Este futuro do “património
bem de consumo” é hoje e não uma qualquer ficção científica distópica. Atente-se nos chavões que se vão reproduzindo de forma aparentemente inócua, como as “indústrias do património”, os “gestores de património”, os “empresários do património”, os “produtos culturais”, o "consumo cultural"... A este propósito, permito-me sugerir aqui um artigo que li recentemente acerca do papel da arqueologia e dos arqueólogos na presente e crescente ideologia de mercadorização do património e da ciência: "Notre passé n’est pas à vendre", Laurent Olivier, Complutum 24 (1), 2013 : 29-39.
De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Manuel de Castro Nunes
Acerca de ‘’Arqueologando’’ e do ‘’património como bem de consumo’’.
Impedido, por motivo de convalescença de uma cirurgia breve recente, de estar presente na sessão de 4 de Março, deixo uma breve reflexão. É notório que o novo paradigma que se vai consolidando na relação dos profissionais do património com o binómio património versus consumo começa a ser, de um ponto de vista talvez tradicionalista, talvez céptico, preocupante. Adivinha-se um futuro em que o objecto da musealização deixe progressivamente de ser o património e passe a ser o consumidor. O objecto da musealização transfere-se progressivamente da parede ou da vitrine para a cafetaria ou para a loja de ‘’recordações’’ numa panóplia de réplicas do consumidor, desde o café ou do galão com torrada à caneca estampada, à agenda, ou ao postal. Do ponto de vista do conhecimento, de resto, mobiliza-se a sociologia do ‘’marketing’’, passando a ser muito mais relevante compreender e caracterizar o consumidor do que descrever ou compreender o património, que se pressupõe compendiado. É pois nos estratos mais profundos da génese desta nova disciplina que devemos formular a questão: ‘’Sou ou não sou arqueólogo?’’ E saber como ‘’comeremos’’ o património, com o corpo, com a mente ou com o espírito.
Saudações. Manuel.
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