A questão que deveria colocar, ao invés de trazer à colação a Estradas de Portugal, é: quanto pagará a E.P. à empresa de trabalho temporário?
From:
archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf Of Jorge Feio
Foi recentemente
colocado aqui um post a informar da necessidade de contratação de um arqueólogo
para uma obra a cerca de 30km para Este de Alcácer do Sal. Trata-se efectivamente
de uma obra a cerca de 30km para sul, mais exactamente no Torrão, da responsabilidade
da E. P. Tendo sido contactado
para o trabalho, em resposta ao envio do curriculum
vitae, constatei que o empregador é uma empresa de trabalho
temporário. Foi-me feita a
seguinte proposta: 800€ mensais,
mais os duodécimos do subsídio de féria e do subsídio de Natal e ainda subsídio
de alimentação. Feitos os descontos, iria receber "limpos" 880€. Teria direito a férias e a
indemnização de final de contrato. O carro seria o meu, bem como o pagamento de
combustível. Acrescente-se que a
empresa prefere arqueólogos da zona (Alvito, onde moro, fica a 23km do Torrão)
para não pagar alojamento. Dividindo o vencimento
limpo por 30 dias, como se faz na função pública, iria receber 29,33€ por dia. Uma Fortuna!!! Fazendo contas, um
arqueólogo em início de carreira na função pública (o correspondente ao antigo
técnico superior de 2ª) auferirá este ano cerca de 1380€ brutos mensais. Ora
multiplicando por 14 meses (12+subsídio de natal+subsídio de férias) dá a bonita
soma mensal de 1610€. Depois de
pagos os impostos, receberá o equivalente a 1308€ mensais (recebendo a verba
repartida por 12 meses) mais o subsídio de alimentação que é de 5,25€/dia e que
multiplicado por 22 dias dá 115,5€.
Ora 1308€+115,5€=1423,5€ (=47,45€/dia). Continuando a fazer
contas, 1423,5€-880€=543,5. Ou seja, se alguém aceitar esta proposta irá perder, comparando o que mereceria auferir com que irá receber na realidade, apenas 543,5€ "líquidos"por mês e 6522€ ao fim de um ano. Isto fora o cálculo
das horas extraordinárias, onde se receberia pouco mais de metade do que é
justo. Como é ÓBVIO EU NÃO ACEITEI, mais não seja pela dignidade que a nossa profissão merece. Nós não somos menos que os engenheiros ou que os arquitectos para auferirmos o mesmo que um trolha numa obra das Estradas de Portugal. Basta acrescentar as seguintes contas: 200€ para gasóleo + 150€ para alimentação + 200€ (no mínimo) para alojamento (para quem precisar)= 550€. Sobram 330€ para pagar o desgaste do carro e outras despesas que tenhamos. Sabendo-se que as
Estradas de Portugal têm arqueólogos nos quadros, será que eles concordam com
estes pagamentos ultrajantes que as empresas que eles contratam para obtenção
de serviços qualificados de quadros especializados propõem aos próprios colegas
de profissão? Se calhar concordam, a
bem da estabilidade financeira de uma empresa que lucra milhões de euros todos
os anos e recebe verbas a partir dos impostos que todos pagamos. Eu não aceitei uma
obra que irá iniciar-se pouco depois de eu terminar o acompanhamento onde me
encontro. Se calhar até não vou ter trabalho durante algum tempo, mas eu quero
pertencer a uma classe respeitada, que aufira os honorários que merece. Na
proposta que apareceu na internet observava-se ainda um pequeno ponto onde se
encontrava escrito que "a remuneração seria equivalente à experiência do
arqueólogo a contratar". Como eu tenho quase 10 anos como profissional,
calculo quanto irá auferir alguém com menos tempo de experiência. Certamente alguém irá aceitar. É pena, pois assim nunca poderemos exigir que nos respeitem. Se ninguém aceitar, terão de aumentar o valor da proposta, porque é OBRIGATÓRIO O ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO DAQUELA OBRA. Um abraço, Jorge Feio
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