[Archport] Identidade e autonomias no mundo romano ocidental

[José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>]

Identidade e autonomias no mundo romano ocidental

 

            Num momento em que, perante a avassaladora globalização, crescem as iniciativas locais e regionais tendentes a mostrar a identidade de um local e das suas tradições próprias, natural é que se tenha programado a realização de uma reunião científica cuja finalidade fosse a de mostrar como se haviam revelado a identidade e as autonomias no mundo romano ocidental.

            Organizado pelos professores António Sartori (da Università degli Studi di Milano) e Alfredo Valvo (da Università Cattolica del Sacro Cuore, da mesma cidade), esse convénio internacional decorreu, de 12 a 15 de Maio, p. p., em Gargnano, nas margens do Lago Garda, no Palácio Feltrinelli, residência de Mussolini nos últimos tempos do seu mandato e, hoje, pertença da Universidade de Milão, que aí realiza reuniões científicas e cursos. Tratou-se do 3º da série aí iniciada em Abril de 2005, sob o tema geral Iberia ? Italia ? Iberia, na medida em que a intenção é precisamente a de confrontar, em variados aspectos, o que foram as relações entre as duas penínsulas ao tempo dos Romanos e, neste caso, como se dera a aculturação.

            Ao todo, 27 comunicações: de 10 espanhóis, 17 italianos (uma com 2 autoras) e 1 português. E, pelo que à Ibéria diz respeito, foram abordados temas como: a identidade dos senadores hispanos; identidade e autonomias reflectidas nos monumentos epigráficos; a cura urbis (um tema de autonomia); a introdução das divindades romanas nos santuários ibéricos do Sudeste peninsular; senatus e magistratus nas comunidades indígenas hispanas; o papel dos arúspices; a identidade tartéssico-turdetana (uma invenção?); vestígios das elites coloniais no anfiteatro de Italica; o bilinguismo na numismática; os conflitos internos no Cristianismo hispano (séculos IV-V)?

            Os investigadores italianos mostraram, por seu turno, como é que, por exemplo, as comunidades locais ? designadamente as da zona setentrional (os Bergomenses, os Úmbrios, os de Vercelli, os de Tuficum,  os Insubres? ? tinham logrado manter-se.

            E a visita ao Museu Cívico de Riva del Garda proporcionou o contacto com estelas da Idade do Bronze de características muito semelhantes na decoração às da Península Ibérica; com magníficos exemplares da chamada «cultura campaniforme»; com epígrafes bilingues (um ?alfabeto rético?, por exemplo, muito parecido com os das estelas do Sudoeste peninsular...) ? que despertaram o mais vivo interesse e mostraram como, cada vez mais, a investigação não pode ser feita senão em equipa multidisciplinar e, na medida do possível, internacional ? para mui saudável e proveitoso confronto de identidades, mantendo a autonomia!

 

                                                           José d'Encarnação