[Archport] "Monumentos com dois mil anos nos Açores: o erro e a o sensacionalismo à Indiana Jones"
Comunicado
ASSUNTO: "Monumentos com dois mil anos nos Açores: o erro e a o sensacionalismo à Indiana Jones"
O CEAM-Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea, relativamente às notícias que têm vindo a público por parte da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica, nomeadamente pelo arqueólogo Nuno Ribeiro, àcerca dos alegados achados de "monumentos subterrâneos" e "templos do tipo hipogeu com mais de 2 mil anos" em várias ilhas dos Açores, tem a emitir o seguinte comunicado:
1. O CEAM tem, desde 2008, dedicado parte da sua actividade arqueológica nos Açores, pondo em prática o projecto EAMA- Estudo da Arqueologia Moderna na Região Autónoma dos Açores, com o apoio de meios universitários portugueses e organismos governamentais e municipais.
2. As notícias veiculadas por Nuno Ribeiro da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica carecem de validação científica, são extemporâneas e desprovidas de um rigoroso aprofundamento disciplinar e interdisciplinar, nomeadamente na vertente da antropologia e dos estudos etnográficos que citam, desde os finais do século XIX, a utilização desse tipo de estruturas rochosas para fins agro-pecuários.
3. O tipo de estruturas construídas em pedra são tipologicamente semelhantes a muitas outras existentes no Arquipélago da Madeira, que têm vindo a ser estudadas e sujeitas à apreciação da opinião pública através de artigos em revistas do sector, intervenções em encontros especializados e referências na comunicação social, sendo certo que a sua origem e datação poderão remontar, quanto muito, à época do povoamento no século XV.
4. Idêntica justificação se poderá entender para as estruturas açorianas, numa vertente da arquitectura humanizável da paisagem insular e pela crescente necessidade de utilização dos recursos naturais na actividade humana.
5. Com efeito, tais conclusões de Nuno Ribeiro, além de precipitadas e tomadas em "visita de recreio" aos Açores, são meramente sensacionalistas e ao gosto de filmografia de Indiana Jones. Descredibilizam, mormente, a classe arqueológica, que se deve mover com dados fundamentados e com rigor na interpretação e na análise do passado; e suscitam afirmações voláteis sem estudos prévios rigorosos e interdisciplinarmente credíveis.
O Conselho Científico do CEAM
Élvio Duarte Martins Sousa (Investigador, arqueólogo e doutorando em
Arqueologia da Madeira e dos Açores).
João Lizardo (investigador em Arqueologia da Expansão Portuguesa,
Mestrando em Arqueologia).