Caros colegas
Não tenho comentado as notícias que aqui vão surgindo regularmente sobre as “extraordinárias descobertas” nos Açores, mas… não é por falta de vontade. Considero, como provavelmente a maioria dos arqueólogos desta lista, que é preferível não “alimentar a besta”.
Mas o que é demais, é demais!
A ciência não é uma questão de opinião. É um conhecimento construído com base num método e em práticas comuns reconhecidas pela comunidade científica. Não existe nada de científico no discurso por de trás destas “descobertas”. Mas isso seria o de menos. Não existe também qualquer tipo de apreensão cognitiva, dedutiva ou até intuitiva, devidamente fundamentada.
Estas “descobertas”, que tenho acompanhado com cuidado, tentando documentar-me, são expressão individual construída com bases desconhecidas e enformam uma opinião; melhor ainda, parece-me que dão forma a um desejo, a uma vontade, de encontrar o inesperado, o polémico, o fantástico, o sonho…
Pois sonhos, temos todos. E todos temos também direito à opinião, se de opinião se trata.
Na minha opinião, livremente expressa, os pseudo-arqueólogos que vêem alimentando este assunto, não são dignos de figurar entre os meus pares. São pessoas que se alimentam de credulidade, falta de informação e formação e desejos ocultos ou subliminares, totalmente exteriores à Arqueologia.
É grave, porque se alimentam também de recursos públicos que são escassos e deveriam estar a ser canalizados para os extraordinários investigadores açorianos (e investigadores que nos Açores) se têm incessante e incansavelmente dedicado ao estudo da História e Património dos Açores.
Tenho direito a ter esta opinião, como os pseudo-arqueólogos de que falo, aparentemente, têm direito a achar que encontraram antas, dólmenes, fenícios, aborígenes, pirâmides, arte rupestre, hipogeus e sei lá mais o quê.
Também tenho o direito de achar que estes pseudo-arqueólogos deveriam ser banidos da comunidade arqueológica, por “crime de lesa Arqueologia”, podendo apenas voltar se comprometidos a … ter um pouco de juízo!
Sei, é claro, que o estatuto de “perseguidos” ou “ostracizados”, cai que nem luva ao estereotipo das personagens em causa. Que lhes faça bom proveito!
Eu, como todos, tenho direito à opinião, e esta, lamento mas tinha de ser expressa.
Jacinta Bugalhão