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Re: [Archport] Para que serve uma "Citânia"

To :   António Carlos Silva <acs.mtpedras@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Para que serve uma "Citânia"
From :   Francisco Lemos <sandelemos@gmail.com>
Date :   Tue, 6 Jul 2010 17:08:00 +0100

Interessante informação. 

A Citânia de Briteiros integrava a constelação de sítios emblemáticos que representavam as raízes profundas de Portugal. O Estado Novo investiu através da Direcção Geral dos Monumentos Nacionais dinheiro (sobretudo nas décadas de 40, 50 e 60) que permitiu construir uma fisionomia para cada um deles. Aliás este aspecto está assinalado no novo Roteiro da Citânia (que já vai para segunda edição, pois esgotaram-se em três anos cinco mil exemplares). 

De qualquer modo no caso da Citânia, onde tenho trabalhado nestes últimos anos em conjunto com Gonçalo Cruz, as escavações e restauros do Coronel Mário Cardoso não alteraram de forma substancial a estrutura do sítio, porque o local tinha sido adquirido por Francisco Martins Sarmento no século XIX. Deste modo o grau de destruição que afectou outros castros foi nulo, pelo que Mário Cardozo, de acordo com um plano que ele enuncia, se limitou a por a descoberto as ruas, as muralhas da zona norte e alguns núcleos habitacionais fora da acrópole. Ou seja retirou os estratos tardios de meados do século I. E restaurou as muralhas, mas com mão de obra local e de acordo com as técnicas tradicionais, de modo que a maneira como ele as escavou e a solidez do restauro constituem um tema de apontamento nas visitas guiadas. 
Ou seja o impacte foi mínimo. Seja como for a Citânia de Briteiros tem cerca de 22 hectares e em conjunto Francisco Martins e Mário Cardoso apenas escavaram 7h. E dentro dessa área de 7 hectares não desceram, em geral, abaixo dos pavimentos lajeados, de modo que Briteiros é talvez o mais precioso e extenso arquivo de informação do Noroeste Peninsular acerca da II Idade do Ferro. 

O Gonçalo Cruz, arqueólogo da SMS, e conhecedor como ninguém da Citânia, poderá acrescentar muito mais do que eu, corrigindo eventuais lapsos.

O estudo de Briteiros, desde 2005, tem sido feito com os cuidados que merece uma respeitável e formosa senhora. De uma forma suave, utilizando muito raramente o pico pequeno. Com frequência o colherim, os utensílios cirúrgicos de limpeza e os pincéis. Na verdade em cada núcleo habitacional detectam-se níveis de ocupação por vez com milímetros de espessura. 

Voltando ao tema inicial. Talvez já exista uma dissertação de mestrado ou doutoramento sobre o assunto (conheço apenas diversos artigos). Caso o tema nunca tenha sido analisado em profundidade seria interessante estudar o interface entre os projectos de escavação e restauro do Estado Novo com a Imprensa e as consequentes mitologias narrativas. Ou mesmo uma análise comparativa antes e depois do 25 de Abril.

FSL 


 


2010/7/5 António Carlos Silva <acs.mtpedras@gmail.com>
http://tempodascerejas.blogspot.com/2010/07/joao-cesar-das-neves-ou.html

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António Carlos Silva
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