Álvaro Figueiredo, um amigo generoso
A notícia do falecimento de alguém, mormente amigo, induz em mim, sempre e sempre, uma espécie de torpor – o qual reveste também a modalidade de estupefacção quando a notícia nos surge como totalmente inesperada. Foi o que sucedeu quando companheiro de décadas me fez saber que não mais poderíamos voltar a beneficiar da companhia do Álvaro Figueiredo.
Torpor, estupefacção e choque. Não pude mais do que quebrar a regra de não frequentar o “livro das faces” durante o fim-de-semana. Uso-o exclusivamente para finalidades profissionais e cívicas, pelo que lhe aplico tanto quanto posso o horário semanal as 35 horas. Com excepções, todavia. E esta foi uma delas, por funestas razões.
Não pude por isso deixar de escrever aí o que segue:
“Álvaro Figueiredo,um amigo generoso, sempre disponível.
Novamente as circunstâncias obrigam-me a quebrar a regra dos fins-de-semana e vir a este espaço. Desta vez por funestas razões. A notícia chegou-me há pouco, por amigo comum, o Edmundo Rijo: faleceu o Álvaro Figueiredo, nosso companheiro de viagem em tantas e tantas ocasiões. A ele se deve, no seu início, grande parte do êxito do extraordinário programa de viagens do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia a lugares um tanto exóticos, às vezes difíceis de trilhar, no Próximo e Médio Oriente e depois também no continente africano, a Norte e a Sul do Saará, ao longo de todo o vale do Nilo, até ao longínquo Sudão.
Recordamo-lo todos com uma imensa ternura, que no meu caso é também gratidão. Muitos sonhos sonhámos juntos; e depois muitas aventuras fizemos juntos, sempre na companhia de grupos de Amigos do MNA que jamais irão esquecer os tempos que passámos. Isto já sem falar nos encontros que tivemos em Londres ou nos cursos e outras acções que ele, sempre disponível, aceitou fazer no MNA.
Longa caminhada, amigo. A moeda para pagares ao barqueiro, dou-ta eu.”
Fazia acompanhar este comentário por um mosaico de quatro fotos de viagem do GAMNA à Jordânia, em 2005 (segue aqui junto também), com a seguinte legenda: impressões de uma viagem à Jordânia, em 2005 (na foto maior, o grupo na fortaleza de Amã), quando o Álvaro até se vestiu e “barbou” a rigor, para "casamento" com companheira de viagem (a Isabel Inácio), simulado em acampamento no deserto.
Como se compreenderá tratou-se de brevíssima nota, escrita de supetão, com a procura apressada de memórias, nos fundos do coração e de disco externo que tinha à mão e sabia estar carregado de sentimentos. Muito mais haveria a recordar e dizer. Certamente que o MNA e o GAMNA o procurarão realizar, até porque existem outras dimensões na actividade do Álvaro que importa assinalar, seja enquanto arqueólogo de terreno (tanto nos estudos de arqueologia urbana em Londres, como nas numerosas intervenções de antropologia física que realizou entre nós), seja enquanto espírito livre e aberto à aplicação de novos métodos de estudo do passado (veja-se em particular o papel activíssimo que teve no “Lisbon Mummies Project”).
Hoje, as palavras faltam. Nada mais há a dizer senão acompanhar Álvaro no seu regresso ao pó de que todos somos feitos.
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