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[Archport] A Vergonha da Arqueologia Portuguesa

Subject :   [Archport] A Vergonha da Arqueologia Portuguesa
From :   Vasco Cartó <vcarto83@gmail.com>
Date :   Thu, 22 Mar 2012 11:50:16 +0000

Carissimos,
 
Tenho de vos agradecer e muito por continuarem a escrever para esta lista de discussão com estas picardias inúteis, pois relembram-me diariamente as razões que deixei esta profissão.

Acho triste, muito triste, o estado em que se encontra a arqueologia em Portugal.

Acho vergonhoso que, raro algumas e muito boas excepções, na generalidade a arqueologia em Portugal se resuma a estas trocas de galhardetes insignificantes, imaturas, disfarçadas de objectivos pessoais e politicos.

Acho vergonhoso que esta lista de discussão, que deveria ser um ponto de encontro entre os variadissimos profissionais de arqueologia do nosso país se resuma, a estas discussões parvas.

Graças a este diario medir do tamanho do intelecto de cada um (para não dizer outras coisas) a arqueologia em Portugal continua, lentamente a desaparecer. 

E enquanto continuamos com estas discussões, o nosso povo, os portugueses para quem nós trabalhamos continua cada vez mais ignorante perante o seu passado, a sua cultura e a sua identidade.

 Sim, trabalhamos para os portugueses, pois o objectivo da nossa profissão não é escavar e recolher milhares de fragmentos de cerâmica, mas sim desvendar e compreender o  passado do território que hoje é Portugal.
 
Acho vergonhoso que o nível de consciência do cidadão comum para com a arqueologia em Portugal ainda seja ao nível dos países nórdicos do séc. XVII.

Acho muito triste que comparando estas discussões com as de há um século atrás (vide "Historiografia e Memória Nacional" de Sergio Campos Matos) continuemos exactamente no mesmo ponto de discussão e não tenhamos evoluido absolutamente nada!

Para não falar, de situações vergonhosas como o caso de Balsa, que hoje grande parte foi já destruida porque quando foi tempo de actuar, nós como arqueólogos não soubemos ter uma resposta forte e unida, não soubemos chegar ao cidadão comum e mostrar-lhe o seu passado, fazê-lo interessar-se pelo seu passado e ele próprio, defender o seu passado.
Acho impressionante a falta de profissionalismo que se vê aqui diariamente, a falta de consciência profissional, a falta de união em torno de problemas comuns.

Peço desculpa por este comentário, mas parecem adolescentes americanos a comentar videos do youtube! É que estas discussões desprestigiantes, não passam de uma versão avançada disto:

(atenção que o video seguinte pode ferir susceptibilidades)
http://www.collegehumor.com/video/3980096/we-didnt-start-the-flame-war 

A definição de "flame war"
http://en.wikipedia.org/wiki/Flaming_(Internet)

Por isso, por favor, tenham consciência do que escrevem e do que para esta lista de discussão realmente serve!

Tenham consciência da vossa profissão e comecem todos (não individualmente, ou grupos de trabalho com filiações politicas) a tratar de resolver os muitos e crescentes problemas da nossa profissão.

E sim, apesar de já não trabalhar activamente em arqueologia, ainda me considero e sempre me considerarei arqueólogo de coração.

Continuarei sempre que possivel a contribuir da melhor forma que sei, para o passado do meu pais, e da minha região em particular.

Como já fiz no passado com a publicação de algumas fotos de Balsa e de vários sitios arqueológicos romanos do Algarve:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150949580965635.756209.579815634&type=3&l=8769a15400
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150681881365635.694468.579815634&type=3&l=a083780553

E como espero voltar a fazer, quando voltar a Portugal em breve tendo já planeada uma nova visita às ruinas de Balsa, Quinta de Marim e claro espero poder visitar recentemente descoberta necrópole romana de Faro.

Termino deixando aqui os meus parabens a iniciativas como o Portugal Romano que se não me engano partiu inicialmente de um cidadão comum e não um arqueólogo de profissão.

E claro, uma grande congratulação a grandes arqueólogos do nosso pais, que apesar das condições miseráveis, da ignorância da maioria dos seus pares pelas suas condições de trabalho, e mesmo assim ainda escavam, registam, desenham e escrevem relatórios com o mesmo "amor" e apreço pela arqueologia que teem desde os tempos de faculdade.

Não falo em nomes, mas essas pessoas saberão concerteza que me dirijo a elas, :)

Vou continuar a seguir estas discussões com a mesma atenção de sempre esperando que um dia me façam querer voltar a ser arqueólogo de profissão em Portugal.

Cumprimentos a todos e um pedido de desculpa por esta "parede de texto".

Vasco Cartó

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