Segundo Marcos Osório, coordenador do Gabinete de Arqueologia
da Câmara do Sabugal, as prospeções arqueológicas realizadas entre fevereiro
de 2009 e maio deste ano, no local onde vai ser construída uma moradia,
revelaram um sítio arqueológico "muito importante na região".
Segundo o responsável, a intervenção incidiu num terreno
de 1 200 metros quadrados mas "ela corresponderá, muito provavelmente, a um décimo
da área total do povoado", admitindo que "há muito mais para ser escavado naquele sítio".
"Sendo um povoado tão grande e tão rico em estruturas
e materiais, é, por si só, já um sítio arqueológico muito importante na
região",
admitiu.
O arqueólogo disse à Lusa que "não era conhecido na Beira Interior
um povoado de fossas destas dimensões, com fosso defensivo" e que "os paralelos mais
próximos conhecidos encontram-se no Alentejo e na região de Madrid (Espanha)".
Osório contou que, inicialmente, os trabalhos
arqueológicos detetaram "uma variedade de manchas de terra escura no meio do
saibro, de tendência circular ou criando grandes alinhamentos, associadas a
empedrados".
"Estas manchas de terra escura correspondiam aos
entulhos e enchimentos que preenchiam uma diversidade muito complexa de
fossas, valas e buracos abertos na rocha granítica", disse.
Acrescentou que depois de retirado o recheio das cavidades,
foram identificadas 14 distintas estruturas negativas (construções abertas
pelo homem no substrato rochoso), algumas com dois metros de diâmetro, outras
com seis, e um fosso com cerca de 25 metros de extensão, por cerca de três
metros de largura.
"Estas estruturas negativas são restos de um povoado
e de uma comunidade que ali habitou, da qual sobram apenas estes vestígios de
habitat, porque os outros, como a madeira e o colmo, degradaram-se com o
passar dos anos", explicou.
O fosso "seria uma barreira defensiva", as cavidades maiores
poderiam ser "fundos
de cabanas" e as mais pequenas, buracos onde assentavam postes que
suportavam as coberturas das cabanas.
As restantes fossas foram interpretadas como prováveis
lareiras, lixeiras e silos, adiantando que também foram descobertos os restos
de um forno de combustão feito de barro e lajes de granito.
No interior das cavidades foram recolhidos muitos
materiais, como pontas de seta e facas talhadas em pedra lascada, machados,
escopros e goivas de pedra polida, contas e pendentes de colares em pedra
exótica, mós de vaivém, pesos de tear de barro e cerâmica doméstica.
"Foram encontrados mais de seis milhares de
fragmentos de cerâmica", disse o arqueólogo.
Marcos Osório disse ainda que o povoado "recua ao III Milénio
antes de Cristo., numa altura em que o homem ainda não utilizava o metal, por
isso, todos os instrumentos são feitos em pedra".
(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo
Ortográfico)
Lusa
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