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[Archport] Solicitação aos epigrafistas, arqueólogos e estudiosos do mundo funerário romano

Subject :   [Archport] Solicitação aos epigrafistas, arqueólogos e estudiosos do mundo funerário romano
From :   Luis arkeotavira <luisfraga@arkeotavira.com>
Date :   Sat, 14 Nov 2009 11:23:03 +0000

Solicitação aos epigrafistas, arqueólogos e estudiosos do mundo funerário romano


No decurso de um estudo que estou a realizar deparei com limitações de informação inultrapassáveis, pelo que venho pedir a Vossa colaboração, após consultar o Professor José d'Encarnação.

É um assunto muito específico e difícil de expor em poucas palavras, pelo que peço desculpa pela extensão do texto.


A estação arqueológica romana da "Quinta de Marim" (Olhão, Algarve) é sobejamente conhecida, pelo menos de nome, sendo referida em todas as compilações e obras generalistas que abrangem o território actualmente português e em virtualmente todas os estudos sobre villae tardias da Hispania.

Os três aspectos mais marcantes da sua notoriedade são:

1.       Uma colecção de 18 (dezoito) lápides epigráficas funerárias, consideradas de grande qualidade escultórica e decorativa, em que a grande maioria das inscrições contrasta grosseiramente com essa sofisticação formal, considerando-se terem sido executadas por lapicidas analfabetos. As 18 inscrições identificam 24 nomes: 21 falecidos, 2 dedicantes e 1 pai (13 homens e 11 mulheres), 20 [83%] com um só nome (11 gregos e 9 latinos), 3 [13%] com 2 nomes (2 mulheres e o pai de uma delas) e 1 [4%] com 3 nomes.

2.       Um edifício muito semelhante aos de Milreu e São Cucufate, datados de meados do séc. IV e geralmente interpretados como templos privados das respectivas villae. Este edifício, juntamente com vestígios de outro que lhe é vizinho, permitem estabelecer com segurança a existência de uma villa em Marim já desde o séc. II, com uma ampliação ou remodelação durante o séc. IV.

3.       Um elemento pouco conhecido mas não menos interessante é uma necrópole edificada como um recinto funerário, com pátio e, pelo menos, duas casas-túmulo. Teria uma capacidade de c. 100 fossae sepulcrais, uma grande parte reutilizada no séc. V, de onde se retiraram as três placas epigráficas paleocristãs de Marim. O seu período áureo terá sido desde finais do séc. II até meados do III. Daqui provieram confirmadamente 6 das lápides, certamente mais 8 reutilizadas num raio de 200m e, talvez, mais duas, reutilizadas a c. 480m mas do mesmo tipo formal e onomástico, o que permite estimar em c. de 90% do total o nº de lápides originárias desta necrópole.

A necrópole encontra-se a c. de 300m dos edifícios da parte urbana da villa, 200m mais longe que uma pequena necrópole intermédia, a qual, por proximidade e tipo, se tem associado à familia rustica da villa, com uma fundação desconhecida mas em uso numa época seguramente posterior ao apogeu da necrópole principal.

 

As minhas perguntas referem-se apenas à colecção epigráfica e destinam-se a determinar, através de evidências comparadas, em que medida é que Marim pode ser considerado um caso único ou pouco vulgar no panorama do povoamento romano do Ocidente e quais os caracteres dos sítios com um registo epigráfico semelhante:

1.       Que colecções existem com uma ordem de grandeza igual ou maior que a de Marim, provenientes de sítios rurais na Antiguidade (excluindo-se povoações urbanas e para-urbanas tais como fixações militares e outras aglomerações especializadas de dimensões razoáveis)?

2.       Que colecções existem, que associem uma grande qualidade decorativa a um grupo humano do fundo da escala social?

3.       Que exemplos se conhecem de agrupamentos epigráficos com estas características em fixações que sejam fundamentadamente consideradas villae?

Por outras palavras, que exemplos se conhecem de villae em que escravos analfabetos tenham tido fundos, autonomia, e organização social para – em massa – adquirirem lápides de grande qualidade e fazerem-se enterrar em necrópoles especializadas e arquitectonicamente elaboradas?

4.       Há, pelo menos, exemplos comprovados de uma ou duas lápides deste tipo e destas gentes em villae bem caracterizadas como tal?

 

Caso desejem aceder a informações complementares sobre Marim, podem usar um destes links:

Sistematização da colecção epigráfica e bibliografia específica.

Versão corrente de um resumo do estudo, bibliografia completa e anexos arqueológicos (inclui a parte do link anterior)

Página geral. Inclui links para algumas figuras: cartografia e topografia arqueológica/arquitectónica


Agradeço antecipadamente a Vossa atenção.

 

Luís Fraga da Silva
Campo Arqueológico de Tavira



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