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Re: [Archport] Arqueologia para que te quero

To :   Maria Jose de Almeida <mariajosedealmeida@gmail.com>, "archport@ci.uc.pt" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Arqueologia para que te quero
From :   gonçalo amaro <amaro_goncalo@hotmail.com>
Date :   Wed, 10 Apr 2013 20:26:07 +0000

Estimada Maria José Almeida

Tenho acompanhado o seu “desespero” e até uma certa revolta que demonstra em relação ao estado da Arqueologia portuguesa (o que é completamente compreensível). Já o disse em privado a alguns colegas e agora faço-o público. Estou totalmente convencido que o problema da Arqueologia, em Portugal, são os próprios arqueólogos, e não o digo de ânimo leve e tampouco com qualquer tipo de ressabiamento por estar fora do país. 

Todos estamos de acordo que, com as crises económicas, os primeiros a sofrer são os trabalhadores das áreas culturais.  No entanto, o facto de que a crise afecte, com particular incidência, os arqueólogos, já me parece algo estranho, pois a Arqueologia vive agora o seu maior apogeu; basta ver como os arqueólogos se têm tornado preponderantes (e isto verifica-se a nível global) no âmbito dos estudos patrimoniais e das ciências sociais. Vejamos, por exemplo, os casos de Michael Shanks, e a sua relevância na universidade de Stanford, ou o caso da actual directora da UNESCO para a América Latina, também são importantes os casos de Chris Tilley e Daniel Miller, dois arqueólogos de formação, fundadores do Journal of Material Culture, e de John Carman editor do International Journal of Heritage Studies, entre vários exemplos mais.

Constata-se também que, nos últimos anos, no Reino Unido, no Japão, na Escandinávia, e até na vizinha Espanha, os arqueólogos têm, consecutivamente, ocupando cargos no âmbito da gestão e estudos patrimoniais, relegando, na maioria dos casos, profissionais de outras áreas, nomeadamente História e História de Arte, para um segundo plano.

Sou um convencido de que colhemos aquilo que semeamos, e se efectivamente a Arqueologia não é valorizada em Portugal pelas instituições públicas, privadas e sociedade em geral - tendo em conta a conjectura mundial da disciplina - isto só se pode dever aos próprios profissionais da área numa escala local.

Acho que deveria existir capacidade (tão difícil no contexto nacional) para se fazer uma autocrítica ao nosso labor... e, encontrando-lhe toda a razão quando diz que “Somos fantásticos nas fases de arranque de qualquer coisa, mantê-la a funcionar é que é o diabo…” Nada melhor que ter a humildade de assumir que se errou (como é óbvio não me refiro à APA, mas sim à estruturação geral da Arqueologia em Portugal) e tentar, em conjunto com as novas gerações, com outras visões e com outras experiências, “reconstruir” as coisas, no entanto, sem essa humildade e o reconhecimento dos erros (sobretudo na formação e difusão de conhecimento), acho que será impossível construir um futuro decente para a Arqueologia portuguesa.

Um abraço

Gonçalo de Carvalho Amaro



Date: Tue, 9 Apr 2013 19:55:32 +0100
From: mariajosedealmeida@gmail.com
To: archport@ci.uc.pt
Subject: [Archport] APA para que te quero

Caros colegas,

A propósito do próximo acto eleitoral da APA escrevi um texto que coloquei no Al-Madan Blogue.

Para quem não se recorde, ou tenha chegado à lista depois, este blogue surgiu em 2008 por ocasião das comemorações dos 25 anos da revista Al-madan, prolongando os debates do interessante ciclo de conversas “Arqueologia Portuguesa em Revista”. As últimas entradas, antes do meu presente texto, são ainda de 2008, a propósito do 1º Congresso Português de Arqueologia Empresarial (CPAE).

Antes que pensem que isto de andar a tentar ressuscitar coisas semimortas é algum fetiche pessoal, deixem-me explicar que o faço propositada e provocadoramente.

É um traço cultural português passar a vida a “fazer coisas novas” em vez de tentar resolver os problemas das existentes. Somos fantásticos nas fases de arranque de qualquer coisa, mantê-la a funcionar é que é o diabo…

Por isso vos convido a voltar a ler o Al-Madan Blogue. E a comentá-lo.

Não só o texto que acabei de escrever mas todos os que estão para trás. Vão confirmar que passamos a vida a dizer o mesmo, mas também que há contributos e propostas muito interessantes sobre o exercício da arqueologia em Portugal. E, como não vale a pena inventar a pólvora todos os dias, que tal arregaçarmos as mangas e começar a por em prática algumas delas?

Maria José de Almeida




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