[Archport] Transferência de conflituosidades.

[Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>]

Transferência de conflituosidades.

 

Estou a assistir a mais um debate neste fórum, com raiz na legitimidade de opinião que uns reconhecem aos outros, quem tem o direito de falar e porquê, quem fala mais alto e mais acertadamente, o que é ou não uma asneira, o que é um opinador, etc.

E eu devo ter sido daqueles a quem, por razões incompreensíveis, quando abordava a questão do modelo de sustentabilidade da arqueologia portuguesa, por exemplo, que começa agora a ruir, fui ‘’mandado calar’’. E cá estou, talvez a opinar, na minha opinião ninguém aqui faz nada senão opinar, mesmo quando aparentemente divulga ‘’matéria científica’’ que é também oipinião.

Bem, mas o debate em curso despoletado por uma divulgação de Alexandre Monteiro, que surgia integrada no contexto do súbito anúncio da extinção do Museu da Marinha, acerca do ‘’afundamento’’ de barcos e do valor em referência, surtiu efeito. Acabou por se tornar na válvula de escape para que o assunto dos museus, que parece já um pirilampo, ora apaga, ora acende, sofresse novo apagão.

Não é de certeza o caso, mas até parece que estes inusitados e intrincados conflitos são agendados em instâncias calculistas.

E não é de certeza o caso porque eu já tive a diligência de interpelar Pedro Cereja pessoalmente, para lhe perguntar se aquilo se dirigia a mim. E acabei por verificar simplesmente, vejam só, que Pedro Cereja é porventura mais um revoltado contra a falta de senso das instâncias do poder político, em minha opinião com toda a razão, de acordo com o que me explicou. E o projecto e ideia dele e de outros de afundarem navios até é capaz de não ser despropositado.

É óbvio que Pedro Cereja e os que com ele se manifestam poderiam explicar com mais detalhe as suas razões e não podem, se invocam um estatuto ‘’científico’’ e não de opinador, rejeitar o confronto dos seus argumentos com os dos outros, mesmo que já estejam a ver mais à frente e os achem tontos. E que Pedro Cereja se precipitou na expressão que usou. Eu não me queixo, porque o interpelei e, com toda a civilidade, me deu uma explicação.

Concluindo. Não estaremos a permitir que conflituosidades estruturais do sistema consigo próprio estejam a ser transferidas e distribuídas para melhor descarga para micro conflituosidades envolvendo as vítimas do ‘’conflito global’’?

E se passássemos à frente, para ver se não se apaga de novo a luz sobre o problema de fundo, para se reacender mais à frente, no lugar onde não está?

Percebem o que quero dizer, espero…

E não se falava mais no assunto, aguardando uma exposição detalhada das vantagens de afundar um navio. Eu já consegui muita documentação. Não é assim tão linear como parece, que sim ou que não.

Fazem-se as pazes?

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Manuel de Castro Nunes