Caros Todos:
este novo Centro Interpretativo é simplesmente Fantástico. O melhor espaço museológico de apresentação da memória de um lugar da cidade de Lisboa.
A contextualização topográfica está muito bem feita, com um excelente vídeo de reconstituição virtual da zona, desde o século XVII à actualidade - faltará talvez uma mais clara indicação de que este vídeo se encontra no amplo e bem recuperado espaço da Igreja, sobre o lado esquerdo, ou seja, o lado oposto á da entrada para o centro interpretativo... Visitantes mais apressados e distraídos arriscam-se a não dar por ele.
A contextualização do período dionisino está muito boa, recorrendo a distintas fontes de informação e com o delicioso "pormaior" da música de fundo, muito bem escolhida. As legendas estão talvez demasiado densas e com dimensão de letra e espaçamento pouco amigável, até porque o espaço é sombrio. Podia ter-se ensaiado uma outra forma de apresentar as moedas (é sempre muito difícil apresentar moedas em exposições...); creio que não teria sido pior ter tentado uma apresentação em imagem aumentada, à semelhança do que se fez para os outros materiais arqueológicos.
Um diaporama com imagens das escavações, acompanhadas de uma narrativa "em off" constitui uma excelente forma de apresentar o processo de escavação propriamente dito, não faltando alguns comentários curiosos sobre pequenas ocorrências da escavação - se ouvirem os comentários ficarão a saber como os arqueólogos conseguem, literalmente, encontrar agulhas em entulheiras; e ficarão também a saber porque razão se encontra no fundo do poço a imagem decapitada do Santo António. A sequência das imagens e a narrativa constituem uma bela simulação de visita a uma escavação em curso, acompanhada pelo arqueólogo.
A apresentação da muralha, propriamente dita (com som de ondas em fundo) está particularmente feliz, com um corrimão de acrílico, contendo legendas, impressas sobre o acrílico, pertinentes para a leitura dos paramentos expostos e suas afectações. Magnífica a solução de apresentação dos (poucos) artefactos arqueológicos, quase todos constituídos por pequenos fragmentos cerâmicos, aos quais uma animação restitui a forma completa, permitindo aos não iniciados visualizar os artefactos na íntegra.
Percebe-se que, felizmente, houve meios - está de parabéns o Banco de Portugal por proporcionar este belíssimo serviço público - mas houve também muito boas ideias, muito bom gosto e muita competência.
Em suma: um local a não perder, a visitar e revisitar.
Um grande acontecimento para a Arqueologia, para a História de Lisboa e para a museologia portuguesa
Carlos Fabião