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[Archport] As Casas da Zona B de Conimbriga

To :   "archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] As Casas da Zona B de Conimbriga
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Wed, 23 Feb 2011 19:43:32 -0000

As Casas da Zona B de Conimbriga

 

            Em mais uma edição (a segunda oficialmente inscrita) do CEAUCP – Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto (2010), encontra-se em distribuição a obra As Casas da Zona B de Conimbriga, da autoria de Jorge de Alarcão, com ilustrações de José Luís Madeira, que também se encarregou do design gráfico do (diga-se desde já) excelentemente apresentado volume. 64 páginas, ilustradas com 26 estampas e seguidas de dez folhas com 53 fotos a preto e branco. ISBN: 978-989-95954-1-5.

            A designação «Zona B» vem na planta das ruínas publicada pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentais Nacionais [DGEMN], em 1948, compreendendo duas casas, a o mosaico das suásticas e a dos esqueletos, assim como as chamadas Termas da Muralha. Toda a zona, portanto, que fica à mão esquerda de quem entra na cidade, deixando à sua direita a conhecida Casa dos Repuxos.

Escavadas essas duas casas por Vergílio Correia entre 1939 e 1941 (o que, no final, viria a permitir um levantamento topográfico, mas não deu origem a nenhum relatório), aí foram efectuados restauros pela DGEMN entre 1945 e 1948. Jorge de Alarcão teve, pois, ensejo de nessa área retomar os trabalhos de escavação sistemática, de 1963 a 1972 (a escavação da casa dos esqueletos decorreu, por exemplo, entre 1962 e 1964, tendo sido alvo de intervenções pontuais de esclarecimento até 1968), concluindo a escavação das termas, só parcialmente descobertas por Vergílio Correia. O presente volume assume-se, pois, de certo modo, como o circunstanciado relatório desses trabalhos.

            Está ainda por estudar o espólio cerâmico exumado e, por conseguinte, o Autor procura interpretar a estruturação espacial que detectou, desde as tabernae que identificou ao longo da via de acesso à porta da muralha (p. 21-27), até à análise miúda de cada uma das casas, no sentido de se perceber como os seus vários espaços se articulavam entre si. São apresentadas plantas e cortes estratigráficos. Recorde-se que Jorge de Alarcão escreveu, em 1985, uma Introdução ao Estudo da Casa Romana, tema que sempre muito lhe agradou; e aqui, mediante a preciosa ajuda de José Luís Madeira, que apresentou bonitas reconstituições (algumas delas aguareladas – vejam-se, nomeadamente, as que têm os números 11, 21 e 24), pôde explicitar a descrição de dois casos concretos e, inclusive, descobrir como era feito o abastecimento de água não só a essas casas como também às termas, interpretando como «aqueduto», digamos assim, uma estrutura até agora de obscura funcionalidade (p. 42).

Mais: pôde concluir-se que estamos perante um «projecto urbanístico da época dos Flávios», pois que «tabernae e casa do mosaico das suásticas poderiam ter sido construídas na imediata sequência da edificação do fórum flaviano» (p. 39). Já as Termas da Muralha – que estão a ser alvo de estudo aprofundado por parte de M. Pilar Reis – «poderão ter sido edificadas antes da demolição das Termas de Augusto, para que a população não ficasse privada de edifício tão necessário», enquanto se erguiam as termas de Trajano, cujo monumental projecto «deixaria prever um longo prazo de construção» (p. 39).

E se, na Introdução (p. 7-19), o Autor traçou breve e exacta panorâmica do que foi a existência da cidade romana de Conimbriga, importa frisar que os indícios ora identificados apontam para que a destruição das tabernae e a construção da muralha hajam ocorrido «em período pré-constantiniano, eventualmente no tempo de Constâncio Cloro, tempo em que se terá edificado a muralha tardo-romana da vizinha cidade de Aeminium», mais concretamente por volta do ano 305 (p. 22-23). Este é um dado que se me afigura assaz interessante, pois que, desta sorte, se releva a atenção dada por este imperador à Lusitânia: a civitas Aeminiensis presta-lhe homenagem, salientando, numa epígrafe (CIL II 5239), que é o seu dilectus princeps, nado para conseguir o «aumento da República»; e identificámos como igualmente dedicada a este imperador uma das inscrições oficiais de Eburobrittium (a publicar no volume de 2010 da revista Conimbriga).

Uma obra, por conseguinte, em que ao rigor do arqueólogo se alia a perspicácia do historiador e a delicadeza do esteta – é um livro também bonito de folhear!

 

                                                                                            José d’Encarnação

 


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