O Director do MNA é afinal o responsável por esta confusão toda. Depois de lermos a memória descritiva de Jacinta Bugalhão, percebemos todos que os acervos que foram desalojados das antigas Oficinas Gerais do Exército foram parar ao MARL porque o Director do MNA se recusa a entregar a Torre Oca e, assim sendo, o Ministério da Marinha recusa-se a entregar as chaves da Cordoaria.
Seja o Governo da Nação não manda em nada, atravessa uma crise de autoridade. Parece que manda, mas não manda. E é mais fácil exercer a autoridade sobre um director de museu do que sobre o almirantado. Aspecto inesperado da questão, que o Governo da Nação não ponderou. Fez muitos projectos, mas não ponderou a força do almirantado.
E agora, é o Director do MNA que está barricado no MNA, não é o almirantado que se barricou na Cordoaria. Para entregar as chaves da cidadela, tem que receber a Torre Oca, custe o que custar, como prova de boa fé entre os beligerantes. Seja, isto parece a guerra do Raul Solnado.
E o Governo da Nação nada tem que ver com as beligerâncias entre os seus ministros. É o mediador do conflito. Isto vai acabar em Évora Monte.
E perdoem a caricatura. Mas não me parece haver outro meio de levar as partes a compreenderem que a comunidade, que está atenta e vai fazendo os seus juízos com bonomia, encolhendo os ombros, à portuguesa, porque já reconheceu a sua impotência no reino da loucura, vê assim a questão.
Peçam ajuda ao estrangeiro, à AMI, à Cruz Vermelha, que tem desde a I Guerra Mundial serviços de psiquiatria especializados, mas gritem por socorro, senão vamos ter três ou quatro ministros à estalada na Praça do Império.
E, em estado de desespero, porque já compreendeu que não lhe restam mais argumentos, o Director do MNA continua a reclamar um estudo sismológico. Mas toda a gente já percebeu que não é isso o que está em causa, porque quanto a sismos, a Nação abana já de Norte a Sul, de Nascente a Poente.
Porque é que ninguém chama às coisas o nome certo?
Porque é que o Governo da Nação não reúne os seus ministros com os estados maiores dos três ramos das forças armadas e põe ordem no assunto? E explica com pedagogia aos almirantes que se arrisca a perder toda a legitimidade para intervir no domínio da cultura se tiver que resolver os problemas no meio desta barafunda, em cima do joelho e sem programa?
Bem, ou existe algo ainda que não foi revelado, ou, com os dados que estão na mesa, podemos fazer outra leitura desta bizarrérrima contenda?
Isto faz algum sentido? O património cultural, cuja defesa todos reclamam, estar sujeito a estas contingências porque já não existem barbas como as de Dom João de Castro para empenhar aos almirantes?
Depois, imaginemos que os acervos do MNA iam progressivamente e discretamente sendo removidos para a Cordoaria? E lá ficariam enquanto prosseguiam as obras. Recordo-me de há talvez mais de trinta anos entrar na Biblioteca Municipal do Porto e deparar-me com uma situação caricata. Enquanto decorriam as obras de reabilitação do edifício, os cartapácios, impressos e manuscritos, amontoavam-se pelos claustros sepultados em pó e detritos. Não sei como conseguiram depois repor tudo no seu lugar. Magia à portuguesa. Mas isso foi há quase quarenta anos.
Não perceberam ainda que isto não faz sentido nenhum? Senhor Primeiro Ministro, rogo-lhe, reúna o conselho, dê uns murros na mesa, ponha na ordem os seus ministros e obrigue a Senhora Ministra da Cultura a reconhecer o disparate disto tudo e a fazer as pazes, mesmo separadas, com o Director do MNA, que é quem está na razão, embora já esteja, em desespero de causa, a enveredar pelos argumentos que pensa que ainda pode invocar no reino da loucura.
Assim não sendo, ficamos todos convencidos de que ainda existe um segredo por revelar. Do lado de fora da refrega, a ver de longe, também há quem pense.
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