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Re: [Archport] O voluntariado

To :   Andre Mano <andre.s.mano@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] O voluntariado
From :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Date :   Mon, 31 Jan 2011 18:19:02 +0000

Boa tarde André

Essas dúvidas são pertinentes e o que eu penso, sobre este assunto, em concreto.

Há 2 formas de lidar este naufrágio (fundo, logo perigoso e arriscado de trabalhar): 

a) desta forma, em que uma equipa local, ligeira, coordena o projecto e enquadra voluntários altamente especializados;


b) contratando uma equipa profissional que o faça, totalmente paga pelo projecto.


A opção b) teria o melhor de todos os mundos: os profissionais teriam o retorno financeiro que o seu investimento em formação técnica e académica merece, os coordenadores do projecto poderiam exigir um trabalho (e horários e riscos assumidos) com a qualidade profissional devida.

Quanto à opção a), ela também apresenta vantagens. em primeiro lugar, os custos com a mão de obra serão infinitesimamente menores  - por exemplo, a formação mínima em mergulho que eles exigem custou-me 600 euros de base mais 40 por mergulho de tirocínio, no total de 6 mergulhos; o meu equipamento pessoal de mergulho para ir a estas profundidades, entre reguladores, fato seco asa e computador de mergulho, deve andar pelo 5.000 euros; a minha formação académica e a experiência que tenho em contexto subaquáticos também se fariam pagar... se fosse a sério, não aceitaria trabalhar por... hummm, ao dia, com avião, alimentação e tecto pago por eles... não menos de 250/300 euros por dia, e seria barato). depois, porque permite a quem é altamente especializado - e tem outro emprego ou meio de vida que o sustente - gosta de arqueologia e de naufrágios, gozar do privilégio de ter umas férias pagas a fazer mergulho em Chipre num naufrágio antiquissimo.

Claro que há também uma opção c)... angariar "voluntários" ou formandos e pedir-lhes o dinheiro da estadia ou uma propina qualquer para terem o privilégio de escavar uma estação arqueológica. isto acontece aqui, por exemplo, com o Castanheiro do Vento (225 €) ou com o projecto da ADMAT ($1550 por semana, excluindo os voos e transfers). não sei se sabes, mas é assim que a maior parte da arqueologia em Israel é financiada.

http://sigarra.up.pt/flup/cursos_geral.FormView?P_CUR_SIGLA=CLEA

http://www.admat.org.uk/tw5.htm






Em 31 de janeiro de 2011 16:47, Andre Mano <andre.s.mano@gmail.com> escreveu:
Boa tarde a todos,

Ao ler o anúncio divulgado pelo nosso colega Alexandre, não posso deixar de me interrogar - e acho que todos nós devemos fazê-lo, sobre os limites e legitimidade do "voluntariado".

Esta coisa do voluntariado, e do Ano Internacional do Voluntariado, está, aparentemente, a ser aproveitada para explorar mão de obra altamente especializada. É engraçado como não vejo ninguém a pedir (e ainda bem) canalizadores, pedreiros, ou agricultores para trabalhar de graça. Aparentemente o voluntariado é tanto mais fixe quanto mais qualificado é o trabalhador.

"computer specialists"; "surveyors and mapping specialists"; "people with experience in field projects"; "maritime archaeologists" 

Não me parece que isto se enquadre no grupo "estudantes" em fase de aprendizagem... São, sim, profissões de um grau de especialização muito elevado mas que por algum paradoxo que não consigo entender, é suposto trabalharem em troca de pão e tecto!

Enfim, foi mais um desabafo... Isto que querer circo sem ter de pagar aos palhaços...

Cumprimentos a todos,

André Mano


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