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[Archport] Um depoimento sobre Luís Pascoal

To :   "archport" <archport@ci.uc.pt>, "histport" <histport@uc.pt>, "museum" <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Um depoimento sobre Luís Pascoal
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Fri, 11 Jan 2019 12:28:56 -0000

Rui Pimentel, seu companheiro de muitos projectos, evocou, no FB, a personalidade de Luís Pascoal, recentemente falecido. Não resisto a transcrevê-lo, com a devida vénia.

Para quem desejar aceder aos comentários, o atalho para os localizar é:  https://www.facebook.com/rui.pimentel.50/posts/10216307969566009

J. d’E.

Rui Pimentel

19 h

Perdi um amigo.
Numa reunião ligada a actividades militantes, em pleno PREC, vi chegar aquele rapaz magro e hiperactivo, de grande bigode preto, a dizer que íamos fazer isto e aquilo e mais aquilo: Estava ali o Luís em tudo o que eu iria conhecer melhor ao longo dos 43 anos em que fomos amigos e colaboradores em muitas ocasiões. Com capacidades de líder, inteligente, voluntarioso, cheio de ideias e com vontade de as realizar, certo que ninguém o faria tão bem como ele (nós). Foi essa corrida em toda a sua vida que justifica a obra que deixou/deixámos, mas provavelmente lhe haveria de provocar o golpe de misericórdia…
Não conseguindo uma equivalência dos seus estudos em arqueologia, área em que ainda trabalhou alguns anos a seguir ao 25 de Abril, lançou-se no design gráfico , fundando a Antevisão com um grupo de jovens gráficos, pedindo-me de vez em quando a minha colaboração.
Os nossos caminhos encontraram-se, e separaram-se por vezes (não o acompanhei, por exemplo, na sua ida a Timor para a recuperação da Escola secundária de Dili), mas a minha formação em arquitectura era uma mais valia que lhe fazia falta para outros projectos, sobretudo ligados à museologia, e assim nasceu a Arquivisão. Fizémos propostas para o Museu arqueológico de Tróia, trabalhámos em vários projectos museológicos e muitas exposições; muitas propostas ficaram pelo caminho (Museologia para o Museu de Castelo Branco, Proposta para um museu das descobertas, primeiros estudos para o museu do Teatro Romano de Lisboa, etc).
Com o apoio do João Soares então presidente da Câmara de Lisboa, lançámo-nos na criação da Videoteca de Lisboa, da Quinta pedagógica dos Olivais, na recuperação da quinta do Contador-Mor dos Olivais (Mais tarde Bedeteca), na recuperação do Pavilhão Poente do Bairro Grandella para a criação da Biblioteca-Museu República e Resistência. Em Lisboa trabalhámos ainda para o Centro de Interpretação da Cidade de Lisboa e cafetaria anexa (Castelo de S. Jorge), o Museu do Fado, o núcleo museológico do Hotel Solar do Castelo.... Em Coimbra adaptámos o Espaço Chiado para instalar a colecção de arte de Telo de Morais, e fizemos a museologia do recém construído museu anexo ao Mosteiro de Santa Clara-a-velha.
Fomos convidados para colaborar com o Governo Regional dos Açores, onde trabalhámos em 6 museus: Museu da Graciosa, Museu do Vinho no pico, Exposição permanente do Museu de Angra do Heroísmo, Centro interpretativo do Boqueirão, Museu das Flores (não realizado), Museu da Fábrica da baleia do Boqueirão.
Quando o AVC o apanhou a meio deste último projecto, ainda continuámos a trabalhar juntos. Estava com dificuldades motoras, mas a mente parecia ter escapado ao ataque, e ainda conseguiu ir comigo algumas vezes aos Açores para seguir a obra. Uma operação cirúrgica veio entretanto a piorar a sua condição física e mental e começou a perder as suas faculdades, o que viria a desembocar no seu falecimento.
A sua vivacidade e facilidade de contacto com os outros vinham compensar um certo perfil mais recatado da minha parte, mais virado para o trabalho de campo e de atelier, no que se tornou numa colaboração profissional muito feliz, apesar de algumas tensões, que as nossas características tão diferentes inevitavelmente teriam de provocar.
Mas neste momento, para além do trabalho, recordo mais a nossa amizade, o prazer que a relação que mantínhamos nos criava, a sua presença muito viva e inteligente, cuja falta me vai deixar um buraco insubstituível na minha vida.

Fotos: Juntos à maquete para um Museu das Descobertas; à porta da Biblioteca República e Resistência

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