E
diria alguém: «Se assim se pagar a dívida soberana que uns quantos fizeram e
todos temos de pagar…». Aliás, acrescento eu, até se poderia pensar em vender
também o Centro Cultural de Belém e o seu recheio; ou alienar aos pedacinhos a
Torre de Belém… facilmente exportável para um dos emiratos árabes…
J.
d’E.
………….
Museu da Farmácia corre o risco de vender
o espólio
LUSA - 09 novembro '11
O Museu da Farmácia, em Lisboa, cujo acervo
percorre cinco mil anos da história da saúde, corre o risco de se ver obrigado
a vender o seu espólio para apoiar as farmácias, alertou hoje o diretor do
museu.
João Neto falava no debate público "Os
desafios da política de museus em tempos de crise", que decorreu ao fim do
dia no Museu da Eletricidade, em Lisboa, com a presença de uma centena de
profissionais da área da museologia, organizado pelo Conselho Internacional de
Museus (ICOM, na sigla em Inglês) Portugal, organismo dedicado a esta área.
"O Museu da Farmácia é apoiado pelas
farmácias. Neste momento, de um universo de 2.900 farmácias, há 1.700 que
correm o risco de fechar e por isso o museu poderá ter de vender o seu espólio
para apoiar as farmácias", alertou o diretor.
Instalado no edifício da Associação Nacional das
Farmácias, em Santa
Catarina, o Museu da Farmácia foi inaugurado em 1996, e reúne
um conjunto de peças sobre a história da saúde provenientes de diversas origens
geográficas, desde o Egipto, a Grécia ou Roma Antiga.
João Neto participou no debate a convite do ICOM na
qualidade de presidente da direção da Associação Portuguesa de Museologia
(APOM), mas falou no caso do Museu da Farmácia como um exemplo do que poderá
estar para vir.
"Não há dinheiro. Tentámos contactar os bancos
e outros mecenas mas não conseguimos nada. Com esta situação difícil alguma
coisa vai acabar e muitas vezes o mais fácil é fechar a porta", alertou.
O responsável defendeu que, "perante uma
situação impossível", os museus "devem absorver as próprias receitas
para permitir a sua viabilidade".
João Neto advogou ainda que devem ser dadas
condições essenciais para os museus funcionarem, como pessoal qualificado,
financiamento e uma política museológica.
Das intervenções de vários participantes no debate
surgiu uma ideia central: a defesa da Rede Portuguesa de Museus (RPM), entidade
oficial criada em 2000 para qualificar e certificar os museus, e que conta com
137 membros, desde museus nacionais, municipais, privados, e da Igreja
Católica.
Por seu turno, Raquel Henriques da Silva, antiga
diretora do Instituto Português dos Museus, e uma das fundadoras da RPM,
afirmou, perante a assistência, esperar que a Secretaria de Estado da Cultura
(SEC) "cumpra a Lei Quadro dos Museus, porque ali estão as questões fundamentais"
da política museológica.
"Esta tutela recusa qualquer tipo de diálogo.
O que mais me preocupa é como é que o setor dos museus se pode fazer
ouvir", apontou.
No encontro, o ICOM distribuiu um comunicado com os
principais tópicos do documento "Os desafios da política de museus em
tempos de crise", enviado em outubro à SEC e a todos os partidos com
assento parlamentar, com os quais se tem vindo a reunir em audiência.
No documento, o ICOM defende "a manutenção e
reforço da RPM, autónoma, devidamente enquadrada organicamente na futura
Direcção-Geral do Património Cultural" (DGPC), com a continuação dos
anteriores programas técnicos e financeiros de apoios, e a elaboração da
Política Nacional de Museus e do Plano Nacional de Museus.
A DGPC é a nova estrutura da Secretaria de Estado
da Cultura (SEC) que vai reunir o atual Instituto dos Museus e da Conservação
(IMC), o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
(IGESPAR) e a Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo.
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