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[Archport] ARQUEOLOGIAS 2.0 - Arqueologia dos Sentidos (Tiago Gil) e Arqueologia do ponto de vista do pensamento crítico contemporâneo (Vitor Oliveira Jorge)

Subject :   [Archport] ARQUEOLOGIAS 2.0 - Arqueologia dos Sentidos (Tiago Gil) e Arqueologia do ponto de vista do pensamento crítico contemporâneo (Vitor Oliveira Jorge)
From :   Tiago Gil <arqueotigas@gmail.com>
Date :   Tue, 5 Jun 2012 10:54:44 +0100


ARQUEOLOGIAS 2.0

Arqueologia dos Sentidos (Tiago Gil) 

A Arqueologia do ponto de vista do pensamento crítico contemporâneo (Vitor Oliveira Jorge)


Caros 'archportianos' e 'histportianos',
Na próxima terça-feira (hoje), dia 5 de Junho, por volta das 15 horas, terá lugar no Museu Nacional de Machado de Castro (Coimbra), a 9ª comunicação do Ciclo de Conferências "ARQUEOLOGIAS 2.0", e contará com a presença de Tiago Gil (Aluno da Licenciatura em Arqueologia e História pela FLUC) e de Vitor Oliveira Jorge (Professor Catedrático Aposentado pela FLUP).

Esta iniciativa é gratuita e não carece de marcação antecipada.

Contamos com a vossa presença!

Cordiais Saudações

Arque à Parte

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RESUMOS:

Arqueologia dos Sentidos, por Tiago Gil (Aluno da Licenciatura em Arqueologia e História pela FLUC)


A Arqueologia dos Sentidos não se reporta à tentativa de 'reconstrução' dos sentidos e experiências sensoriais das comunidades do passado ou procurar sentir como as comunidades do passado sentiram o mundo e os outros seres que os rodeavam (HAMILAKIS, 2011: 208), nem tão pouco uma tentativa de produzir uma história de longo termo sobre as modalidades sensitivas da Humanidade, desde a Pré-história ao Presente. Tais intentos sairiam gorados uma vez que as as experiências sensoriais são histórica e socialmente específicas e os nossos corpos e modalidades sensitivas são produtos do próprio tempo em que vivemos e da sociedade em que nos inserimos. Também não se trata de uma subdisciplina da Arqueologia, uma vez que os sentidos não ocupam o mesmo substracto ontológico que, por exemplo, a cerâmica (HAMILAKIS, 2011: 208). A Arqueologia dos Sentidos também passa pela tentativa de chegar às experiências sensoriais do passado, mas procura entender como as comunidades do passado produziram as suas subjectividades, as suas identidades colectivas fundadas na experiência do que as rodeava; como elas viveram as suas rotinas diárias e construíram as suas próprias histórias, através das experiências sensoriais da matéria, de outros seres animados e inanimados, humanos, animais, plantas, entre outros (HAMILAKIS, 2011: 208). Resumindo, a Arqueologia dos Sentidos procura atingir a «pele e a carne do próprio mundo» (HAMILAKIS, 2011: 208).


Referências:

Hamilakis, Y. 2011. Archaeologies of the senses. In Insoll, T. (ed). The Oxford Handbook in the Archaeology of Ritual and Religion. Oxford: Oxford University Press.

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A arqueologia do ponto de vista do pensamento crítico contemporâneo, por

Vítor Oliveira Jorge (Professor catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; investigador do CEAUCP).

Creio que a publicação, em 2004 (Londres, Routledge), do livro “Archaeology and Modernity”, pelo meu colega Julian Thomas, da Universidade de Manchester, marca uma importante ruptura com as reflexões anteriores, mesmo dos autores ditos “pós-processuais”, percebendo que a renovação da arqueologia e da teorização da sua prática tem de se compreender “de fora” da disciplina. A arqueologia é um produto da modernidade, e esta tem sido analisada e pensada por numerosos autores que não podemos ignorar, e que continuam a aparecer constantemente. Muitos desses autores não se apresentam propriamente como “filósofos, ou teóricos desta ou daquela área do saber, mas questionaram a própria maneira como a produção do saber costumava ser questionada/teorizada. Ou seja, pensar a arqueologia hoje é uma tarefa muitíssimo mais exigente do que há algumas décadas. Implica uma postura de inter e transdisciplinaridade radical, muito difícil de conseguir, porque obviamente se tem de partir dos problemas da arqueologia e, ao mesmo tempo, conseguir vê-los a partir de fora, como se não fôssemos arqueólogos. Exercício quase acrobático, porque o discurso arrasta-nos sempre para o senso comum vigente. É isso que se pode considerar uma postura crítica, absolutamente básica para se conectar a arqueologia com o conhecimento contemporâneo e para lhe permitir o diálogo com as grandes questões políticas, filosóficas, científicas que se nos colocam na era pós-moderna do capitalismo financeiro neoliberal. 
Falta talvez fazer qualquer coisa como um livro chamado por exemplo “Arqueologia e Pós-Modernidade”, prolongando a obra de J. Thomas, e entendendo por pós-modernidade uma palavra convencional que designa o facto de, não se tendo cumprido muitos ideais da modernidade, estarmos numa época em que o ideário do mercado, do empreendedorismo, das sociedades de controlo extremamente subtil e invasor corta com esse próprio ideário da “primeira modernidade”. Sem conhecer (o que não significa subscrever, é óbvio) as reflexões de pensadores como, por exemplo, Jacques Derrida, Giorgio Agamben, ou Slavoj Zizek, entre imensos outros, é minha convicção de que não só não percebemos o mundo em que nos encontramos, como não entendemos por que razão a universidade continua a legitimar (e a legitimar-se) numa visão da história que é anacrónica, enganadora, diria mesmo perigosamente conservadora, e que, reflectida em arqueologia (ainda muito enfeudada à prática histórica) leva a uma situação de impasse entre as indústrias do património (que vendem às massas um passado domesticado), os trabalhos de pesquisa por projectos curtos (tipo mestrados/doutoramentos de Bolonha, etc) que em geral produzem mais do mesmo à pressa, ou o trabalho empresarial na sua maioria preso à mesma lógica de “curto-prazismo” própria do sistema em que estamos mergulhados. Mas a história não parou, nem muitos de nós, seres humanos, se recusaram a pensar para fora das fronteiras deste horizonte imperial que se pretende apresentar como natural, indesmentível, inequívoco, quiçá eterno. Sem cair na pressa das soluções rápidas, que se situam na mesma lógica e portanto se sujeitam à carnavalização do adversário, há que ousar pensar uma nova arqueologia para uma nova forma de comunidade que, por vias travessas talvez, é uma comunidade que há-de vir.
O pensamento crítico contemporâneo coloca os problemas radicais que são os que podem motivar uma arqueologia adulta, liberta da tutela da história narrativa, sequencial, teleológica, legitimadora de uma concepção do tempo banal e retrógrada, como já Walter Benjamin apontou. 

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PS: o cartaz segue em anexo.
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Mais informações:
arqueaparte@gmail.com
arqueaparte.weebly.com
www.facebook.com/arqueaparte


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