Re: [Archport] Considerações estivais: detectorismo e coleccionismo

[Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao <cfabiao@fl.ul.pt>]

Caro Paulo Monteiro:

claroque não esqueço o projecto IPSIIS, iniciaiva que tive já o ensejo de indicar como a excepção ou, melhor dizendo, um dos casos em que naturalmente se pode vantajosamente conjugar o "hobbie" do detectorismo com o efectivo conhecimento do passado. Assim, as minhas "considerações estivais" não se aplicam a esse caso.

Já agora acrescento, várias outras possibilidades que tenho alvitrado:

1. A investigação dos antigos campos de batalha, por exemplo, os das Invasões Francesas ou os medievais (pense-se em todas as questões que tem suscitado o tema da delimitação e classificação do campo de batalha de Atoleiros).
Em casos como esses, os clubes de detectorismo, devidamente enquadrados e orientados poderiam ser utilíssimos: um detector de metais associado a um gps, permitiria mapear devidamente um antigo campo de batalha, recuperando simultaneamente conhecimentos precisos sobre o desenrolar das batalhas e importantes acervos patrimoniais que outros meios de prospecção não alcançam.
Veja-se o caso do belíssimo estudo sobre Aljubarrota, dirigido por João Gouveia Monteiro e devidamente publicado. Esse estudo poderia ter ido muito mais longe se se recorresse a uma abordagem do terreno com detectores de metais e gps. O próprio exército poderia ter sido mobilizado para o efeito.

Enfim, potencialidades não faltam, mas não se vê nem esse espírito nem essa atitude nos meios do detectorismo.

Carlos fabião

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De: Paulo Monteiro [pmonteiro@ntasa.pt]
Enviado: domingo, 5 de Agosto de 2012 18:42
Para: Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao; Jorge Russo
Cc: archport@ci.uc.pt
Assunto: RE: [Archport] Considerações estivais: detectorismo e coleccionismo

Nunca se ouviu falar de descobertas em Portugal se calhar porque não há incentivo financeiro para tal (e, na minha opinião, não deveria haver, porque esse mecanismo não só serve para encobrir as deficiências do Estado e dos demais agentes que lidam com o património arqueológico como também, dado o quadro diferente do do Reino Unido em que estamos, tal só levará à caça ao tesouro, tout court).

Situação comparável é a que está preconizada no dec 164/97, em que se prevêem recompensas por autos de achado fortuito, no mar, por mergulhadores, mariscadores e demais utentes do mar (repare-se na diferença, achado fortuito, aquele que é feito sem haver a intenção prévia do achado) mas que levou a que, por incúria, negligência, deficiências várias da tutela ou simples falta de verbas para compensar os achadores (embora, num ou noutro caso, o decreto tenha funcionado bem, ver a colubrina de Francisco I de França do Monte Brasil, em 1998, ou o canhão em bronze de São Miguel, ainda este ano) a ideia que perpassa hoje em dia na comunidade dos "amadores do mar" é que mais vale levar os artefactos para casa ou fundir os cepos de âncora "romanos" para fazer chumbadas do que estar a reportar os achados ao Estado e:

a) ficar anos sem resposta;
b) ver as coisas reportadas levarem descaminho, meses depois de terem sido descobertas, porque o Estado nunca lá foi ver o que era aquilo nem fez missões de verificação;
c) ser gozado pelos companheiros (de mergulho, de pesca, do marisco, da "ameijôa", por ter sido ingénuo o suficiente para  seguir o que preconiza a lei.

Em todo o caso, e voltando ao tópico, relembro mais uma vez que meter todos os detectoristas no mesmo saco da cupidez e do saque é esquecer projectos como os do Projecto IPSIIS, montado pelo ex-CNANS no rio Arade, com detectoristas locais, e que permitiu que grande parte do acervo do premiado Museu de Portimão fosse encontrado, registado, investigado, musealizado e divulgado


-----Original Message-----
From: Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao [mailto:cfabiao@fl.ul.pt]
Sent: 05 August 2012 18:23
To: Jorge Russo; Paulo Monteiro
Cc: archport@ci.uc.pt
Subject: RE: [Archport] Considerações estivais: detectorismo e coleccionismo

Caro Jorge Russo:

comparar o panorama do detectorismo inglês com o português ou é ignorância ou pura má-fé.

Não lhe vou falar das abissais diferenças do quadro legal, das práticas sociais, do civismo, do enquadramento, etc... Sugiro-lhe apenas um tópico para meditar: porque razão desde há décadas se conhececem os tesouros encontrados pelos detectoristas ingleses, com ampla exposição mediática, e nunca se ouviu falar de nehum achado em Portugal?... E não vale dizer que é por causa da lei 121/99, porque isso só explicaria o "silêncio" dos últimos 13 anos.

Com os melhores cumprimentos

Carlos Fabião

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De: Jorge Russo [russochief@gmail.com]
Enviado: domingo, 5 de Agosto de 2012 12:09
Para: Paulo Monteiro
Cc: Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao; archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] Considerações estivais: detectorismo e coleccionismo

Tratando-se de uma proposta de reflexão, o que dizer do exemplo Britânico, relativamente ao detetorismo?

Cordiais saudações


Jorge Russo
Portugal
Email: russochief@gmail.com<mailto:russochief@gmail.com>
Telemóvel: +351 91 938 7227



2012/8/4 Paulo Monteiro <pmonteiro@ntasa.pt<mailto:pmonteiro@ntasa.pt>>

Quando um Estado, através de um seu Governo Regional, pretende destruir um parque arqueológico subaquático para lá implantar um terminal de cruzeiros perigoso, caro e sem retorno financeiro conhecido, eu digo que o exemplo vem de cima e que não só compreendo, como até perdoo, os detectoristas que vão fazendo pela vida.


-----Original Message-----
From: archport-bounces@ci.uc.pt<mailto:archport-bounces@ci.uc.pt> [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt<mailto:archport-bounces@ci.uc.pt>] On Behalf Of Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao
Sent: 04 August 2012 23:23
To: archport@ci.uc.pt<mailto:archport@ci.uc.pt>
Subject: [Archport] Considerações estivais: detectorismo e coleccionismo

Coleccionismo e detectorismo
(considerações estivais):

Em um recente post do magnífico blog de David Gill (cuja leitura volto a recomendar:
http://lootingmatters.blogspot.pt/)
encontrei uma citação lapidar. A propósito da devolução ao Iraque de alguns artefactos arqueológicos roubados, declarou John Morton da ICE (Immigration and Customs Enforcement):
"It is a great privilege and honor, on behalf of the United States, to return to the people of Iraq a collection of cultural treasures that reflects their nation's rich history and heritage ... These are precisely the types of treasures that ICE's Cultural Property Art and Antiquities unit was established to identify, investigate and return to their rightful owners.
We will continue to be vigilant about finding and prosecuting those who would rob a nation for personal gain."

As palavras-chave são:
Roubar uma nação para lucro pessoal
Devolver aos seus legítimos detentores

Vale a pena reflectir sobre o tema, se ainda o não fez.
Com votos de um bom fim-de-semana
Carlos Fabião
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