Para que fique registada, transcreve-se a notícia de hoje do Correio da Manhã. Será útil futuramente. Tal como agora o são os recortes que levavam outra ministra a fazer orelhas moucas aos protestos contra a extinção do Museu de Arte Popular e a louvar a criação de um novo Museu da Lúngua...
Ministra ignora conselhoPor: Ana Maria Ribeiro
Apesar da recomendação da Assembleia da República (AR) – que tinha apelado à suspensão da transferência do Museu da Arqueologia para a Cordoaria Nacional –, a ministra da Cultura anunciou ontem que o espólio do museu vai mesmo sair de Belém, onde se encontra actualmente, e onde deverá ser substituído por um novo pólo museológico, dedicado aos Descobrimentos Portugueses.
"As recomendações da AR são sempre muito úteis, mas quem governa é o Governo", disse Gabriela Canavilhas, pouco depois da assinatura do protocolo que permite todas as mudanças e que envolve, além do Ministério da Cultura, os ministérios da Defesa e das Finanças.
As verbas envolvidas são, para já, tabu, mas ficou a saber-se quem vai pagar a transferência e a reestruturação do Museu da Marinha.
"A Cultura paga os custos dos projectos, a Defesa paga a manutenção e actividade dos núcleos museológicos", explicou Santos Silva, ministro da Defesa Nacional.
Para já, foi nomeada uma Comissão, que começa a trabalhar em Setembro próximo e que terá o prazo de 180 dias para elaborar os projectos na sua especificidade. Deverá, inclusivamente, "propor soluções de auto-financiamento" para os ditos museus, adiantou Augusto Santos Silva. Ao que Gabriela Canavilhas acrescentou que "só então serão conhecidas as verbas envolvidas num processo necessariamente demorado". "As obras nunca deverão estar concluídas antes de 2012", afirmou."
P.S.:
Num momento de grave crise económica, os sorrisos dos dois governantes são dispensáveis e de mau gosto. As afirmações da Ministra da Cultura inculcam sobranceria e desrespeito pela Assembleia da República. Talvez até ignorância de uma das funções primordiais da AR: a de fiscalização política. E, mais grave, os dois ministérios propõe-se aplicar em projectos muito discutíveis os dinheiros dos contribuintes, num contexto de austeridade, em que todos os portugueses já pagam mais impostos. De resto os projectos ainda nem sequer foram elaborados pelo se desconhece o seu custo. Quanto ao auto-financiamento é um novo conceito económico introduzido pelo Ministro da Defesa. Vão os museus fabricar papel-moeda?
Entretanto o Primeiro Ministro vai inaugurar o Museu do Côa cuja manutenção vai absorver muitas verbas (consultar o comunicado da Associação dos Amigos do Parque Arqueológico do Côa).
Por acaso os dois ministros sorridentes sabem que as taxas de juro dos empréstimos a Portugal ainda hoje aumentaram (consultar o Público, secção de Economia e jornais da especialidade)?
Sabem que se estão a preparar na UE os mecanismos para que a eventual (mais que possível) bancarrota de países como a Grécia, Portugal e Espanha se processe de maneira a não ameaçar a estabilidade do euro nem penalizar os países saudáveis. Ou seja que os povos desses Estados contribuam de forma muito significativa para resolver a insolvência (através de mais impostos e cortes nos salários e prestações sociais) (consultar a edição internacional do Der Spiegel)?
Por favor, o o mínimo que se pode pedir a estes ministros, seus colaboradores e individualidades que integram a tal comissão é que desçam à terra chã portuguesa.
Francisco Sande Lemos
