Lista archport

Mensagem

[Archport] Um boato a exorcizar ou a EXTINÇÃO da Biblioteca de Arqueologia da DGPC

Subject :   [Archport] Um boato a exorcizar ou a EXTINÇÃO da Biblioteca de Arqueologia da DGPC
From :   Jacinta Bugalhão <jacintabugalhao@gmail.com>
Date :   Wed, 25 Jun 2014 10:32:50 +0100

Pois, infelizmente, parece que é verdade!

A Biblioteca de Arqueologia da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), a melhor biblioteca pública de arqueologia existente em Portugal, foi constituída em 1999 a partir da antiga biblioteca da extinta Delegação em Lisboa do Instituto Arqueológico Alemão, cedida em regime de comodato, conforme protocolo assinado entre Portugal e a República Federal da Alemanha em 31 de Maio de 1999.

Actualmente, a biblioteca “possui perto de 62.000 registos bibliográficos, divididos por cerca de 1.450 títulos de periódicos (cerca de um terço dos quais activos e actualizados), 30.000 títulos de analíticos e 30.000 títulos monográficos” (site DGPC). Para este grau de actualização muito tem contribuído a linha editorial especializada em arqueologia desenvolvida desde o final dos anos 90’ do século passado, que (mau grado os cortes recentes) através de uma assertiva política de permutas, tem garantido aquisições regulares para este fundo bibliográfico.

A DGPC assegura, em nome do Estado, em Portugal continental, a tutela arqueológica. Como tal, assume competências e atribuições no âmbito do estudo, salvaguarda, valorização e divulgação do património arqueológico nacional. De entre as principais funções de tutela contam-se o Inventário (receber, processar e devolver informação arqueológica; gerir e disponibilizar fundos documentais e bibliográficos) e o apoio à investigação arqueológica. Para a prossecução destas funções os organismos de tutela dispuseram desde 1980 (no âmbito do IPPC) de bibliotecas especializadas, cuja configuração orgânica foi evoluindo em paralelo com as exigências crescentes colocadas à gestão do património cultural. A este respeito refira-se a orgânica da DGPC, que menciona explicitamente a atribuição de “conservar, tratar e atualizar (…) as bibliotecas afetas, bem como o banco de dados para o inventário do património (…) arqueológico”.

E mais poderia e, na minha opinião, deveria ser. A Biblioteca de Arqueologia poderia evoluir para um modelo que funcionasse como um "depósito legal" para todas as edições arqueológicas portuguesas. É um caminho quase isento de custos e que permitiria a permanente e desejavelmente, total actualização deste fundo bibliográfico

Relativamente à gestão do património arqueológico no âmbito da DGPC, é assim fundamental garantir a existência e bom funcionamento do Sistema de Informação e Gestão Arqueológica Endovélico, do Arquivo de Arqueologia e da Biblioteca de Arqueologia, uma vez que este conjunto de valências e serviços constituem o cerne da informação arqueológica, dele dependendo a indispensável actualização permanente e ininterrupta do sistema de informação, instrumento de trabalho corrente e essencial, não só para a administração pública mas para todos os arqueólogos portugueses.

A fusão entre a Biblioteca de Arqueologia da DGPC e a Biblioteca do MNA comporta riscos elevados, numa ampla ordem de razões:

·        A perda de uma biblioteca pública especializada que funciona bem e tem leitores constitui, por si só, um mal.

·        A Biblioteca de Arqueologia da DGPC é um património raro e valioso, que ao longo dos últimos anos foi por diversas ocasiões ameaçado, tendo-se mantido em bom funcionamento com muita dificuldade, mercê do empenho dos seus técnicos responsáveis e de todos os arqueólogos portugueses e associações representativas que repetidamente se manifestaram em sua defesa. Os principais detentores deste património são necessariamente os arqueólogos, profissionais, estudantes, investigadores, etc. Não se justifica mais uma perda para um sector e um grupo profissional que têm vindo a ser tão causticamente castigado por cortes sucessivos.

·        O organismo público com a tutela da gestão Património Arqueológico carece de uma biblioteca, para o seu próprio funcionamento (nomeadamente da função de inventário), como instrumento de apoio à investigação arqueológica e como ponto de contacto privilegiado com a comunidade arqueológica.

·        O trabalho desenvolvido pelos arqueólogos da DGPC não é administrativo, é técnico-científico. A Biblioteca de Arqueologia é um instrumento de trabalho quotidiano, para todos os técnicos, muito especialmente para o sector do inventário.

