Trapalhadas "monumentais" na Sé de Lisboa
size=1 width="100%" noshade color=white align=center> We have no right whatever to touch them. They are not ours John Ruskin
Esta frase de Ruskin, famosa para todos aqueles que se ocupam dos conceitos do restauro em monumentos históricos, parece ser, no presente, completamente desconhecida para os responsáveis eclesiásticos da Sé da Lisboa. Antes de tudo, não parece demais relembrar que quando falamos da Sé de Lisboa estamos a falar de um monumento construído em 1150, três anos depois da reconquista de Lisboa por D. Afonso Henriques. A Sé foi ao longo dos séculos modificada com acrescentos de diversas épocas e reinos, sofreu danos provocados por diversos terramotos e foi restaurada sobre a influência de diversos conceitos. Uns hoje em dia mais aceitáveis que outros. Mas, provavelmente, nunca terá sido alvo de um tipo de intervenção com a ligeireza, irresponsabilidade e consequente gravidade como a que decorreu há pouco tempo. O que aconteceu? Só conhecemos os graves efeitos... desconhecemos, apesar de terem sido pedidas explicações ao patriarcado, quem são realmente os responsáveis e o que tencionam fazer com as graves consequências dos seus actos, que afectaram gravemente a integridade física deste monumento tão importante para a História de Lisboa e para a época da fundação de Portugal. O que podemos concluir das hesitantes e trágicas "declarações" do cónego Lourenço e do padre Edgar Clara à comunicação social é de que, impacientes com a demora de um necessário restauro de um gradeamento no portão norte, resolveram "deitar mãos à obra" por iniciativa própria, pondo um "jeitoso" pedreiro, sem qualquer acompanhamento técnico especializado por parte do Igespar, a "atacar" os blocos seculares através de um disco mecânico de diamante (!). Assim, a modos como quem muda um portão numa "vivenda", numa periferia manhosa. O testemunho das fotografias tiradas ainda quando a obra decorria não mente. O desenrascado artífice atacava a base das colunetas, arrancando blocos seculares que eram nitidamente visíveis no chão, e depois passava a cobrir os vazios com placas de pedra com a espessura de centímetro e meio, e bordadura. "Axim", a modos de umas obras de casa de banho (!). A mente humana é misteriosa. Quando a realidade é insuportável, procuramos uma fuga no surreal. Assim, vi-me de repente, perante a gravidade e o absurdo surrealista da situação, a imaginar os distintos eclesiásticos numa situação parecida com a famosa cena do filme Bean onde este conhecido comediante vandaliza o insubstituível quadro Whistler"s mother de forma irreversível, e tenta esconder as terríveis consequências. Mas não temos razões para rir. O próprio Igespar também ainda não deu explicações do que é que tenciona fazer em relação à situação. E onde estão as pedras originais vandalizadas? De que época e a que intervenção correspondem? Teremos que concluir que a extinção da Direcção-Geral dos Monumentos Nacionais foi precipitada? Que o Igespar é um paquiderme inoperante? Será que Portugal está doente? Historiador de Arquitectura
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