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[Archport] Pagar para trabalhar

To :   archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Pagar para trabalhar
From :   Carlos Lapa <c_lapa@hotmail.com>
Date :   Fri, 4 Nov 2011 11:13:48 +0000

Boa tarde


O caso da Ana é recorrente e por demais comum no meio arqueológico. Aconteceu e acontece amiúde comigo e com amigos. Infelizmente estas situações não são a excepção mas antes a regra.

Isto sucede por diversos motivos, mas prende-se sobretudo com a falta de regulamentação do “nosso mercado”, ou seja elaboram-se orçamentos escabrosos e totalmente absurdos para conseguir ganhar concursos, quantos mais melhor. Ora constata-se somente depois que com aquele orçamento é impossível oferecer condições condignas de trabalho e efectuar pagamentos a tempo e horas. Seguindo-se normalmente um dilúvio de desculpas e argumentos surreais.


Toda a logística envolvida é negligenciada, todos os procedimentos normais e legais são “esquecidos” ou adiados e naturalmente isto reflecte-se na qualidade do trabalho produzido.

Não raras vezes todo o equipamento necessário para a realização do trabalho é pertença do(s) arqueólogo(s), incluindo a viatura (que tem de rodar por caminhos que nem as giratórias conseguem), o alojamento temos de ser nós a tratar, entre outro sem número de questões…


Ou seja muitas empresas limitam-se a concorrer com preços risíveis e depois pura e simplesmente colocam alguém a recibo verde a efectuar o trabalho com todas e quero mesmo dizer TODAS as despesas a encargo do arqueólogo.


Para estas empresas é óptimo, só tem que estar sentadas à espera do trabalho feito, ir a umas reuniões de vez em quando e trabalhar, vá lá, um bocadinho no computador (ou nem isso).


Há aqui claramente falta de regulamentação do mercado de trabalho. Urge criar um organismo, o que lhe quiserem chamar, para salvaguardar os direitos das pessoas que trabalham em arqueologia. Porque como esperam que salvaguardemos o Património se nós não o estamos?


Já nem vou abordar o tema da formação de muitos arqueólogos, que de gestão de recursos humanos e de materiais percebem pouco ou nada nem se esforçam por perceber.

Muitas das vezes, acho que bastava conversar connosco francamente e explicar que a situação da empresa não é das melhores no que concerne à liquidez financeira, que podem ocorrer atrasos nos pagamentos e que as condições oferecidas só podem ser aquelas.


Acho que todos nós estamos ao corrente da enorme crise que atravessamos e que com certeza compreenderíamos. Mesmo que não compreendêssemos, sabíamos com o que podíamos contar e planear a nossa vida. Era preferível a depois acontecerem casos destes ou outros ainda mais graves.


É deprimente e frustrante ter que recorrer a um ardil como o não entregar relatórios a não ser que paguem o que está em atraso. Mas de facto não há muitas outras soluções a não ser o recurso a este tipo de atitudes para com estas empresas.


De qualquer modo, nestes casos, é sempre bom tentar conversar primeiro, caso não seja possível, podemos e devemos recorrer ao ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho) e explanar a situação em que nos encontramos. Por nós, não podem fazer muito visto que estamos a recibo verde, mas podem e vão sem dúvida “cair” sobre a empresa para a qual trabalhamos. Este “cair” é traduzido em multas pesadas, inspecções, etc.


Há uma anedota que diz algo do género, “O futuro do Arqueólogo está sempre em ruínas”, constato com tristeza que além de anedota, esta frase reveste-se cada vez mais de verdade.

 

 

Com os melhores cumprimentos,

Carlos Lapa

 

 

 

 

 

 


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