Arqueologia: Voluntários à procura do passado 04
de setembro de 2011, 11:59 Num cabeço da Amadora rodeado
de edifícios, um grupo de pessoas acocoradas remove o barro ressequido. São
alguns das dezenas de voluntários que todos os verões optam pela arqueologia em
troca de férias convencionais. “Nós não somos esquisitos, basta que as
pessoas gostem um bocado de fazer arqueologia para participar”, explica a
coordenadora da escavação, a arqueóloga Gisela Encarnação, 39 anos, olhando
para a meia dúzia de elementos que forma o grupo de trabalho. Como ali, junto das paredes que restam do
Moinho da Atalaia, noutros locais do país há quem opte por se sujeitar aos
calores de agosto para ir à procura de vestígios do passado enquanto as praias
atingem picos de lotação. Em Mértola, onde o trabalho no Campo
Arqueológico local trouxe para a luz do dia importantes testemunhos da presença
islâmica em Portugal, o número de voluntários atingiu as quatros dezenas neste
verão, tal como no ano passado. “Querem ver se é como nos filmes”,
brinca Fernanda Palma, arqueóloga a trabalhar na vila alentejana, admitindo que
os filmes de Indiana Jones terão uma quota considerável de responsabilidade no
aumento de estudantes interessados por descobrir vestígios das antigas
civilizações. Mas ir para o terreno é “mais
difícil” do que assistir nos cinemas climatizados, assegura a
investigadora, no que é acompanhada pela sua colega da Amadora, que classifica
o trabalho de campo na arqueologia como “árduo e muito cansativo”. Apaixonado por dinossauros, Diogo Matos, 11
anos, tem uma opinião parecida. Quando se dispôs a participar nas escavações
junto ao Moinho da Atalaia, o aprendiz de arqueólogo achava que o trabalho
seria mais fácil. “Pensava que era com mais pessoas, [com
a] ajuda de máquinas e que era lá mais fundo” e não apenas escavar a
apenas um palmo abaixo dos pastos, como está a fazer. Perante esta perspetiva, o mais novo voluntário
do grupo da escavação da Amadora tem dificuldade em ver-se como futuro
arqueólogo. É verdade que, ao fim de várias manhãs passadas
a picar e varrer, o espólio recolhido resume-se a umas falhas de sílex que
mesmo os entendidos como Gisela Encarnação dizem ter para ali sido levados por
mão humana, mas não arriscam dizer com que objetivos. O projeto avançou no alto da colina porque nas
encostas em redor foram encontrados vestígios de ocupação humana das idades do
cobre, bronze e ferro, que abrangem os 3.000 anos que antecederam o nascimento
de Jesus Cristo, o que indiciaria a presença de mais testemunhos materiais no
topo da elevação, o que não aconteceu, explicou Gisela Encarnação à Lusa. O que parece estar garantido é que o gosto pela
arqueologia ganha-se no terreno, mesmo antes das universidades. Catarina
Jerónimo, 24 anos, outra das voluntárias na Amadora, cresceu conciliando o
gosto pela arquitetura com a arqueologia. Licenciou-se na primeira, mas
continua a praticar a segunda. “Assim posso juntar um bocado de cada
uma”, explica enquanto vai varrendo e picando o quadrado demarcado com um
cordel. Gisela Encarnação também participou em
escavações muito antes de sonhar vir a fazer do estudo da arqueologia a sua
profissão. Ganhou o “bichinho” com apenas 15 anos e não tem dúvidas
de que "quando alguém pensa fazer arqueologia deve experimentar
primeiro”. É fundamental o gosto pelo trabalho de campo na
arqueologia? “Quem escava, escava por gosto”, assegura. @Lusa *Este artigo foi escrito ao abrigo do novo
acordo ortográfico.*
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