Arqueologia na escola.
Uma destruição controlada.
Os eborenses, os portugueses em geral também, foram no início da semana surpreendidos por uma notícia surpreendente, com honras de difusão televisiva, desenvolvida em outros meios de comunicação. E o caso é que uma entidade não revelada que procedia ao acompanhamento de uma obra para instalação, ou renovação de condutas de refrigeração na Escola Gabriel Pereira, em Évora, descobriu vestígios de uma necrópole romana.
A documentação revelada pelo conjunto de notícias divulgadas não permite de forma alguma avaliar, mesmo genericamente, nem caracterizar com um rigor aproximado a natureza das estruturas que se revelaram, a duração e as condições de realização dos trabalhos, nem as razões por que e as condições em que foram suspensos.
Não podemos pois, por ora, senão reportar as declarações, ou extractos delas, feitas pela coordenadora da equipe e um membro dela, reproduzidas pela comunicação social.
E a mais desconcertante revelação refere-se à nomenclatura utilizada pela coordenadora para caracterizar a natureza dos trabalhos. Tratou-se de uma destruição controlada, com o objectivo estruturante de recolher os materiais que foram postos a descoberto, que serão agora objecto de estudo, classificação, marcação e, presumidamente, instalação museológica na Escola.
Bem, o assunto é tanto mais surpreendente quando se trata de uma descoberta da importância já destacada por vários comentadores, nas imediações e propriedade de um equipamento do Sistema Educativo. Bem, nas imediações de uma Universidade que tem em actividade alguns mestrados em gestão do património e mesmo em várias áreas da arqueologia. Na primeira cidade portuguesa distinguida com a classificação de Património Cultural da Humanidade.
A primeira ideia que me ocorre é quase um sonho. Imaginar um campus arqueológico numa escola, a funcionar em permanência plena, mobilizando os recursos de uma universidade contígua. Os alunos a participarem nas escavações e nos estudos adjacentes, aulas a decorrerem no contacto directo com a prática arqueológica, interactividade entre a Universidade e a Escola, permutas no quadro nacional e internacional. A educação cívica para o património na sua mais profunda expressão. Resta-me recalcitrar na ideia de que talvez urja a introdução nos currículos da escolaridade obrigatório de uma disciplina com esse expresso fim.
Mas não. A arqueologia circunstancial de episódio, em contexto de acompanhamento de obra, tenderá para ser cada vez mais isto, ou pouco mais do que isto. Episódios que se extinguem com a conclusão das obras. É pena.
Em desenvolvimento de Comentando o papel de um Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos.
Manuel de Castro Nunes
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