[Archport] Obras em Lagos condicionadas por arqueologia
Parque do anel verde em Lagos começa a receber carros em Janeiro
7 de Outubro de 2009 | Barlavento, por Ana Sofia Varela
Já falta pouco para Lagos passar a ter dois novos parques de
estacionamento prontos a estrear, com um total de 900 lugares, num
investimento de 15,5 milhões de euros.
Enquanto o parque do anel verde já leva uns pontos de avanço, pois tem
12 meses de prazo de conclusão face aos 14 do da zona ribeirinha,
ambos vão respeitar o tempo de obra previsto, garantiu ao «barlavento»
Carlos Albuquerque, presidente da empresa municipal Futurlagos.
O parque do anel verde, junto ao centro histórico, abrirá ao público
no «início do próximo ano». É que, naquele local, «os trabalhos
arqueológicos já terminaram e os de construção da estrutura estão a
correr como programado, uma vez que foi possível afectar mais meios
humanos e mecânicos» para cumprir os prazos, justificou.
«Um quarto da laje de cobertura já está betonado e agora entrámos na
fase de armar ferro para depois fazer as ancoragens e betonar os
outros três quartos», assegurou.
Em Novembro e Dezembro começam as fases de arquitectura e de
especialidade, como o ar condicionado e a ventilação.
Neste caso, a relevância arqueológica condicionou as obras, mas
acabará por ser uma mais-valia para o resultado final.
«Para preservar a memória histórica do antigo hospital da gafaria,
encontrado durante os trabalhos arqueológicos, foi feita uma alteração
ao projecto de arranjos exteriores no sentido de manter algumas das
suas estruturas», revelou ao «barlavento» Carlos Albuquerque.
No futuro, os utilizadores vão poder ainda encontrar uma placa com
informações sobre o antigo hospital para leprosos do século XV, então
situado na periferia da cidade.
A importância dos achados «obrigou a que tivéssemos equipas de
arqueologia, antropologia, medicina, sociologia, economia e história
para contextualizar o conjunto, que vem enriquecer o património
histórico», sublinhou ainda.
Isto mostra que nem sempre a arqueologia é um entrave, desde que o
planeamento da obra seja rigoroso e que haja uma boa relação entre os
arqueólogos e o empreiteiro.
No outro ponto da cidade, o parque de estacionamento na frente
ribeirinha tem, por sua vez, uma complexidade e visibilidade
diferentes, devido à sua localização.
«Primeiro, porque está paredes meias com o casco urbano do centro
histórico, em segundo lugar, porque vai servir mais os visitantes da
cidade», salientou. Por isso, antes do Verão, o espaço tem que estar a
postos para receber os turistas e facilitar a vida aos residentes.
«Os trabalhos têm o acompanhamento de uma equipa de arqueologia e têm
sido desenvolvidos trabalhos inovadores, para compatibilizar a
engenharia, arquitectura e construção civil, com a arqueologia»,
afirmou.
Uma das inovações serve para acautelar que o pano da muralha é
preservado. «A geoarqueologia, na Rua da Barroca, permitiu validar uma
solução de construção do parque, que consiste em fazer perfurações de
micro-estacas, abaixo da base da muralha para assegurar a sua
sustentação», explicou o responsável pela empresa municipal.
Entretanto, a obra já entrou na fase da impermeabilização, visto que a
contenção periférica está feita.
«Agora é fase de adaptação do plano de trabalhos da arqueologia com a
obra, o que diminui o ritmo de construção. Há ainda o acompanhamento
da arqueologia subaquática, por isso temos a equipa em permanência no
local para ver se há algum contexto que seja relevante, o que até aqui
não aconteceu. Tanto que já estamos a trabalhar para fazer a laje de
fundo», avançou.
Numa fase posterior, há que conciliar os arranjos exteriores e
infra-estruturas comuns à obra de requalificação do Polis de Lagos,
como saneamento, pluviais, telecomunicações, electricidades.
«As obras não estão atrasadas. Houve um condicionamento arqueológico
que influencia o ritmo, mas que pode ser recuperado, desde que haja
articulação entre os intervenientes com visões, responsabilidades e
objectivos diferentes: empreiteiro e arqueologia», considerou.