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[Archport] De Viis Maris. Notícia de fonte documental do séc. XII

Subject :   [Archport] De Viis Maris. Notícia de fonte documental do séc. XII
From :   Luis arkeotavira <luisfraga@arkeotavira.com>
Date :   Wed, 08 Dec 2010 11:23:46 +0000

Notícia de uma fonte medieval quase inédita e pouco conhecida, de grande valor potencial para o conhecimento da geografia histórica peninsular e da história da navegação, na 2ª metade do séc. XII.

 Patrick Gautier Dalché publicou em 2005 uma compilação de três textos medievais inéditos, descobertos em França em duas cópias manuscritas do séc. XV. (Du Yorkshire a L'Inde. Une «Géographie» urbaine et maritime de la fin du XIIe siècle.).

O original desaparecido é datado de 1191-3 e atribuído a Roger de Howden, autor bem conhecido da historiografia peninsular pela sua Chronica, que narra uma viagem de cruzados ingleses integrados na III Cruzada e que inclui numerosos detalhes geográficos sobre as costas ibéricas, hoje portuguesas e espanholas.

Entre os três texto publicados por Dalché destaca-se um: De Viis Maris, de título completo "De viis maris et de cognitione terrarum et montium et de periculis diversis in eisdem", que descreve a geografia marítima e alguma corografia terrestre de uma viagem entre Inglaterra e a Terra Santa, com um excurso geográfico que alcança a Índia.

A obra é particularmente relevante quanto à descrição da costa atlântica e, sobretudo, da Península Ibérica. O texto retoma quase literalmente largas partes do conteúdo geográfico da Chronica mas acrescenta também inovações muito importantes relativamente: à identificação e condições de portos e acidentes costeiros; à sistematização das distâncias entre eles; e aos preceitos de navegação necessários para entrar em alguns deles ou para percorrer certas etapas.

Neste sentido contribui com informação inédita e de grande relevância histórico-geográfica sobre as costas do Golfo Cantábrico, do Atlântico Ocidental e do Golfo de Cádis até Huelva.

Tomei a liberdade de organizar uma versão digital do texto latino relativo à Península Ibérica  e de fazer uma tradução preliminar comparada da parte correspondente à costa entre a Foz do Tejo e o Estreito de Gibraltar.

Toda a informação bibliográfica relevante e respectivos links estão no meu blog http://imprompto.blogspot.com/2010/12/de-viis-maris.html.

Repito aqui uma epítome das inovações da DE VIIS MARIS  relativamente à costa entre o Tejo e o Guadiana, que estou seguro que serão do interesse dos estudiosos da região:

·     Medição sistemática original das distâncias entre estações portuárias ou entre as cidades e os respectivos portos, em milhas inglesas.

·     Cuidados a ter na entrada da foz do Sado (PORTUS DE ALKAZ).

·     Condições do porto de abrigo de Sines segundo os ventos.

·     1ª referência à Ribeira da Junqueira (IUNCKERE) (como se sabe, tradicionalmente associada ao culto de S. Torpes).

·     1ª referência a uma antiga povoação muçulmana perto dessa ribeira, também designada Junqueira.

·     1ª referência ao Castelo de MUNTAGA a 4 milhas a Sul de Sines (Cerro da Águia?).

·     1ª referência à Ilha de Pessegueiro (PERSEKERE).

·     Contingências da entrada no porto do Mira (Vila Nova de Milfontes).

·     1ª referência em fontes cristãs a Arrifana (ARISFANE), como nome das fontes de água doce aí existentes.

·     Identificação de três morabitos abobadados (MAMMERIA) em Arrifana, classificados como "meskitas", em estado de abandono em 1191.

·     1ª referência conhecida a Aljezur (ALINZUR), como castelo nas proximidades de Arrifana.

·     Referência à ausência de porto ou ancoradouro no Cabo de São Vicente.

·     Referência à existência no Cabo de "pedras de Damasco" usadas como medicamento contra a diarreia.

·     Muitos poços de água doce na zona do porto de Sagres.

·     1ª designação explicita do porto de Silves como rio chamado Portimão (PORTIMUNT) (o que esclarece e põe fim a uma polémica secular sobre o assunto)

·     1ª Referência às duas barras do porto de Faro e às limitações do acesso de embarcações à cidade, segundo as marés.

·     Porto de Faro localizado a 3 milhas da cidade.

·     Atribuição do milagre de Santa Maria de Faro ao tempo de Carlos Magno.

·     Enumeração dos bens alimentares respeitantes ao dito milagre: cereais, vinho, azeite, carne e peixe.

·     O porto de Tavira é classificado como bom.

·     Mértola designada por cidade grande.

·     Cacela classificada como bom porto e integrada no porto do Guadiana (antigo delta).

·     A foz do Guadiana é descrita como porto largo e profundo.


Cumprimentos a todos

Luís Fraga da Silva

Campo Arqueológico de Tavira


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