Há diversas maneiras de contestar e duvidar de resultados científicos publicados e/ou apresentados em encontros desta natureza. Sinceramente, não creio que o método apresentado pelos signatários da "crónica" seja o mais correcto e dignificante. No entanto, além da acção ficar para quem a pratica, parece-me notório que a crítica à "falta de conhecimentos arqueológicos elementares" dirigida aos autores do referido poster, não é mais que uma "capa" para esconder um ataque pessoal aos autores, possivelmente devido a outras guerras que, felizmente, não interessarão aos leitores da Archport.
Sendo assim, peço-vos, por favor, poupem-nos.
Pedro Ramalho
Global Pottery 1st International Congress n Historical Archaeology & Archaeometry for Societies in Contact (Barcelona, 7-9 may 2012) - Breve Crónica.
Por Mário Varela Gomes e Tânia Manuel Casimiro
Reuniu na monumental cidade de Barcelona, entre os dias 7 e 9 de Maio passados, o congresso referido em epígrafe, que constou de trinta comunicações proferidas por investigadores especialmente convidados e outros cujas comunicações foram aceites por uma comissão científica. Também foram admitidos onze posters.
A abrangência temática do congresso, em boa hora fez reunir arqueólogos, historiadores, etnólogos, investigadores nas áreas da física e da química, resultando em contexto extremamente estimulante, devido tanto aos tipos de informação veiculada como às conceptualizações propostas por cada área científica. Por outro lado, ali se encontraram investigadores europeus, norte e sul-americanos, de África e dos continentes asiático e australiano.
O nosso país esteve, de certa forma, representado através de cinco comunicações e de três posters, evidenciando grande vigor nesta área da Arqueologia, pois contou com apenas menos uma comunicação que o país anfitrião e teve mais um poster que aquele.
Dentro do grupo dos investigadores que apresentaram análises de cerâmicas, tendo em vista resolver problemas relacionados com a sua produção, origem, qualidade e difusão, destacamos a de J. Buxeda i Garrigós, M. Madrid i Fernández e J. G. Iñañez (ARQUB), intitulada “Archaeometry of the tecnological change in societies in contact”, onde se divulgaram os resultados do projecto TECNOLONIAL, mas também a de S. Coentro (VICARTE), R. Trindade (IHA), A. Candeias, J. Mirão (HÉRCULES), L. Cerqueira, R. Silva (ITN) e V. Muralha (VICARTE), sobre os azulejos de Santa Clara a Velha, ou a de L. F. Vieira Ferreira (IST), T.M. Casimiro (IAP-FCSH) e Ph. Columban (LDRI), incidindo na faiança portuguesa e revelando a novidade científica da utilização de TiO2 nesta produção, até agora desconhecida, ou a de M. Martinón-Torres (UCL) que nos falou da produção e distribuição de cadinhos nas colónias espanholas, inglesas e francesas do Novo Mundo.
As relações interculturais reveladas pelas cerâmicas, designadamente entre a Europa e os outros continentes, foram abordadas, segundo diversas perspectivas, suscitando quase sempre vivo diálogo entre os comunicantes e a assistência. Constituiu novidade, em termos internacionais, a comunicação de R.V. Gomes, T.M. Casimiro e M.V. Gomes (IAP-FCSH), que procurou ilustrar a difusão mundial da faiança portuguesa, no século XVII. Diversos investigadores dos continentes americano e africano mostraram-se surpreendidos, dado agora poderem classificar tal produção nos sítios que estudam. No mesmo grande bloco temático apresentou-se, pela primeira vez numa reunião científica, o enorme conjunto de porcelana chinesa procedente do convento de Santana, em Lisboa, e que inclui raríssima taça com motivos eróticos, muito comentada pela assistência (M.V. Gomes e R.V. Gomes). Permitimo-nos ainda destacar a apresentação de I. Pikirayi (UP), sobre sítios no Zimbabwe, denominados feiras, onde surgiram algumas cerâmicas portuguesas, bem como a comunicação de S. Escribano, B. Loewen, A. Azkarate, C. Puig Barrachina, J. Núñez, Y. Monette (UPB), sobre cerâmicas bascas na Terra Nova, consequência dos assentamentos de baleeiros naquela parte no Mundo.
Importante conjunto de comunicações, proferidas por colegas americanos e mexicanos, abordaram as cerâmicas arqueológicas e etnográficas do Continente Americano, do Canadá ao México, temática pouco tratada na Europa.
Os posters apresentaram igualmente grande variedade temática e novidades, embora com maior incidência nos aspectos arqueométricos. Todavia, no seio de tão boas prestações, resultantes de trabalhos solidamente fundamentados, teórica e metodologicamente, lamentamos que tenha sido apresentado poster, da responsabilidade de J. Barreto (VICARTE – FCT), A. Teixeira, I. Coelho (CHAM-FCSH), A. Lima (VICARTE) e N. Leal (FCT-UNL), sobre cerâmicas pretensamente oriundas do naufrágio do navio conhecido por Angra D, afundado nos finais do século XVI ou inícios da centúria seguinte, e descoberto por Paulo A. Monteiro, em 1997.
Não só algumas das cerâmicas apresentadas são muito ulteriores à data daquela ocorrência, designadamente fragmento claramente do século XIX, o que, desde logo, revela falta de conhecimentos arqueológicos elementares, como o conteúdo do poster não passava de proposta de intenções. Trata-se de algo inadmissível em encontro científico internacional de elevado nível, acrescendo ter sido da responsabilidade de quem lecciona e pesquisa em instituição universitária, constituindo factor altamente prejudicial à imagem da investigação portuguesa na área.
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