O Salão da Associação Cultural e Recreativa de Samuel,
concelho de Soure, encheu-se ontem de habitantes interessados em saber mais sobre
as descobertas arqueológicas que uma equipa de voluntários das universidades
de Coimbra e Lisboa, liderados pelo professor Adriaan Louis de Man, conseguiu
efectuar durante prospecções realizadas durante seis semanas do Verão que
agora termina.
Numa área perto de Coles de Samuel, onde a investigação ainda não teve tempo
para revelar muito, adivinha-se que esteja uma villa romana, equivalente, há
dois mil anos, a uma quinta agrícola moderna.
Para já, foram encontrados alguns restos de muros, muitos cacos de cerâmica e
moedas de um período já adiantado do império romano, sendo que a maior
descoberta é o que se pensa ser parte do balneário que fazia parte integrante
destes complexos.
As descobertas são ainda incipientes, mas Adriaan de Man disse ontem estar
«moderadamente optimista» em relação aos resultados que podem ser obtidos em
futuras campanhas, que, normalmente só se realizam no Verão, servindo como
hipóteses de os alunos de arqueologia realizarem trabalho de campo.
Certo é que, no espaço de seis semanas, foram encontrados artefactos
importantes e, mais precioso, foi definida uma área onde se pensa ter estado
a casa principal da villa, assim como o balneário, factores que, ao invés
destas primeiras escavações, já permitirão, de futuro, um trabalho mais
direccionado.
A intervenção dos arqueólogos nas agora chamadas de ruínas romanas de
Madanela insere-se no projecto “Villa Sicó”, desenvolvido pela
Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó, no âmbito da Rota da
Romanização.
David Leandro, director executivo da Terras de Sicó, explicou que a intenção
da associação, ao avançar com este projecto, foi identificar em cada um dos
seis concelhos, sítios arqueológicos da época romana.
Condeixa-a-Nova já tem as ruínas de Conímbriga, Penela tem no seu território
a Villa Romana do Rabaçal, enquanto que Ansião integra no património os
vestígios de Santiago da Guarda.
Recorrendo à Carta Arqueológica da Região Centro, a Terras de Sicó
identificou para investigação o sítio ontem apresentado, no concelho de Soure,
Rominha, em Alvaiázere, e também Santiago de Litém, em Pombal.
Se os três primeiros concelhos têm sítios arqueológicos investigados há
muitos anos, especialmente Conímbriga, nos restantes, só agora está a ser
iniciada a investigação científica, em colaboração com os municípios, tendo
em vista o aproveitamento turístico e económico do potencial que representam
as descobertas arqueológicas.
A presidente associação local, na resenha histórica que fez, recordou que a
zona é sobejamente conhecida da população pelos achados que apareciam durante
os trabalhos de lavoura.
Aliás, na zona que se pensa ser residencial, os trabalhos agrícolas, ao longo
de séculos, terão danificado uma boa parte do espólio, sendo a área onde os
achados estão mais espalhados.
Ao lado, no balneário, a situação é bem mais animadora, contudo, só com
futuras campanhas poderá ser avaliada a área concreta que ocupava o complexo
e a sua importância do ponto de vista arqueológico e histórico.
Mosaicos vandalizados em
tentativa de furto
As prospecções geológicas ainda não conseguiram colocar a descoberto mais do
que alguns artefactos, moedas e mesmo ossos, assim como meros centímetros
quadrados de mosaicos que, entretanto, já estão vandalizados.
Ontem, pouco antes da cerimónia, os arqueólogos deslocaram-se ao local e
detectaram indícios de que alguém terá tentando levantar os mosaicos,
eventualmente com a intenção de os furtar.
A notícia chocou os muitos populares que ontem visitaram o local e motivaram
um apelo do assessor de João Gouveia, Mário Jorge Nunes, que lembrou a
necessidade de serem preservados os achados e de ser dado tempo aos
especialistas de investigarem o espaço, a «única forma de o valorizar»,
explicou.
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