Boa tarde O caso da Ana é recorrente e por
demais comum no meio arqueológico. Aconteceu e acontece amiúde comigo e com amigos.
Infelizmente estas situações não são a excepção mas antes a regra. Isto sucede por diversos motivos,
mas prende-se sobretudo com a falta de regulamentação do “nosso mercado”, ou
seja elaboram-se orçamentos escabrosos e totalmente absurdos para conseguir
ganhar concursos, quantos mais melhor. Ora constata-se somente depois que com aquele orçamento é impossível oferecer
condições condignas de trabalho e efectuar pagamentos a tempo e horas. Seguindo-se normalmente um dilúvio de desculpas e argumentos surreais. Toda a logística envolvida é
negligenciada, todos os procedimentos normais e legais são “esquecidos” ou
adiados e naturalmente isto reflecte-se na qualidade do trabalho produzido. Não raras vezes todo o
equipamento necessário para a realização do trabalho é pertença do(s)
arqueólogo(s), incluindo a viatura (que tem de rodar por caminhos que nem as
giratórias conseguem), o alojamento temos de ser nós a tratar, entre outro sem
número de questões… Ou seja muitas empresas
limitam-se a concorrer com preços risíveis e depois pura e simplesmente colocam
alguém a recibo verde a efectuar o trabalho com todas e quero mesmo dizer TODAS
as despesas a encargo do arqueólogo. Para estas empresas é óptimo, só
tem que estar sentadas à espera do trabalho feito, ir a umas reuniões de vez em
quando e trabalhar, vá lá, um bocadinho no computador (ou nem isso). Há aqui claramente falta de
regulamentação do mercado de trabalho. Urge criar um organismo, o que lhe
quiserem chamar, para salvaguardar os direitos das pessoas que trabalham em
arqueologia. Porque como esperam que salvaguardemos o Património se nós não o
estamos? Já nem vou abordar o tema da
formação de muitos arqueólogos, que de gestão de recursos humanos e de
materiais percebem pouco ou nada nem se esforçam por perceber. Muitas das vezes, acho que
bastava conversar connosco francamente e explicar que a situação da empresa não
é das melhores no que concerne à liquidez financeira, que podem ocorrer atrasos
nos pagamentos e que as condições oferecidas só podem ser aquelas. Acho que todos nós estamos ao
corrente da enorme crise que atravessamos e que com certeza compreenderíamos.
Mesmo que não compreendêssemos, sabíamos com o que podíamos contar e planear a
nossa vida. Era preferível a depois acontecerem casos destes ou outros ainda
mais graves. É deprimente e frustrante ter que
recorrer a um ardil como o não entregar relatórios a não ser que paguem o que
está em atraso. Mas de facto não há muitas outras soluções a não ser o recurso
a este tipo de atitudes para com estas empresas. De qualquer modo, nestes casos, é
sempre bom tentar conversar primeiro, caso não seja possível, podemos e devemos
recorrer ao ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho) e explanar a
situação em que nos encontramos. Por nós, não podem fazer muito visto que
estamos a recibo verde, mas podem e vão sem dúvida “cair” sobre a empresa para
a qual trabalhamos. Este “cair” é traduzido em multas pesadas, inspecções, etc. Há uma anedota que diz algo do género,
“O futuro do Arqueólogo está sempre em ruínas”, constato com tristeza que além
de anedota, esta frase reveste-se cada vez mais de verdade. Com os melhores cumprimentos, Carlos Lapa |
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