Angola Press, 24/01/2010
Cabo Verde
Cidade Velha - As obras de saneamento básico da Cidade Velha
permitiram descobrir uma desconhecida fisionomia da Ribeira Grande de Santiago
muito diferente da actual, onde imperava o luxo e a riqueza dos tempos áureos
da primeira capital de Cabo Verde. "A Cidade Velha teve um passado cosmopolita e, ao que tudo
indica, teria dois portos e um elevado número de igrejas e de casarões de dois
pisos. É fácil, agora, perceber a riqueza desta cidade mercantil",
explicou à Agência Lusa o Director do Departamento de Arqueologia da
Universidade de Cambridge (Inglaterra). Christopher Evans não tem quaisquer dúvidas. Nos séculos XV, XVI e
XVII, a Ribeira Grande de Santiago, hoje também conhecida por Cidade Velha, 15
quilómetros a oeste da Cidade da Praia, teve um período áureo, mas os
sucessivos ataques dos piratas, entre eles os do britânico Sir Francis Drake,
acabaram por destruir totalmente o centro da primeira cidade construída pelos
europeus nos trópicos, a partir de 1462. "Há 200 anos, a Cidade Velha modificou-se. O que já
descobrimos leva-nos a pensar que a cidade era muito diferente. Os edifícios
eram maiores e as ruas de então não são as que hoje existem", sublinhou
Evans, uma dos mais renomados especialistas mundiais que colabora, desde 2007,
com arqueólogos cabo-verdianos nas escavações da localidade que, em Junho de
2009, foi declarada Património Mundial da Humanidade. Segundo Evans, nos últimos meses, as escavações acentuaram-se, ao
ponto de "desfigurarem" as zonas do mercado e do centro da cidade,
onde se descobriu "uma série de trincheiras e um manancial fantástico de
artefactos arqueológicos". "Muito interessante", disse o arqueólogo britânico, é o
facto de se ter descoberto que, afinal, a antiga Ribeira Grande de Santiago
tinha dois portos, um deles no fim da parte sul do mercado, onde se localizava
a Alfândega, a Casa dos Escravos e o alojamento dos "clientes". "Mas, nos últimos dias, encontrámos, mais ao lado, mais para
sul, um novo porto para pequenas embarcações, cremos que destinado a
mercadorias e serviços, o que nos leva a supor que a Ribeira Grande de Santiago
era uma cidade mercantil com um mercado muito dinâmico", acrescentou. Para o especialista britânico, que lidera uma equipa de
arqueólogos multinacional, há muitos artefactos que demonstram "uma grande
confusão de estilos e de épocas", entre porcelana chinesa e peças típicas
dos países nórdicos e naturalmente africanos. "Em Dezembro (de 2009) encontrámos uma série de coisas
fabulosas na Alfândega. Parece que o edifício foi incendiado depois de
destruído, possivelmente quando Francis Drake atacou a cidade em 1585. Encontrámos
os restos dos pisos térreos chamuscados e até uma casaca militar, ainda com as
medalhas. Encontrámos também, 150 balas de canhão. Seriam as disparadas por
Francis Drake? Estamos a averiguar", exemplificou. No entanto, todo esse espólio tem um futuro incerto. Segundo
Evans, há vontade política do governo cabo-verdiano em continuar com as
escavações, um trabalho que, disse, "vai demorar décadas e
décadas". A ideia de um museu é "bem aceite" pelas autoridades
cabo-verdianas, que terão de garantir os meios financeiros, fruto da classificação
da Cidade Velha como Património Mundial. A Ribeira Grande de Santiago foi porto de chegada dos portugueses em 1460 e, dois anos mais tarde, foi lá criada a primeira cidade do mundo construída por europeus nos trópicos, mais precisamente por Portugal, tornando-se a primeira capital do arquipélago que, mais tarde, seria conhecido por Cabo Verde.
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