Lista archport

Mensagem

[Archport] Projeto ECOFREEDOM no Alentejo

To :   Archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Projeto ECOFREEDOM no Alentejo
From :   Rui Gomes Coelho <ruigomescoelho@gmail.com>
Date :   Wed, 13 Sep 2023 06:31:46 +0200

https://www.dn.pt/sociedade/arqueologos-detetam-vestigios-de-escravos-africanos-no-vale-do-sado--17010367.html

Arqueólogos detetam vestígios de escravos africanos no Vale do Sado 

Este projeto envolveu diretamente a Associação de Afrodescendentes, a Associação Batoto Yetu Portugal, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal e a Associação da Defesa do Património de Alcácer do Sal.

Os arqueólogos que investigam a presença de escravos africanos no Vale do Sado entre os séculos XV e XVIII encontraram vestígios que podem evidenciar "um passado ainda ocultado" da História de Portugal, disse à Lusa o coordenador da investigação, Rui Gomes Coelho.


"Isto é o que nos interessa realmente: estudar estas pessoas que estão ocultas, ou quase ocultas, da documentação histórica. São situações que existem na memória popular, dos antepassados que viviam nas cabanas [Alcácer do Sal], mas essas pessoas e a experiência de vida dessa gente está ausente da documentação histórica", disse o arqueólogo Rui Gomes Coelho da Universidade de Durham, Reino Unido, e do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa.

"A função social da arqueologia em Portugal é também dar visibilidade à experiência de vida destas pessoas (africanos e afrodescendentes), e construir um arquivo de experiência e de memórias que estão completamente ausentes do arquivo das elites que dominam a nossa memória histórica", acrescentou referindo-se a Portugal.

Durante o passado mês de agosto, a investigação localizada no Monte do Vale de Lachique, junto a São Romão do Sado, Alcácer do Sal, permite concluir, "numa primeira fase", que a estrutura terá sido construída no final do século XV, ou no início do século XVI, e que "deve ter sido sujeita" a uma reforma no século XVIII.

Os arqueólogos dirigidos por Rui Gomes Coelho e Sara Simões detetaram ainda "uma pré-existência romana, provavelmente uma vila (edificação rural)".


"Não encontrámos estruturas mas encontrámos material arqueológico que mostra que o local estava ocupado naquela época. Trata-se de uma situação muito interessante porque, tal como investigadores como Jorge Alarcão [Coimbra] já estudaram, existe a ideia, do ponto de vista da lógica social, de que os montes alentejanos sucedem aos latifúndios romanos", explicou Gomes Coelho.

Por outro lado, na zona estudada, verificou-se "um grande hiato" entre a época romana e o século XV, o que demonstra o provável abandono da região durante um longo período.

Os investigadores estudam paralelamente "o desbravamento do Vale do Sado, no século XV", após a chegada dos escravos africanos.

"Existem também provas documentais que apontam neste sentido [...] sobretudo na zona da herdade de Rio de Moinhos no século XVI, e que corresponde ao período em que estão a entrar muitas pessoas escravizadas em Portugal através do Alentejo", explica o arqueólogo.

No passado mês de agosto foi iniciado igualmente o processo de estudo sobre a possibilidade de existência de estruturas "onde as pessoas relatam a existência de aldeias de cabanas que estão associadas à memória dos africanos e descendentes dos escravos naquela região e que viviam nas margens das grandes propriedades."

Este projeto arqueológico no Vale do Sado envolveu diretamente, desde o início, a Djass - Associação de Afrodescendentes, a Associação Batoto Yetu Portugal, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal e a Associação da Defesa do Património de Alcácer do Sal.

O projeto mais amplo enquadra-se na investigação "Ecologias da Liberdade: Materialidades da Escravidão e Pós-Emancipação no Mundo Atlântico", que pretende entender os impactos do colonialismo e da escravatura no meio ambiente e tentar saber de que forma as pessoas deram "evidência a uma ideia de liberdade com base nos constrangimentos sociais" que foram impostos pela escravatura.

Os arqueólogos tentam comparar o Vale do Sado e Cacheu na Guiné-Bissau, onde efetuaram investigações em 2022, numa antiga casa comercial que atualmente é o Memorial da Escravatura, e também nas sondagens no rio Cacheu, no norte da Guiné-Bissau.

Em Cacheu funcionou, durante o período colonial português, "um dos portos negreiros mais importantes da África Ocidental, que serviu o tráfico de escravos" e de onde foram trazidas muitas pessoas para Portugal.

"Nós estamos a fazer um projeto em que todas as partes contam. Do meu ponto de vista o que faz falta é resolver as desigualdades sociais que continuam a marcar a sociedade portuguesa, do ponto de vista étnico-racial, étnico económico e social", afirmou Rui Gomes Coelho.

As primeiras conclusões desta investigação vão ser apresentadas em novembro, no Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses, em Coimbra.



Sent from my iPhone

Mensagem anterior por data: [Archport] Recrutamento Arqueólogo ou Técnico Algarve (Odiáxere) Próxima mensagem por data: [Archport] Fwd: Cursos de Latim e de Grego Vivos, Percurso de Lisboa Romana, Itenerário Mitológico e Colóquio «In memoriam Nuccio Ordine - Humanitas: o passado e o futuro hoje» | Setembro, Outubro e Novembro de 2023
Mensagem anterior por assunto: [Archport] Programa: "Lusitanie Et Afrique Romaine" em Aix-en-Provence Próxima mensagem por assunto: [Archport] Que vadis, Olisipo?