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[Archport] CASTELO DE CRESTUMA: 2.ª CAMPANHA DE ESCAVAÇÕES

To :   <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] CASTELO DE CRESTUMA: 2.ª CAMPANHA DE ESCAVAÇÕES
From :   "Ricardo Charters d'Azevedo" <ricardo.charters@gmail.com>
Date :   Thu, 25 Aug 2011 12:03:35 +0100

CASTELO DE CRESTUMA:

2.ª CAMPANHA DE ESCAVAÇÕES

 

 

 

O morro denominado Castelo de Crestuma teve ocupação defensiva e de vigilância do Rio Douro e da sua travessia nos séculos IV-VIII e X-XI, segundo evidenciam os materiais já exumados quer no alto da colina, quer na praia de Favaios que lhe fica a poente.

Naquele primeiro sector evidenciaram-se numerosos entalhes, cavidades e degraus que correspondem à fixação e encaixe de estruturas de madeira, as quais terão sido abandonadas, destruídas e refeitas várias vezes no mesmo local, apoiadas ou complementadas com estruturas pétreas de granito (que não existe no local) e cobertas por tegulae, pelo menos em alguma das suas fases construtivas, da qual se recolheram 7000 fragmentos em 2010.

Para além de cerâmica de construção, doméstica e de armazenamento este sector revelou ainda a existência de fragmentos de vidro romano e alguma cerâmica de importação.

Na praia de Favaios as sondagens afectadas revelaram a existência de vários níveis sobrepostos de areias correspondentes às variações do zero hidrográfico do Rio Douro e também às variações anuais de cheia com transporte de lamas. Os elementos recolhidos, topográficos, pétreos, arqueológico, todos em maior número, variedade e concentração tipológica do que os obtidos no alto da colina, são sensivelmente dos mesmos períodos cronológicos indicados, sendo mais evidentes alguns materiais cerâmicos provenientes do Norte de África e da Fócia (atual Turquia). Tudo isto nos faz crer que estamos perante uma estrutura portuária onde chegavam materiais longínquos para troca comercial com produtos de extração local.

Tem igualmente vindo a ser registada e interpretada como uma estrutura metalúrgica destinada à lavagem de areias ou de nódulos de minerais, uma grande levada cavada na pedra com orifícios e entalhes semelhantes aos existentes por toda a colina do castelo, o que explicaria a ocupação do sítio e o seu relacionamento com um comércio expressivo vindo de tão longe.

A presente campanha, que está a decorrer durante o mês de Agosto patrocinada pelas Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM, foi organizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) e é dirigida pelos arqueólogos J. A. Gonçalves Guimarães, António Manuel Silva e Laura Sousa e tem a colaboração dos arqueólogos Pedro Pereira, Paulo Lima, Paulo Lemos, Fátima Costa e Sílvia Santos e a coordenação logística da patrimonióloga Fátima Teixeira, contando ainda com a participação de mais de uma dezena de estudantes de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Este ano os trabalhos incidem no alargamento da área de implantação de estruturas na área do castelo e a continuação de sondagens na praia de Favaios e têm apresentado abundante espólio das épocas referidas.

Paralelamente foram também feitos ensaios geomagnéticos para deteção de estruturas enterradas na praia, ensaios de georeferência por estação total para obtenção de imagens das estruturas estudadas em 3 D, e recolha de amostras de sedimentos e outros para análises complementares.

O Castelo de Crestuma, um complexo pré-feudal ou pré-senhorial, tem paralelos em toda a Europa tardo-romana das pré-nacionalidades, muitos dos quais têm sido objecto de estudo precisamente na última década. A intervenção nesta estação, nesta primeira fase, deverá continuar até 2013.

Os trabalhos foram visitados no dia 18 de Agosto por Luís Filipe Menezes, o diretor do Parque Biológico de Gaia, Nuno Oliveira, o presidente da Junta de Freguesia de Crestuma, José Fernando Ferreira, e outros convidados, que percorreram demoradamente as áreas de escavação tendo-se inteirado dos pormenores das descobertas. O presidente da autarquia gaiense e confrade queirosiano declarou aos jornalistas presentes a importância destes estudos num contexto europeu de valorização dos sítios numa perspetiva do Turismo Cultural que se pretende para toda a região do Porto e Vale do Douro.

Os trabalhos têm igualmente sido visitados por arqueólogos e professores universitários portugueses e franceses.

[Publicada por ASCR-Confraria Queirosiana em Eça &amp; Outras]

 

 


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