A PEÇA
DO MÊS
O Museu Nacional de
Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na
verdade centenas de milhares, de objectos. Provêm eles de intervenções
arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, tendo sido incorporados por
iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e
coleccionadores.
Todos os períodos
cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota
Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças
etnográficas, estão representados no MNA. Às colecções portuguesas
acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito
diversificadas.
O MNA é ainda o museu
português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas
como “tesouros nacionais”.
Existe, pois, sempre motivo
de descoberta nas colecções do Museu Nacional de
Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em
cada mês que passa.
PEÇA DO
MÊS
Barco
votivo, nº inv. E 139 (cat. 236) – Egipto antigo
A
apresentar por Telo Canhão,
em 22 de Fevereiro de 2014 às 15h
O
hábito de enterrar os mortos na companhia de um enxoval funerário no antigo
Egipto, tinha como finalidade a utilização de todo esse equipamento no Além. Os
Egípcios acreditavam que era possível aos seus mortos viverem uma outra vida
depois da morte, e que todos os objectos com que eram fechados nos seus túmulos
desempenhariam exactamente a mesma função que tinham tido durante a sua
existência terrena, para lhes facultar uma permanência de alegria e abundância
na Duat, o outro mundo. Por isso
se chama a este barco nilótico «barco votivo», pois foi deixado num túmulo por
motivos rituais para obter o favor de forças sobrenaturais em que os Egípcios
acreditavam, como a heka, a força
mágica considerada criativa e pertencente ao demiurgo, que a espalhou por toda
a criação. Confiando nelas, supunha-se que ganhasse vida e servisse o defunto
no Sekhet-Iaru, o paraíso egípcio, na plenitude da sua funcionalidade, para que
nada lhe faltasse.
Mas este pequeno barco de
madeira, com 73 cm
de comprimento e 37 cm
de largura, e os seus oito ocupantes, simboliza uma outra realidade
incontornável: o Nilo era a «auto-estrada» do Egipto e por ela todos circulavam
na companhia dos mais variados carregamentos. De tal forma que isso deixou
marcas indeléveis na escrita egípcia e na maneira de ser dos Egípcios, para
além de determinar o óbvio: uma infinidade de diferentes embarcações! Os
humanos com as suas cargas, umas vivas outras não, umas vezes em missões de paz
outras nem por isso, e os deuses, todos se deslocavam no Egipto de barco que,
no caso dos das divindades, alguns chegavam a assumir nomes próprios.
Características da
construção náutica, algumas que permitem distinguir os barcos nilóticos dos
barcos que navegavam nos mares Vermelho e Mediterrâneo, formas de propulsão na
água, tipos e funções das embarcações, equipagens e outras características,
servirão para desvendar um pouco do mundo maravilhoso que era a navegação no
Egipto, e não só no Nilo, como enquadramento à peça do mês aqui proposta.
Feito este envolvimento,
será então abordado o belo barco do Museu Nacional de
Arqueologia, o «E 139», juntando-se às
informações existentes algumas ideias novas, sendo dadas uma série de
explicações sobre as características da embarcação e seu equipamento, sobre a
fisionomia, o posicionamento e a função das figuras, bem como sobre a provável
origem da embarcação e sobre o tipo de madeira de que é feita.
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