Re: [Archport] Archbiz Arqueólogo para Lisboa.

[João Silva <ijoaosilva@hotmail.com>]

Boa tarde,

É óbvio que esta "empresa", como tantas outras (que eu tenha conhecimento, 99% das que ainda trabalham em PT), tentam desta forma encontrar o candidato mais barato. (e ponto!)

É o vulgo "deitar o barro à parede"...quase de certeza que os seus habituais colaboradores, já contactados, devem ter recusado os seus honorários&condições vergonhosas (ou então estão a trabalhar....). 

E não é por causa da crise que isto sucede, antes fosse, é simplesmente por causa da prática amplamente instalada de contratar serviços especializados por meia dúzia de euros..."empresas" virtuais (ou quase...) sem qualquer tipo de estrutura, enquadramento legal ou responsabilidade (na óptica da legalização dos trabalhos arqueológicos os responsáveis executivos são os signatários dos PATA, as empresas não constam na legislação) estas "organizações" são verdadeiras empresas de trabalho temporário que se limitam a receber os euros alheios, fruto do nosso trabalho, e redistribuir alguns trocos para os coitados que de facto realizam a escavação ou acompanhamento e suportam as difíceis condições de trabalho (digo difíceis para ser simpático...).

Actualmente, um servente de trolha, com todo o respeito pela profissão, recebe mais (em euros meus senhores) do que um arqueólogo ou técnico de arqueologia em regime de recibos verdes. O servente recebe 600 euros limpos (ou mais...), com todas as despesas pagas (pequeno almoço, almoço, jantar, transporte e estadia). Para não falar que tem um contrato, nem que seja de 3 meses.

Não sei quanto a vós, mas sempre que é solicitado o apoio de trabalhadores indiferenciados numa intervenção, estes, tentam esquivar-se pois  o trabalho é duro e não é para isso que lhe pagam - "cavar buracos à mão????"....hoje em dia o trabalho de servente numa obra é menos duro e com menos responsabilidades do que o de um arqueólogo ou  técnico de arqueologia.

Com este novo Orçamento do Estado, os recibos verdes vão continuar a pagar ainda mais impostos. Veja-se a SS, são quase 200 Euros/mês, depois vem o IRS, mais a sobretaxa (lá se vão, seguramente, mais 250 Euros/mês),  o IVA, caso sejamos honestos, temos que entregar a totalidade dos valores pois praticamente nada é enquadravel na nossa actividade, entretanto, temos que pagar seguro de trabalho e atestados médicos, roupa adequada, botas, galochas e às vezes até os coletes e capacete....comida...umas sandes no meia da lama ou à porta da obra...isto para ter algum no fim do mês para pagar a nossa casa (a própria, arrendada claro, e despesas inerentes) e muitas vezes, a cereja no topo, ainda temos que arrendar um quartito junto ao local da escavação...

Carro??? é difícil, mas caso o tenhamos, vai estar parado na Rua pois dinheiro para o IUC, Seguro e para o gasóleo já não existe...

Segurança Social não pago, pois não consigo (Também segundo a melhores expectativas daqui a 10 anos a SS entra em colapso...)

IVA e IRS, quando for fiscalizado vou levar uma multa que até ando de lado (mas como não tenho nada de facto, logo se vê)

Seguro de Trabalho e Atestado, é tudo Photoshop.

Pago a renda da minha casa e já me dou por contente...bem, neste momento, nem sequer tenho trabalho e a minha casa em breve estará para arrendar uma vez que, não aceito ser explorado por empresas de qualidade e legitimidade dúbia.

Se possível, NÃO ACEITEM TRABALHOS INDIGNOS À CONDIÇÃO HUMANA E MUITO MENOS, À VOSSA FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA. RESPEITEM E SEJAM RESPEITADOS!

OS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS SÃO TÃO, OU MAIS IMPORTANTES, DO QUE OS PROJECTOS DE ARQUITECTURA, DE ENGENHARIA, DE SEGURANÇA, ETC...NÃO PODEMOS CONTINUAR A PACTUAR COM ESTA SITUAÇÃO ALTAMENTE LESIVA PARA NÓS (CIDADÃOS/PROFISSIONAIS) E PARA O PATRIMÓNIO! 

OS ENCARGOS COM OS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS  NUMA OBRA SÃO UMA GOTA NO OCEANO!

As Universidades tem igualmente muita culpa, mas essa é outra questão.

Desculpem o desabafo...

João S.

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Date: Thu, 25 Oct 2012 13:28:05 +0100
From: arteminvenite@gmail.com
To: archport@ci.uc.pt
Subject: [Archport] Archbiz Arqueólogo para Lisboa.

Não posso deixar de notar de novo que é inaceitável a sobranceria e falta de rigor que algumas empresas de arqueologia continuam a usar para com os arqueólogos em contexto de recrutamento.

Solicitar o envio de currículos para a realização de trabalhos que não têm outro descritivo senão ‘’área de prehistória’’, sem enunciação prévia de condições de trabalho e forma de contratação, é, mo mínimo. arrogância, no máximo oportunismo e aproveitamento das circunstâncias de precariedade dos profissionais arqueólogos.

 

Manuel de Castro Nunes

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Manuel de Castro Nunes

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