[Archport] LandCRAF: Os contextos sócio-culturais da arte da Pré-história Recente no vale do Côa

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Os jornais e a Arqueologia

LandCRAF

Um projecto de excelência liderado por Lara Bacelar

No verão os jornais despertam para a Arqueologia.

 

Considerando que, agora, com a Arqueologia comercial/de Acompanhamento/salvamento/emergência, se fazem trabalhos arqueológicos todo o ano, pode supor-se que é a falta de notícias que abre espaço na comunicação social aos achados arqueológicos.

 

Neste verão foram várias as notícias que chegaram às principais páginas dos jornais. E, como se foi vendo pela discussão que dinamizaram, nem sempre foi a Arqueologia como disciplina científica, que produz conhecimento inovador e relevante, que trouxe para as primeiras páginas os testemunhos das dinâmicas das sociedades pretéritas.

"Investigação arqueológica no Côa revela pinturas do pós-paleolítico, as primeiras na região", foi o título com que a imprensa, divulgou que " Investigadores da Universidade de Coimbra puseram a descoberto, pela primeira vez no Vale do Côa, uma rocha pintada com motivos associados à arte levantina da pré-história pós-paleolítica".

Detenho-me nesta notícia, porque ela se refere a investigadores do CEAACP da Universidade de Coimbra mas, particularmente, porque o "achado de pequenos núcleos de pintura", como ao achado se referiu a presidente da Fundação Côa Parque Arqueológico do Vale do Côa, acrescentando serem fundamentais para o Parque Arqueológico do Vale do Côa, "porque denota a presença humana, que foi sucessivamente gravando ao longo de um largo período da pré-história [testemunhos] fundamentais para reforçar os círculos artísticos neste território", resultam do trabalho de investigação de excepcional qualidade, desenvolvido no âmbito do projecto "LandCRAF: Os contextos socioculturais da arte da Pré-história Recente no vale do Côa; desenhado e coordenado por Lara Bacelar, e não de um qualquer acaso".

 

Lara Bacelar, investigadora integrada do CEAACP, apresentou à FCT o projecto LandCRAF, definindo como "objectivo redigir um novo capítulo na história da arte do Côa através do estudo do conjunto de vestígios datáveis de um período imediatamente posterior aos grandes ciclos paleolíticos, abarcando, assim, um dos momentos transformadores da Humanidade: a passagem de um modo de vida assente exclusivamente na caça e recolecção, aos primeiros ensaios na domesticação de plantas e animais, culminando na consolidação do sistema agro-pastoril."

 

Para tal, Lara Bacelar e a equipa que reuniu nesse projecto, desenharam a estratégia de pesquisa visando a "produção do corpus da arte rupestre da Pré-história recente do Vale do Côa; análises físico-químicas de pigmentos e suportes; elaboração de Planos de Gestão de Sítios com base num diagnóstico de Conservação e Restauro; escavação do abrigo de Lapas Cabreiras e outros sítios com vestígios de ocupação do Neolítico/Calcolítico próximos de abrigos pintados e estudos paleoambientais. O projecto incorpora uma componente dedicada à Arqueologia Pública, Ciência Cidadã e à transferência de conhecimento para a comunidade científica nacional e internacional."

 

Financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto com a ref. COA/OVD/0055/2019, com o apoio logístico da Fundação Côa-Parque e Reserva Faia Brava, este projecto, graças a uma equipa e orientação exemplares, logrou alcançar todos os objectivos que se propunha e ultrapassá-los em larga escala.

 

Na Arqueologia que atualmente se faz em Portugal este projecto inscreve-se numa outra dimensão e noutro patamar. Pelos resultados inovadores que vai obtendo e, fundamentalmente, pelas problemáticas que acrescentou à ciência das sociedades do passado e à abertura que com elas se descerra para novos trabalhos, interdisciplinares e de dimensão internacional.

 

A imprensa preocupa-se com a espectacularidade das coisas e com o seu potencial de atração de turistas pouco lhe importando o quanto os resultados são fruto de trabalho árduo, persistente, às vezes aberto dificilmente.

 

Este projecto foi tudo isso; e foi, e continua a ser, uma resposta criativa da ciência à adversidade que nos desafia a cada momento, como a Lara Bacelar escreveu no editorial do vol.5 da Revista Kairos (que é sua obra também): " A nova década irrompeu de forma pungente, com a Humanidade a ver-se subitamente confrontada com um desafio assombroso, dilacerante e universalmente perturbador das nossas vidas pessoais, familiares, comunitárias. Nesta atípica Primavera, aguardando que o momento crítico dê lugar a um outro, tendente à reflexão e reconfiguração de valores e primazias, oferecemos o primeiro número temático da Kairós (https://www.uc.pt/ceaacp/publicacoes/kairos/) que se debruça sobre a investigação no domínio da arte rupestre desenvolvida no CEAACP."

 

Faz bem a imprensa escrever sobre as artes da ciência da Arte Rupestre, e fazê-lo sem as retirar do seu lugar de trabalho científico, sério, competente, colaborativo criativo, como é este feito pelo projecto da Lara (como dizemos no CEAACP), pois que ela assim o desenhou e desenvolve.

 

Porque trabalhos como este não precisam do verão para preencher o espaço de notícias: Estes trabalhos que nos revelam com que arte nos exprimimos e comunicamos há séculos entram no domínio daquilo que (para mim) só os poetas e a ciência sabem dizer.

Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Património

CEAACP—FCT Unit of Research 
University of Coimbra
ceaucp@ci.uc.pt