Um apelo a ter em conta. URGENTE. José d’Encarnação De: archport-bounces@ci.uc.pt <archport-bounces@ci.uc.pt> Em Nome De Maria Lopes Em Portugal, a Arqueologia já algum tempo que sucumbiu a "uma lógica de mercado a que se deve submeter em nome dos imperativos da “gestão do património arqueológico”. O mundo, tal como o conhecemos actualmente, exige redobrada atenção às questões do Património. Olhando o vídeo “Trump Gaza” que o senhor Trump nos enviou para casa, faz sentido ler e trazer de novo para os materiais de debate obrigatório e reflexão nas Universidades, entre outros, os textos de Laurent Olivier, Notre passé n’est pas à vendre Nuestro pasado no está en venta, Complutum, 2013, Vol. 24 (1): 29-39, e How I learned the Law of the Market, In Aparicio, P. (ed.) (2016): Archaeology and Neoliberalism. JAS Arqueología Editorial, Madrid: 223-238 No resumo do texto de 2013, Laurente Olivier escreve: "A própria razão de ser da arqueologia está agora a ser brutalmente atacada, sob a pressão de uma lógica de mercado a que se deve submeter em nome dos imperativos da “gestão do património arqueológico”. Esta submissão tem a sua forma mais visível na ascensão da chamada arqueologia “preventiva”, mas afecta também, de forma não menos violenta, o funcionamento dos museus e a investigação institucional. No interior da própria disciplina, esta subjugação da arqueologia reflecte-se no desenvolvimento de um verdadeiro processo de proletarização da investigação. No plano externo, a “mercantilização” da arqueologia está a desfazer o elo político que une o estudo e a preservação dos vestígios do passado à comunidade de cidadãos que os herdaram. Desta forma, a submissão à norma económica produz uma dupla exclusão: exclui os arqueólogos da sua própria disciplina, tal como exclui os cidadãos dos seus próprios assuntos - a coisa pública, a res publica. Por toda a Europa, faz-se a mesma constatação: uma nova classe de tecnocratas está a tomar o poder sobre os investigadores e os criadores. Está a desmantelar os domínios de que se apoderou, transformando-os em meras actividades de produção económica, agora desprovidas de qualquer significado. Não podemos, em boa consciência, abandonar a gestão da nossa disciplina. Não abandonemos a arqueologia, como os nossos antecessores a abandonaram ao fascismo e ao nazismo." Três anos passados, no texto 2016, Laurent Olivier anota o percurso que se fez: "A concorrência fez explodir o trabalho de elaboração de dados arqueológicos. Escavávamos um fragmento de sítio aqui, mas o outro fragmento está a ser escavado ali pela concorrência. Não saberemos, portanto, nada, ou saberemos muito pouco. No entanto, o conhecimento arqueológico é construído através da paciente acumulação de observações, operação após operação, ano após ano. De que serve agora o trabalho de campo, se já não é isso? Não é surpreendente notar, nestas condições, que a arqueologia preventiva se tornou um dos sectores de actividade onde as perturbações psico-ocupacionais - como se costuma dizer - assumiram uma importância preocupante. E depois há a questão dos arquivos da escavação, que já não estão centralizados em lado nenhum e que correm o risco de acabar no caixote do lixo quando um operador privado vai à falência ou abandona a sua actividade. (,,,) A arqueologia tornou-se não só o auxiliar dos empreendedores (entidade contratante), a sua vanguarda de certa forma, mas também e, sobretudo, instrumento da Lei do mercado.. O seu capital de simpatia, que era imenso na opinião pública, foi grandemente desvalorizado: a arqueologia inspira agora desconfiança, ou mesmo desinteresse. Isto não é surpreendente; nas suas actuais condições de funcionamento, a arqueologia foi despojada do seu papel social. Já não liga às pessoas restaurando-lhes um património comum, uma riqueza frágil pertencente a todos; ela contribui, ao contrário, para espoliámos dessa memória dos lugares onde vivem e trabalham. Isto não é o que queríamos Não era isto que queríamos; não é isto que queremos. A arqueologia não está à venda, porque não pode ser de qualquer forma um produto. É um património comum, disponível para a comunidade. E é em benefício de todos que devemos cuidar dele, precisamente porque este património arqueológico é um bem comum inalienável. A arqueologia não presta serviço e os arqueólogos não são agentes que trabalham para clientes. A arqueologia transmite o património arqueológico do passado às gerações futuras e os arqueólogos trabalham para a comunidade. Não faz sentido de outra forma." Na Gaza do senhor Trum não há Arqueologia, mas há notas que caiem do céu. Mas, face ao que fazemos atualmente ,"Escavávamos um fragmento de sítio aqui, mas o outro fragmento está a ser escavado ali pela concorrência. Não saberemos, portanto, nada, ou saberemos muito pouco”, pouco importa se há ou não. E, todavia, deveria importar. Para que se não eliminem os traços das Gaza deste mundo, ou que se não memorizem apenas por fragmentos sem nexo nem sentido, que se guardam em reservas que a todo o momento podem ser deitadas ao lixo, quando não são essas reservas já o próprio lixo, é urgente pensar se é isto que queremos da Arqueologia. Porque é fácil deslumbrarmos-nos e, mais fácil ainda, AGILIZAR, como nos é proposto a partir das instituições que gerem o Património em Portugal Maria da conceição Lopes PhD Archaeology Associate Professor (Aggregation title) Faculty of Arts and Humanities Permanent Researcher And Scientific Coordinator of CEAACP Center for Archaeological, Arts and Heritage Sciences University of Coimbra |