E ainda que Hollywood
não se tenha lembrado de mergulhar a personagem imortalizada por Harrison Ford,
muitos analisam os fundos submarinos à procura das histórias que a História tem
para contar. No Centro de História
de Além Mar (CHAM) da UNL, há quem já tenha dessas histórias. Os mergulhos
arqueológicos fazem-se nos Açores, em Angra do Heroísmo e na Horta, à volta de
vários sítios, conhecidos pelas letras do alfabeto. No caso do chamado Angra D,
repousa um navio do século XVI ou XVII, um interessante objecto de estudo. Alguns
dos achados remontam a 1996, no âmbito de uma avaliação do impacto da
construção da marina de Angra do Heroísmo. O CHAM trabalha com
equipas da Universidade dos Açores há 10 anos. Há um ano e meio, passou a
pertencer também à academia açoriana e desenvolveu o projecto PIAS –
Estudo, Valorização e Monitorização de Sítios Arqueológicos na Ilha Terceira. Juntos,
ocupam-se de cinco desses sítios. A responsabilidade do projecto acabou por
caber a José Damião Rodrigues, da Universidade dos Açores, enquanto a direcção
dos trabalhos arqueológicos ficou a cargo de José Bettencourt, açoriano da UNL. O arquipélago é rico
em vestígios de navios naufragados de vários séculos, já que era «um ponto de passagem no
regresso de todas as carreiras marítimas», diz João
Paulo Costa, director do CHAM. A riqueza aqui não se
mede em cifrões de fundos de investimento ou afins – é da cultura que se
faz turismo. Angra, por exemplo, tornou-se um «parque arqueológico subaquático
que é possível visitar», adianta André Teixeira, responsável pela área de
arqueologia do CHAM. As ‘visitas’ entenda-se, estão reservadas aos
turistas que saibam as bases de mergulho. Mas, acima de tudo, é
a defesa do património o que move o projecto PIAS: «Tem sido um trabalho de
formiga», explica Teixeira. Na próxima fase do projecto «o peso do trabalho é
fazer a monitorização de todos os sítios, mas o objectivo principal é o estudo
de Angra D». O sítio revelou muitas
peças, que deverão ser trazidas à superfície para análise e conservação. «Há uma probabilidade de as
peças se estarem a degradar por acção do taredo [um molusco que ataca a madeira
dos navios] e é preciso salvá-las». Mas como é um dia na
vida de um arqueólogo subaquático? De um modo muito resumido, pode dizer-se que
a alvorada se faz cedo e normalmente os trabalhos dividem-se em dois turnos,
distribuídos por equipas de dois ou quatro mergulhadores. Nas profundezas,
faz-se o trabalho de campo. «Levamos fitas métricas, tomamos as medidas do
barco, posicionamos todos os vestígios», descreve
Inês Coelho, uma das arqueólogas-mergulhadoras da equipa. Faz-se o levantamento
das peças, o respectivo inventário e o registo fotográfico. À superfície, no
final do dia, preenchem-se as fichas de mergulho, com «todo o levantamento de peças e
do que apareceu no local, retratando o trabalho do dia»,
que é fixado no papel. Finda a campanha, que
pode durar vários meses, cobre-se o achado submarino com uma manta de geotêxtil
(um material especial que permite salvaguardar o acervo dos caprichos das
correntes marítimas), sobreposta por sacos de areia. No caso de Angra D,
prevê-se que os trabalhos durem mais quatro anos. Mas o CHAM está noutras
frentes em terra, na Síria e em Marrocos. O financiamento não permite produções
à Indiana Jones, mas garante ao grupo da UNL – a «única universidade do país a
ter uma especialidade em arqueologia subaquática»,
assegura João Paulo Costa – uma continuidade algo inédita na arqueologia
portuguesa.
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=172647&dossier=Universidades PAULO ALEXANDRE MONTEIRO *** ******* This message contains information which may be confidential and privileged. Unless you are the addressee (or authorized to receive for the addressee), you may not use, copy or disclose to anyone the message or any information contained in the message. If you have received the message in error, please advise the sender by reply e-mail and delete the message. |
Mensagem anterior por data: [Archport] Saber História | Próxima mensagem por data: [Archport] Formação: IMAGEM E PATRIMÓNIO DESENHO ARQUEOLÓGICO, DE INTERPRETAÇÃO E DE DIVULGAÇÃO - Campo Arqueológico de Mértola |
Mensagem anterior por assunto: [Archport] Universidades e empresas: vias e razões para uma relação desejável | Próxima mensagem por assunto: [Archport] Un modèle SIG pour l'analyse socio-économique des paysages néolithiques. |