Descoberto
importante povoado do Calcolítico na Aldeia da Ponte
(Sabugal) Escavações
arqueológicas realizadas entre Fevereiro de 2009 e Maio de 2010 no Alto de
Santa Bárbara, em Aldeia da Ponte, no concelho do Sabugal, revelaram a
existência de um extenso povoado do período do Calcolítico. Os
trabalhos foram efectuados pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara
Municipal do Sabugal, pelos arqueólogos Marcos Osório e Paulo Pernadas,
numa área de 1.200 m2, para onde está projectada a construção de uma
moradia. Segundo o arqueólogo, numa primeira fase foram abertas 5
sondagens que confirmaram ?que toda a área estava cheia de estruturas
arqueológicas?. Então, com recurso a meios mecânicos, foi retirada a
camada superficial em toda a área objecto da construção da moradia para
colocar à vista a totalidade das estruturas arqueológicas, tendo sido
encontradas manchas de terra escura, de tendência circular, associadas a
alguns empedrados, no meio do saibro. ?As manchas de terra escura
correspondiam aos entulhos e enchimentos que preenchiam uma diversidade
muito complexa de fossas, valas e buracos abertos na rocha granítica.
Depois de retirado o recheio destas cavidades, foram identificadas 14
estruturas negativas (construções abertas pelo homem na rocha), algumas
com 2 metros de diâmetro, outras com 6 metros, e inclusive um enorme fosso
com cerca de 25 metros de extensão, por cerca de 3 metros de largura?,
contou Marcos Osório ao Jornal A Guarda. Acrescentou que as estruturas
?também variavam na profundidade?, entre os 50 centímetros e os 1,5
metros. ?Estas estruturas negativas são restos de um povoado e de uma
comunidade que ali habitou, da qual sobram apenas estes vestígios de
habitat, porque os outros, como a madeira e o colmo, degradaram-se com o
passar dos anos?, explicou. Admitiu que as cavidades maiores ?serão
fundos de cabanas? e as mais pequenas seriam buracos onde assentavam
postes que suportavam as coberturas das cabanas, outras corresponderiam a
lareiras, lixeiras e silos. Quanto ao ?fosso, seria uma barreira
defensiva?, referiu. No interior das cavidades foram recolhidos muitos
materiais, como pontas de seta e facas talhadas em pedra, machados,
escopros e goivas de pedra polida, contas e pendentes de colares em pedra
exótica, mós de vaivém (para moer os cereais), percutores e bigornas (para
fabrico de instrumentos de pedra lascada), pesos de tear feitos em
cerâmica ou em seixos do rio, e a cerâmica doméstica. ?Foram encontrados
mais de 6 milhares de fragmentos de cerâmica. E, tratando-se este período
do Calcolítico, de uma era em que o homem teve algumas preocupações
decorativas na cerâmica, foram encontrados alguns fragmentos muito
interessantes, com uma multiplicidade de decorações, com mais de 20
soluções decorativas: entre motivos penteados, incisos, impressos e
aplicações plásticas mamilares ou bolinhas de barro aplicadas no exterior
dos potes. O responsável referiu que o povoado ?recua ao III Milénio a.C.,
numa altura em que o homem ainda não utilizava o metal, por isso, todos os
instrumentos são feitos em pedra?. Marcos Osório adiantou que a
intervenção efectuada ?restringiu-se à zona onde vai ser construída a
moradia, mas ela corresponderá, muito provavelmente, a um décimo da área
total do povoado?, assumindo que ?há muito mais para ser escavado naquele
sítio?. ?Sendo um povoado tão grande e tão rico em estruturas e materiais,
é, por si só, já um sítio arqueológico muito importante na região?,
declarou. Indicou que ?não era conhecido na Beira Interior um povoado
destas dimensões, composto exclusivamente de estruturas negativas,
nomeadamente com um grande fosso defensivo? e que ?os paralelos mais
próximos conhecidos encontram-se no Alentejo e na região de Madrid
(Espanha)?. Agora que os trabalhos arqueológicos estão concluídos, o
Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal do Sabugal vai enviar um
parecer ao IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico) que é favorável à construção da moradia. ?Como foi tudo
escavado e estudado e o que sobrou foram apenas estas cavidades abertas no
saibro, de difícil conservação, não se verificam quaisquer impedimentos
para a construção da casa?, explicou. No entanto, ressalva que,
futuramente, qualquer pedido de construção para aquela área ficará
dependente de um processo idêntico àquele que agora foi
realizado.
In
?Jornal A guarda?, Edição de 1-07-2010
(http://www.jornalaguarda.com/index.asp?idEdicao=358&id=19614&idSeccao=4887&Action=""> |