[Archport] O MNA não está ''condignamente instalado''.

[Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>]

O Museu Nacional de Arqueologia não está condignamente instalado.

Onde está a novidade. Essa constatação é redundante, eu, que vivo um pouco mais na lua, já o ouço dizer há pelo menos quarenta anos.

E ninguém vem a terreiro contar a história da insolubilidade do dilema até ao presente, das propostas, das diligências, dos grupos de trabalho, para que a comunidade possa avaliar com rigor a posição relativa da proposta coerciva agora em curso, no panorama das reflexões anteriores?

O MNA está atafulhado, tem um ar bafiento, as colecções estão acondicionadas em contentores, algumas em deterioração, porque não há espaço, et cetera e tal…

Tudo bem. E ninguém diz definitivamente que este argumento é uma falácia. Pela simples razão de que o Ministério da Cultura não apresenta à comunidade um programa coerente de reinstalação, senão que aponta um sítio. O Museu vai para ali e já, está o problema resolvido. Ali há espaço e ar e até uns corredores para os arqueólogos jogarem à apanhada, que é a representação que o Ministério da Cultura quer fazer passar dos arqueólogos, uns meninos impertinentes e implicativos, que brincam à apanhada.

Ora, essa constatação tem quarenta anos, a de que o MNA não está instalado condignamente. Ninguém conseguiu ainda propor uma solução que produzisse exequibilidade. A não ser o Ministério da Cultura actual e o anterior, com uma ideia. Vai para ali. Como? Não sabemos ainda, mas vai-se resolver. Como? Saiam daí, depois resolve-se. Como? Já há uma equipa a tratar do projecto. E quando é que há projecto? Qualquer dia, a prioridade agora é o Museu da Viagem e da Língua. E o que é isso? Está em fase de projecto. E quando é que há projecto para isso também? Ainda estamos a pensar no que vai ser.

Começa de facto a ser uma questão de idoneidade. A de antecipar a acção aos projectos. Ou justificá-la nomeando coisas que ainda nem se sabe o que vão ser.

Não será esta a questão?

E se o Ministério da Cultura saísse do seu soberbo pedestal e descesse à terra, para apresentar à comunidade um programa coerente e consistente, calendarizado e suportado numa rigorosa avaliação de recursos, para a reinstalação do MNA? E se apresentasse um programa, com os mesmos critérios, para o Museu da Viagem ou da Língua, ou pelo menos um esboço, mesmo teórico, do que vai ser?

Não sendo assim, o que se representa para a comunidade é que o MNA vai sair de um lugar bafiento para outro, ou mais bafiento, porque vai ficar encaixotado até haver projecto, que só haverá depois de haver projecto para o Museu da Viagem ou/e da Língua, nem se percebe se é um, se dois.

Assim não sendo, os argumentos do Ministério da Cultura servem para justificar ocorrências.

Não será altura de parar para pensar? Assim, mais ou menos: vamos fumar o cachimbo da paz, deitar abaixo uns chouriços e uns garrafões de vinho, para depois deitarmos mãos à obra e tratarmos da matéria com tempo e com programa. Para que isto não pareça ou seja, só, uma questão partidária ou um caos de ocorrências.

E devemos todos ponderar uma questão: somos mestres em rasuras na história, mas, mais tarde ou mais cedo, a história fará os seus juízos.

Que fique claro que eu não tenho partido, nem quero. Partido político, claro.

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Manuel de Castro Nunes