·        Todos os Museus Nacionais têm bibliotecas. Estas têm natureza própria, relacionada com a sua própria missão, programa, colecções etc. A Biblioteca de Arqueologia da DGPC e a Biblioteca do MNA são complementares e não redundantes. Reduzir uma biblioteca da arqueologia, pública, de largo espectro temático e âmbito nacional à lógica de uma biblioteca de museu é redutor e traduz-se, a curto prazo, na perda de valências.

·        A linha editorial especializada em arqueologia — Revista Portuguesa de Arqueologia e a série monográfica Trabalhos de Arqueologia (cuja reactivação é um imperativo) — é uma das obrigações da tutela arqueológica, decorrente da obrigatoriedade legal de publicação científica dos resultados dos trabalhos arqueológicos. Conhecem-se as dificuldades que estas edições tem sofrido nos últimos anos e teme-se que a fusão de bibliotecas constitua a breve trecho um argumento para uma lamentável, simplista e muito perniciosa “fusão de edições”, com resultados gravíssimos para a já extraordinariamente frágil situação nacional ao nível da publicação científica em Arqueologia.

·        Teme-se que esta decisão seja causa e consequência, mas fundamentalmente, mais um dado da redução de peso relativo do sector da Arqueologia no âmbito da DGPC, após a perda total de expressão orgânica e ausência de representação na Direcção.

·        Desconhecem-se os fundamentos para uma decisão desta natureza e gravidade, que não foi antecedida de qualquer consulta ou debate junto da comunidade arqueológica (principal lesada), mas teme-se que as consequências negativas não tenham sido devidamente avaliadas e ponderadas.

·        Como se sabe, a DGPC engloba a gestão do património cultural imóvel e também museológico. Mas isso pode mudar, pois verifica-se que a organização das diferentes tutelas do Património Cultural tem vindo a ter ciclos de vida institucional com uma duração de não mais de uma década. Uma alteração casuística (ou ad hoc) na organização das bibliotecas, para além de prejudicar o acervo de cada uma delas, conduzirá a uma descaraterização da identidade e os objetivos de cada um dos serviços. Ou seja, caso esta fusão se concretize, futuramente, numa situação de separação orgânica entre as gestões de museus e do património imóvel, a área do património arqueológico ver-se-ia em definitivo privada de um dos seus elementos essenciais, uma biblioteca especializada.

Por isso o que eu espero é que se acabem os "tiros nos pés", a decisões levianas e mal fundamentadas e a perseguição à Arqueologia.

Já chega!

Jacinta Bugalhão

2014-06-25 0:09 GMT+01:00 José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>:

Claro, é a minha opinião – e é bem possível que mais alguém dela partilhe, nomeadamente quem também tenha estado (ou esteja) à frente de uma publicação ou de uma biblioteca e saiba o valor que ainda detém a palavra permuta, por mais que se ergam bandeiras em prol do digital, com o argumento de que rapidamente o papel irá desaparecer. Ilusão pura, a meu ver!

Mas vamos lá ao boato que, segundo me constou, por aí já alegremente se passeia: a Biblioteca de Arqueologia da DGPC vai ser transferida para o Museu Nacional de Arqueologia e fica, portanto, fundida com a residente.

         Sempre sobre a mesa o argumento: redução de custos e maior operacionalidade.

         Duvido.

         Para já: mui provavelmente se está a encarar também o desaparecimento da Revista Portuguesa de Arqueologia, com a consequente quebra de enorme recepção de divisas que um consolidado regime de permutas significa, pois que apenas se teriam, a ser assim, permutas com O Arqueólogo Português. Por outro lado, O Arqueólogo Português tem filosofia editorial diferente dos objectivos da RPA e seria, de facto, penoso que esta viesse a desaparecer. Acho eu!

        

                                                                                                                                                      José d’Encarnação

               




Este email está livre de vírus e malware porque a proteção avast! Antivirus está ativa.









_______________________________________________
Archport mailing list
Archport@ci.uc.pt
http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport



Mensagem anterior por data: Re: [Archport] Um boato a exorcizar Próxima mensagem por data: Re: [Archport] Um boato a exorcizar ou a EXTINÇÃO da Biblioteca de Arqueologia da DGPC
Mensagem anterior por assunto: [Archport] Uma proposta de estágio Próxima mensagem por assunto: Re: [Archport] Um boato a exorcizar ou a EXTINÇÃO da Biblioteca de Arqueologia da DGPC