Sepulturas
no Corvo e na Terceira não vão reescrever a história
Açoriano Oriental,
Regional | 2011-03-12 12:28 A história dos Açores não está em risco de ser
reescrita, defende o diretor regional de Cultura, para quem as alegadas
sepulturas escavadas na rocha encontradas no Corvo e Terceira são mais recentes
do que datou um arqueólogo. “Não é muito fácil aceitar
essas declarações, elas podem ser feitas, mas é preciso prová-las”,
afirmou Jorge Bruno, questionando os argumentos do arqueólogo Nuno Ribeiro para
defender uma ocupação humana do arquipélago há 2.000 anos. O diretor regional de Cultura
considerou, em declarações à Lusa, que Nuno Ribeiro levantou “questões
muito pertinentes”, mas frisou que é “fundamental uma validação
científica rigorosa” daquilo que defende. Nuno Ribeiro, presidente da
Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), defendeu há cerca de
uma semana que os hipogeus (estruturas escavadas na rocha usadas no
Mediterrâneo como sepulturas) descobertos no Corvo e na Terceira poderão ter
2.000 anos, o que indiciaria uma ocupação anterior à presença portuguesa. Jorge
Bruno considerou, no entanto, que “não está em causa” a História
dos Açores, porque aquelas estruturas “resultam de uma ocupação humana há
seis séculos e não da presença de outros povos há 2.000 anos”. “As pessoas que conhecem
minimamente aqueles sítios, como conhecem os corvinos e os terceirenses, nunca
lhes atribuíram as características e a origem que agora é atribuída por este
arqueólogo”, frisou. No caso das estruturas existentes no Corvo, o
diretor regional de Cultura recordou que foram estudadas no quadro do
inventário do património imóvel dos Açores, salientando que o arqueólogo Rui
Sousa Martins considera que as cavidades se destinavam a “guardar artefactos
agrícolas de apoio à actividade que ali se desenvolvia”. Jorge Bruno frisou que o
executivo açoriano “não vai tomar nenhuma iniciativa” para estudar
aqueles sítios, por entender que “não se justifica”, mas manifestou
abertura para analisar qualquer proposta para a realização de trabalhos
arqueológicos que venha a ser apresentada. Os hipogeus que originaram esta
questão foram encontrados pelo arqueólogo Nuno Ribeiro durante um passeio que
realizou em agosto de 2010 no Corvo e na Terceira. “Tudo indica que se
trata de monumentos muito antigos”, afirmou o arqueólogo em declarações à
Lusa a 5 de março, acrescentando que se trata de “estruturas escavadas na
rocha, cuja planta de forma uterina denuncia a sua possível utilização como
necrópoles”. Nuno Ribeiro admitiu que
“possam ter mais de 2.000 anos”, salientando que “este tipo
de monumentos tem paralelo no mundo mediterrânico e nas culturas grega e
cartaginesa entre os séculos IX e III AC, e eram usados como sepulturas”.
Para “averiguar a antiguidade” dos hipogeus encontrados nos Açores,
o arqueólogo manifestou a intenção de apresentar até ao final deste mês um
projeto para a realização de investigações científicas naqueles locais. Os hipogeus encontrados por Nuno
Ribeiro no Corvo e na Terceira foram apresentados no início deste mês no
Congresso de Arqueologia do Mediterrâneo que decorreu na Sicília, Itália. Lusa/AO
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