Não deixa de ser significativo
que esta discussão se tenha iniciado com um argumento típico de uma família
política que, muito embora tenha metamorfoseado o seu discurso para lhe dar um
ar de Modernidade, continua fiel à pré-história das leituras sociais. Esgotado o seu período triunfal
na Europa, a década de 90 e primeiros anos do novo século - quando o saque
generalizado, iniciado por uma merceeira suburbana, dos bens e serviços que
deviam ser públicos e a especulação financeiro-imobiliária criaram um ilusório
e nado-morto parêntesis de dropping -
sacaram novamente dos velhos argumentos que podem ser sintetizados assim: «vivemos
no melhor dos mundos e só não singram os preguiçosos». Daí que os cidadãos que
expressem legítimas preocupações com as suas condições laborais, não passem de
joguetes de comunistas, afins e/ou preguiçosos contumazes. Ficou aqui expressa outra declinação
do darwinismo social, ainda que mais pueril:
mas sim através da adaptação às novas exigências do mercado. Mas não é isso
que fomos fazendo até ao momento, enquanto povo e de forma particularmente
“militante” no nosso grupo profissional? Haverá profissionais mais adaptáveis
que aqueles que trabalham em Arqueologia? O resultado está à vista e não
tem sido brilhante…de qualquer forma não se poderia esperar mais de alguém que
acha que o usufruto - ou a posse - de um automóvel pelo secretário-geral de uma
organização que representa trabalhadores do Minho ao Algarve, seja uma
manifestação de incongruência e um argumento válido para descredibilizar o
movimento sindical! Certamente nunca experimentou fazer uma ligação Torres
Novas – Reguengos de Monsaraz utilizando transportes públicos… Até o Henrique - o único aqui mencionado que conheço pessoalmente, salut – presta tributo ao arsenal argumentativo ultra-liberal e quase pede desculpa por trazer uma questão político-sindical para este fórum! Mesmo encarando os objectivos do mesmo como minimalistas, exclusivamente orientado para questões “científicas”, haverá dúvidas que, no momento actual, o principal entrave a uma actividade arqueológica de qualidade, com rigor no registo e preocupada com a divulgação de resultados seja a extrema precariedade de muitos dos profissionais que a asseguram? Basta uma rápida mirada aos
índices dos congressos realizados nos últimos anos para se verificar que a
equação empresa-com-mínimo-de-estabilidade-dos-seus-quadros =
maior-rigor-científico-e-preocupação-com-a-divulgação-de-resultados é uma
realidade incontornável. Depois surgiu ainda outro argumento, menos politizado mas amplamente popularizado: a greve não muda nada. Falso. A História está cheia de greves que mudaram o quotidiano das pessoas. O que não muda nada é ficar em casa ou ir trabalhar. Não mostrar a quem nos governa que antes do PIB, do deficit, da “ajuda” externa, das injecções milionárias em bancos falidos, dos salários dourados, dos lucros obscenos, está quem trabalha. Que a “Economia” não nasce de geração espontânea, mas antes assenta no trabalho de milhões de assalariados e de pequenos empresários. Daí que hoje tenha feito greve e no Sábado esteja presente na fundação do Sindicato. As criticas guardo-as para depois, se esta organização não assegurar o único “serviço” a que estará geneticamente obrigada: ajudar-me na defesa dos meus direitos laborais e, por inerência, da minha dignidade. |
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