Rui Pimentel,
seu companheiro de muitos projectos, evocou, no FB, a personalidade de Luís
Pascoal, recentemente falecido. Não resisto a transcrevê-lo, com a devida vénia.
Para quem
desejar aceder aos comentários, o atalho para os localizar é: https://www.facebook.com/rui.pimentel.50/posts/10216307969566009
J. d’E.
19 h ·
Perdi um
amigo.
Numa reunião ligada a actividades militantes, em pleno PREC, vi chegar aquele
rapaz magro e hiperactivo, de grande bigode preto, a dizer que íamos fazer isto
e aquilo e mais aquilo: Estava ali o Luís em tudo o que eu iria conhecer melhor
ao longo dos 43 anos em que fomos amigos e colaboradores em muitas ocasiões.
Com capacidades de líder, inteligente, voluntarioso, cheio de ideias e com
vontade de as realizar, certo que ninguém o faria tão bem como ele (nós). Foi
essa corrida em toda a sua vida que justifica a obra que deixou/deixámos, mas
provavelmente lhe haveria de provocar o golpe de misericórdia…
Não conseguindo uma equivalência dos seus estudos em arqueologia, área em que
ainda trabalhou alguns anos a seguir ao 25 de Abril, lançou-se no design
gráfico , fundando a Antevisão com um grupo de jovens gráficos, pedindo-me de
vez em quando a minha colaboração.
Os nossos caminhos encontraram-se, e separaram-se por vezes (não o acompanhei,
por exemplo, na sua ida a Timor para a recuperação da Escola secundária de
Dili), mas a minha formação em arquitectura era uma mais valia que lhe fazia
falta para outros projectos, sobretudo ligados à museologia, e assim nasceu a
Arquivisão. Fizémos propostas para o Museu arqueológico de Tróia, trabalhámos
em vários projectos museológicos e muitas exposições; muitas propostas ficaram
pelo caminho (Museologia para o Museu de Castelo Branco, Proposta para um museu
das descobertas, primeiros estudos para o museu do Teatro Romano de Lisboa,
etc).
Com o apoio do João Soares então presidente da Câmara de Lisboa, lançámo-nos na
criação da Videoteca de Lisboa, da Quinta pedagógica dos Olivais, na
recuperação da quinta do Contador-Mor dos Olivais (Mais tarde Bedeteca), na
recuperação do Pavilhão Poente do Bairro Grandella para a criação da
Biblioteca-Museu República e Resistência. Em Lisboa trabalhámos ainda para o
Centro de Interpretação da Cidade de Lisboa e cafetaria anexa (Castelo de S.
Jorge), o Museu do Fado, o núcleo museológico do Hotel Solar do Castelo.... Em
Coimbra adaptámos o Espaço Chiado para instalar a colecção de arte de Telo de
Morais, e fizemos a museologia do recém construído museu anexo ao Mosteiro de
Santa Clara-a-velha.
Fomos convidados para colaborar com o Governo Regional dos Açores, onde
trabalhámos em 6 museus: Museu da Graciosa, Museu do Vinho no pico, Exposição
permanente do Museu de Angra do Heroísmo, Centro interpretativo do Boqueirão,
Museu das Flores (não realizado), Museu da Fábrica da baleia do Boqueirão.
Quando o AVC o apanhou a meio deste último projecto, ainda continuámos a
trabalhar juntos. Estava com dificuldades motoras, mas a mente parecia ter
escapado ao ataque, e ainda conseguiu ir comigo algumas vezes aos Açores para
seguir a obra. Uma operação cirúrgica veio entretanto a piorar a sua condição
física e mental e começou a perder as suas faculdades, o que viria a desembocar
no seu falecimento.
A sua vivacidade e facilidade de contacto com os outros vinham compensar um
certo perfil mais recatado da minha parte, mais virado para o trabalho de campo
e de atelier, no que se tornou numa colaboração profissional muito feliz,
apesar de algumas tensões, que as nossas características tão diferentes
inevitavelmente teriam de provocar.
Mas neste momento, para além do trabalho, recordo mais a nossa amizade, o
prazer que a relação que mantínhamos nos criava, a sua presença muito viva e
inteligente, cuja falta me vai deixar um buraco insubstituível na minha vida.
Fotos:
Juntos à maquete para um Museu das Descobertas; à porta da Biblioteca República
e Resistência