[Archport] DEBATE COM PARTIDOS - ARQUEOLOGIA E PATRIMONIO CULTURAL
CAROS COLEGAS E AMIGOS
AQUI VAI UM BREVE RESUMO DO DEBATE SOBRE A ARQUEOLOGIA E O PATRIMÓNIO
CULTURAL ORGANIZADO PELA ASSOCIAÇÃO DOS ARQUEÓLOGOS PORTUGUESES E QUE
TEVE LUGAR NO PASSADO DIA 17 DE SETEMBRO DE 2009 NO MUSEU
ARQUEOLÓGICO DO CARMO, LISBOA.
PARA UMA INFORMAÇÃO MAIS CIRCUNSTANCIADA, PODEM CONSULTAR O BLOGUE DA
AAP, "A TRIBUNA DO CARMO"
( atribunadocarmo.wordpress.com).
A 27 de Setembro o país votará o seu destino para os próximos quatro
anos. As políticas culturais, nomeadamente a gestão do Património
Cultural, são assuntos prementes e por isso a Associação dos
Arqueólogos Portugueses decidiu organizar o único debate público na
área.
As políticas para a Cultura e o Património Cultural têm suscitado
grande discussão nos últimos anos. Os casos da criação do Instituto de
Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR, IP) com a
reorganização institucional, o novo Museu dos Coches ou a construção
do Museu no vale do Côa são alguns dos casos que recentemente
alcançaram notoriedade pública.
O espaço histórico e quase mítico das Ruínas do Carmo, no Museu
Arqueológico do Carmo em Lisboa, foi o cenário escolhido para um
debate que conta com a presença dos vários partidos com representação
parlamentar.
Os temas propostos para discussão foram os seguintes:
O Património Cultural e a Arqueologia como recurso estratégico e
factor de desenvolvimento sustentável;
O enquadramento legal e institucional da gestão pública do Património
Cultural e da Arqueologia;
A promoção da investigação científica na área do Património Cultural e
da Arqueologia;
O exercício da profissão de Arqueólogo no sector público e privado.
Os representantes dos partidos foram: Cláudio Torres, em representação
do Bloco de Esquerda, Diogo Henriques, chefe de gabinete da
Presidência do CDS/PP; João Oliveira, deputado à Assembleia da
República, cabeça de lista no círculo de Évora pelo PCP; Francisco
Madeira Lopes, deputado à Assembleia da República, candidato do PEV
pelo círculo de Lisboa; Zita Seabra, deputada à Assembleia da
República, candidata no círculo de Lisboa pelo PSD e João Pedro Cunha
Ribeiro, Subdirector do IGESPAR, e militante pelo Partido Socialista.
O Debate centrou-se na discussão das actuação do Governo cessante no
domínio da Arqueologia e do Património Cultural, a qual suscitou a
crítica unânime de todos os presentes, com a natural excepção do
representante do Partido Socialista. Este, procurou, com efeito, sem
grande sucesso, rebater essas críticas, recorrendo aos argumentos da
difícil situação económica resultante do anterior governo do PSD e da
recente crise mundial para justificar a não realização integral dos
objectivos propostos, sem, no entanto, admitir qualquer erro, e
insistindo em que o objectivo da política do Governo, em matéria
arqueológica, que era por a arqueologia ao serviço das populações e
não dos arqueólogos.
Esta posição suscitou a natural reacção dos inúmeros arqueólogos
presentes, que a consideraram demagógica e populista, tendo sido
reafirmado que sítios como o Vale do Côa, classificados como
Património da Humanidade, não poderiam ser apenas utilizados em
benefício imediato das populações locais, mas sim preservados para as
futuras gerações, de modo a poderem ser usufruídos por toda a
Humanidade, e que o Estado português tinha assumido a nível
internacional a responsabilidade pela sua protecção.
A tónica geral das intervenções dos representantes dos partidos da
oposição, com ligeiras nuances, mas revelando uma considerável
unanimidade entre os extremos do leque partidário, foi no sentido de
se considerar o património cultural como um factor essencial de
afirmação da identidade do país, por cuja preservação o Estado é o
principal responsável, e não como um mero recurso económico,
utilizável para resolver problemas imediatos de equilíbrio orçamental,
nunca devendo ser alienado, mas antes valorizado de forma
sustentável, para poder ser usufruído por todos os interessados, e
legado às gerações futuras.
A falta de diálogo do Governo com os agentes culturais e as
associações do sector, prática aliás comum a muitas outras área da
governação, como a justiça, a saúde, e a educação, foi também
fortemente criticada, dela tendo resultado um conjunto de medidas
consideradas erradas, chegando-se ao ponto de destruir o que
anteriores governos socialistas criaram, como foi o caso do Instituto
Português de Arqueologia e das carreiras de arqueologia na função
pública, sem nunca terem chegado a cumprir promessas constantes do
programa do governo cessante, como foi o caso da regulamentação da Lei
do Património, sucessivamente anunciada, mas nunca concretizada, da
reinstalação do Museu Nacional de Arqueologia (que aliás pretendem
desalojar do local onde se encontra há mais de um século), da
inauguração do Museu do Côa (concluído mas não inaugurado, por
indefinição do respectivo modelo de gestão), e da manutenção da
situação de precariedade da maior parte dos técnicos da área
patrimonial, não lhes permitindo o exercício das suas funções com a
necessária estabilidade e independência técnica, etc.
Em conclusão, foi feito um apelo generalizado ao Governo que sair das
próximas eleições legislativas, qualquer que ele seja, no sentido de
ouvir os agentes e parceiros culturais,e os próprios órgãos
consultivos do Ministério da Cultura, como o Conselho Nacional de
Cultura, que nunca chegou a reunir, a fim de poder definir uma
política coerente, susceptível de mobilizar todas as forças políticas
na defesa e valorização de um património que a todos pertence, e que
por todos deve ser protegido, embora caiba constitucionalmente ao
Estado um papel inalienável neste domínio, cumprindo-lhe gerir os
escassos recursos existentes, os quais deverão atingir tendencialmente
1% do PIB.
O Presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses
(José Morais Arnaud)