primeira linha defensiva, entre a margem do Tejo (Alhandra) e a foz do Sizandro (Torres Vedras)

1000 peças de artilharia e mais de 68 mil homens guarneciam a centena e meia de fortes e redutos de três linhas

1590 militares e 25 peças de artilharia compunham o efectivo do forte Grande ou Grande Reduto do Alqueidão

2 meses é o tempo que os franceses, após esperarem por reforços que nunca chegaram, levaram para retirar do Sobral 



As intervenções programadas para os seis municípios fazem parte do projecto Rota Histórica das Linhas Defensivas de Torres Vedras, promovido pela plataforma intermunicipal e apoiado em cerca de dois milhões de euros pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu-EEA Grants, com fundos da Noruega, Liechtenstein e Islândia. Até 2011 serão criados seis centros de interpretação (um em cada município), intervencionados 32 fortes, 19 unidades de acompanhamento e dois postos de sinais. Para além da limpeza do coberto vegetal em estruturas de todos os concelhos, o plano intermunicipal contempla intervenções arqueológicas nos fortes do Alqueidão e Novo (Sobral), do Cego e da Carvalha (Arruda) e da Casa (Vila Franca). Em relação às críticas de abandono nos fortes da Freguesia de São João dos Montes, Maria da Luz Rosinha, presidente da Câmara de Vila Franca, prometeu acções de desmatação nas próximas semanas nos casos "mais complicados". L.F.S./J.T. 






Vila Franca promete medidas contra abandono

Por Jorge Talixa

Grupo de habitantes de São João dos Montes critica degradação, mas autarquia garante que está a investir 470 mil euros na rota das linhas de Torres


O Grupo de Habitantes e Amigos de São João dos Montes critica o estado de abandono e degradação a que afirma que tem estado votada a maioria dos fortes e redutos das linhas de Torres existentes no concelho de Vila Franca de Xira. A autarquia garante que, depois de várias acções de limpeza e de tentar classificar 12 fortificações, está também a investir cerca de 470 mil euros na recuperação dos principais fortes e na criação de centros interpretativos e de percursos pedestres.


A área do município de Vila Franca de Xira teve um papel importante na estrutura defensiva das linhas de Torres. Ali foram construídas 35 das 152 fortificações, algumas delas determinantes para a defesa da zona do Tejo. Existem vestígios de boa parte destes fortes e redutos e das estradas militares de acesso. O concelho possui, aliás, um memorial alusivo, denominado Monumento de Hércules, instalado no final do século XIX numa encosta sobranceira a Alhandra.


Agora, o grupo de cidadãos de São João dos Montes lamenta o estado de "negligência" a que estão sujeitas muitas destas estruturas. "Encontram-se invadidas por matagais, em grave risco de incêndio. São evidentes os vandalismos, os depósitos de lixos, a circulação desregulada de veículos de grande porte e o risco de derrocadas", sustenta um comunicado, divulgado após uma recente visita a fortes na Freguesia de São João dos Montes.


O arqueólogo Rui Coelho, membro do grupo, disse que vários fortes "estão a ser completamente engolidos pelo mato, com riscos de incêndio e de derrocadas". Rui Coelho classificou a situação como "uma vergonha" e sublinhou que "não existe qualquer protecção, nem controlo de trânsito, e passam jipes por cima de calçadas históricas".


"Choca-me particularmente o facto de as estradas militares não estarem sequer referenciadas no novo Plano Director Municipal", acrescentou, frisando que noutras áreas do município haverá antigas fortificações "ameaçadas por urbanizações". Maria Conceição Santos, vereadora da Cultura, admitiu que a câmara, "não tendo capacidade para intervir de uma vez só em todas as fortificações", participa na plataforma intermunicipal.


"Com muita pena nossa, dos seis milhões de euros de que estávamos à espera resultou um milhão e pouco, o que obrigou a reformular várias intervenções." A autarca garantiu que vai ser lançado nos próximos dias o concurso para a obra de recuperação do forte 38 (cerca de 340 mil euros), no centro da vila do Forte da Casa, onde será criado um museu em torno do paiol e um centro interpretativo. "Fez-se uma desmatação, é preciso fazer regularmente novas desmatações e não podem ser feitas com máquinas. O património não está esquecido, mas tem que ser um trabalho faseado", prosseguiu Conceição Santos, lembrando que todas estas intervenções carecem de articulação com o Ministério da Defesa (tutela as estradas militares) e com o instituto de gestão do património (Igespar). 





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