O que se está a passar com a questão do
TGV é efectivamente muito grave e sobre diversos aspectos. Um deles é a questão «...O aumento do preço do contrato, segundo a
resolução do conselho de ministros, tem a ver também com a transferência
de risco arqueológico do Estado para a concessionária. Ou seja,
caso a Elos seja obrigada a mudar o traçado por questões que tenham a ver com a
descoberta de qualquer património histórico ou arqueológico, os custos passarão
a ser suportados pela concessionária e não pelo Estado, conforme estava no
anterior contrato...». Essa transferência irá custar ao erário
público a pequena quantia de 195 milhões de euros. Será que chegará para
EIA, alterações ao projecto, acompanhamento, escavações de emergência [e aqui
se deveria impor a obrigatoriedade da prestação de serviços incluir, escavação
integral da área afectada e periféricas de interesse, análises laboratoriais,
datações absolutas, tratamento de materiais e publicação obrigatória
de resultados (e aqui o papel do IGESPAR é importante)], protecções a locais de
interesse, com ou não continuidade de escavações e com ou sem criação de
roteiros...? A questão é que o ESTADO (e aqui o estado são todos os partidos
com assento parlamentar e com voto na matéria, e como tal responsáveis), não
pode se imiscuir das suas responsabilidades, como promotor de obra, fase ao seu
dever de velar pelo seu Património Histórico e Arqueológico e passar essa
responsabilidade para terceiros. E se o queria fazer não era esbanjar dinheiro
público e injectá-lo num qualquer empreiteiro, mas sim para salvaguardar
transparência, bom uso dos dinheiros públicos, deveria sim transferi-lo para um
órgão de Estado qual o IGESPAR, mais competente, isento e sem dúvida com
melhores conhecimentos de âmbito arqueológico e ao mesmo tempo um órgão
regulador da actividade empresarial arqueológica e da verdadeira ciência
arqueológica. Sabemos que aos empreiteiros a proposta mais barata é a que terá
aceitação contratual, mas isso pode não ser sinónimo de qualidade técnica da
equipa arqueológica envolvida. E digo-vos, porque se passou à minha frente. Vi
jovens arqueólogos acompanharem abertura de valas, não verem silos e alguém
chamar o IPA devido a esse facto. De quem seria a culpa? Dos jovens (e aqui
saliento jovens com Mestrado ou Doutoramento, não faz deles profissionais com
amplos conhecimentos e fundamentalmente no terreno em que estão envolvidos amplos
períodos cronológicos para identificar e ter plena consciência de suas
importâncias), ou da empresa que os contratou? Será das Universidades e
Politécnicos, do Bolonha? Por isso digo que será necessário o IGESPAR (ou outro
órgão) controlar a qualidade das empresas de arqueologia. Em causa está a
ciência arqueológica, uma área que algum sector económico a vê como um
verdadeiro empecilho (mas assim não é, o arqueólogo vela por aquilo que outros
tão avidamente tentam destruir, ocultar ou simplesmente arrecadar como se fosse
algo seu, pois não importa o processo de aquisição). Lembremos Foz Côa, ou a
recente noticia numa revista de Domingo do Correio da Manhã que ao falar da
Barragem de Castelo do Bode referia que o nome se devia ao facto de um
engenheiro ter visto numa pedra o que lhe pareceu um castelo e um bode e como
tal o nome da Barragem do Castelo do Bode. E a isto se associou a opinião
jornalística que se fosse hoje o problema que daí adviria. O desenvolvimento
económico faz-se com a participação de todos e inquestionavelmente com o campo
arqueológico. Não é, sem dúvida o injectar de 195 milhões de euros numas
empresas quaisqueres que o Património Arqueológico está salvaguardado. É
necessária transparência quando se mexe no erário público e injectá-lo em empresas
privadas não o é decerto. E aqui podemos estar perante um golpe ideológico por parte do Governo.
ESSES 195 MILHÕES DE EUROS A MAIS SÃO CULPA DOS ARQUEÓLOGOS, esses parasitas
(isto estou dizendo eu porque qualquer semelhança com a realidade é pura ficção),
que estão a limitar o desenvolvimento económico, o bom andamento do sector
empresarial em Portugal. A RESPONSABILIDADE é deles e só deles por esse
montante a mais. Esse perigo de transparência para a opinião pública é de
salientar. O facto é que assim não é. A ciência arqueológica, paleontológica e
outras são tão respeitáveis e imprescindíveis ao tecido económico quanto, a
arquitectura a engenharia, a extracção mineira, de mármores, calcários… O
ESTADO, não se pode isentar e delegar a estranhos uma tarefa que a ele lhe diz
inteiramente respeito, segundo a Lei de Bases do Património Arqueológico. Outro
aspecto é o se será necessário tanto investimento, ou se ele irá chegar. Uma
outra questão é o factor de gerência de dinheiros públicos em mãos privadas.
Não se dá aquilo que não é nosso. E ao demais então será necessário que todas
as operações envolvidas sejam desde logo colocadas sob o domínio público e
particularmente da classe arqueológica e do povo português. Não podemos
esquecer que há bem pouco tempo desapareceram sem deixar rasto alguns milhões
de euros do QREN e à algum tempo atrás o governo perdeu na bolsa alguns milhões
de euros da segurança social. Além do mais e desculpem-me os arqueólogos. Estando como estamos numa
situação precária a nível económico, com forte índice de desemprego, com fome e
miséria crescente, quando nos esfolam até ao tutano, vamos fazer um TGV para
quê, só se for para injectar dinheiro em empresas à custa dos Arqueólogos. Perante toda esta falta de sentido de estado e responsabilidade e para que
não sejam os arqueólogos uma vez mais a pagarem a factura por algo de que não
são responsáveis, mas sim porque é um dever de ESTADO de qualquer governo dito
democrático assumir a sua responsabilidade perante a defesa do seu Património,
apelamos ao mais alto dignatário da Nação para ter em verdadeira atenção esta
situação e em parceria com o IGESPAR, SINDICATO, ou ORDEM dos arqueólogos
possamos em conjunto velar por um Portugal, mais digno, coerente e responsável.
Prezados colegas que raio de profissão teríamos nós de arranjar. Bem melhor
fosse termos sido médicos ou um presidente de um qualquer banco deste pais,
para não falar em jogador de futebol, decerto nos reformaríamos antecipadamente
e em vez de estarmos para aqui a lutar, a vibrar de emoção e a ganhar cabelos
brancos estaríamos numa qualquer república das bananas a desfrutar de um
qualquer ambiente paradisíaco, mas não me tomem a mal (não à
Berluscarniciniii). Mas foi isto que escolhemos, é por isto que lutamos e
vive-mos e não importa se existe ou não um código deontológico para os
arqueólogos porque aqueles que abraçam e amam o que fazem dele não necessitam.
Eles são os pilares da salvaguarda do Património Arqueológico Português e não são
uns quaisquer vendilhões do templo. Existe muito por fazer em Portugal em
termos de regulamentação, de apoio à classe arqueológica, de acção penal e
concreta no terreno. Álvaro Batista |
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