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[Archport] (sem assunto)

To :   port arch <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] (sem assunto)
From :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date :   Tue, 2 Jul 2013 12:28:01 +0100

http://www.rtp.pt/play/p1053/e119516/biosfera-xi

Prosseguindo então no itinerário de abordagem aos temas genéricos do património, cultural, artístico, monumental, material e imaterial, enfim… uma vasta e interminável nomenclatura que nada deixa todavia imune quando se trata de interrogar questões de raiz.

Parto de um pressuposto. Os sítios e bens arqueológicos são património. Mas a arqueologia também era.

O que se fará da arqueologia que for exterminada quando todos os arqueólogos forem já empresários, da museologia que será exterminada quando todos os museólogos forem já empresários, ou, em complemento disso, todos os arqueólogos e museólogos estiverem confrontados com uma única hipótese de exercer, profissionalmente, a sua actividade, a de arqueólogos e museólogos por conta dos arqueólogos e museólogos empresários?

 

Bem, mas estas interrogações servem-me hoje para apresentar outra questão.

 

Muito se falou, durante as últimas semanas, sobre a Anta Grande do Zambujeiro. Está a ruir.

Não vou dizer muito mais do que tem sido dito, senão deixar mais uma interrogação. Alguma vez, durante algum período de breve tempo, a Anta Grande do Zambujeiro deixou de estar precariamente escourada para não ruir, desde que foi objecto da primeira intervenção?

Era de facto uma permanente incógnita. A bem dizer, em qualquer momento poderia ruir. Todavia continuou a ser objecto de sucessivas intervenções sem o problema da estabilidade ter sido alguma vez resolvido senão através da articulação de mais extensores.

 

Bem. Mas nas imediações, a pouco mais de dezena e meia de quilómetros, um consórcio internacional representado por uma firma portuguesa vai muito em breve iniciar a céu aberto uma exploração mineira de ouro, com uma área de vinte e poucos quilómetros quadrados, com intrusões de cerca de cento e vinte metros de profundidade, mais ou tanto quanto as maiores pedreiras de mármore da região de Estremoz, Borba e Vila Viçosa.

Não vi ainda uma manifestação de preocupação por parte da comunidade arqueológica. Lamento. Não referindo as óbvias questões ambientais, sociais, humanas, paisagísticas, ressalvo apenas que a estrutura cársica de todo o massiço da Serra de Monfurado desemboca nas Grutas do Escoural. Que se trata do território de interpretação de um dos mais ricos conjuntos megalíticos da Europa, antas, menires, cromeleques. No sopé das minas da Nogueirinha está implantada a ermida de Nossa Senhora do Livramento.

Os estudos de impacto ambiental não fizeram ainda recuar a iniciativa.

Será o caso de os arqueólogos, sabendo impossível fazer recuar estas irremovíveis lógicas contabilísticas, estarem a programar uma pedagógica operação de salvamento, mobilizando-se para acompanhar a progressão da frente mineira com a sua diligente vigilância e salvando, no sítio e no tempo, o que houver que salvar?

E perdoem a agrura da expressão.

 

Manuel.


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Manuel de C
 
astro Nunes

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