A peça
do mês O Todos os períodos
cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota
Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças
etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas
acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas. O MNA é ainda o
museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças
classificadas como “tesouros nacionais”. Existe, pois,
sempre motivo de descoberta nas colecções do A Peça do Mês de Dezembro A apresentar por A MULHER DE MILREU A peça registada
no inventário do MNA com o número 18208 (= 994.6.3) é conhecida como a «cabeça
de Milreu» ou simplesmente «retrato de mulher». Trata-se de uma peça de escultura
romana, uma cabeça feminina em mármore branco, datada do final do século I,
inícios do século II d.C. A escultura foi encontrada por Estácio da Veiga nas
termas de Milreu, perto de Faro, e depois de ter incorporado o acervo do museu
da capital algarvia transitou para o Museu Nacional de Arqueologia. Logo nos primeiros
trabalhos publicados sobre esta peça, foi destacada a beleza da mesma, bem como
a sua especificidade, derivada sobretudo do penteado em «ninho de vespa», tal
como lhe chama a bibliografia portuguesa», ou em «topete», como o classificam
os estudos anglo-saxónicos, germânicos e franceses. Com efeito, a «mulher de
Milreu» ostenta um penteado dividido em duas secções, em que, numa delas, o
cabelo sobressai na parte frontal da cabeça, na forma de um diadema constituído
por três fileiras de caracóis sobrepostos, enquanto a parte de trás se forma
com uma «mecha de cabelo enroscado em carrapito sobre a nuca, descobrindo as
orelhas» Os anéis obtinham-se com recurso a uma vara de encaracolar e mantidos
com uma aplicação de cera de abelha. O topete era mantido no seu lugar com o
auxílio de uma fita de couro na parte de trás. Segundo o estudo
de J. L. de Matos, a parte que resta deveria fazer parte de um busto,
representando uma personagem anónima. Na ficha que se inclui no catálogo da
exposição «Religiões da Lusitânia», Cardim Ribeiro nota ainda que esta peça é a
evidência da forma como as elites municipais da Lusitânia meridional se
relacionavam, nos séculos I e II d.C., com as elites imperiais, adoptando
tendências e seguindo modas, buscando dessa forma o prestígio, pelo facto de as
mesmas transmitirem a ideia de proximidade ao poder. Na verdade, a
representação que hoje podemos ver no MNA corresponde a um figurino
razoavelmente presente em vários museus europeus. Os penteados com topete,
particularmente notórios e conhecidos no quadro cultural romano, têm sido
associados sobretudo ao período flaviano, mas teriam sido usados até pelos
menos aos anos 20 do século II d.C. (épocas trajânica e adriânica). Cardim Ribeiro
caracteriza o retrato como a figuração de uma jovem mulher que exibe um
penteado típico da época tardo-flávia, «influência de Júlia, filha de Tito e
esposa de Domiciano». Com efeito, alguns autores afirmam que a moda destes
penteados teria sido iniciada por membros da casa imperial, designadamente
Júlia Titi (65-91 d.C.) e Domícia
Longina (?-140 d.C.), respectivamente a filha de Tito (39-81 d.C.) e a mulher
de Domiciano (51-96 d.C.). Daí que, partindo dos princípios do «retrato verista»
romano, a esmagadora maioria das figuras assim representadas fosse identificada
com as duas princesas imperiais. Outros estudos, alguns mais recentes, porém,
têm concluído que algumas das representações até aqui identificadas como as
mulheres da família imperial serão, na verdade, retratos privados e anónimos. Post-scriptum:
Permita-se-me que assinale ter sido este busto estudado em SOUZA (Vasco de
Souza), Corpus Signorum Imperii Romani.
Portugal, Instituto de
Arqueologia, Coimbra, 1989, sob o nº
|
Mensagem anterior por data: [Archport] Exposições a partir de amanhã, em Coimbra | Próxima mensagem por data: [Archport] A MULHER DE MILREU |
Mensagem anterior por assunto: [Archport] A monografia sobre a gruta do Escoural | Próxima mensagem por assunto: [Archport] A MULHER DE MILREU |