SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANTROPOOGIA E ETNOLOGIA
(SPAE) – PORTO
CONFERÊNCIAS DO CENTENÁRIO – II – 2019
ÚLTIMAS CONFERÊNCIAS DESTE CICLO/ANO
SÁBADO, 16 DE NOVEMBRO DE 2019
MUSEU NACIONAL DE SOARES DOS REIS, PORTO
14,30 – 17,30 H.
ENTRADA LIVRE E GRATUITA PARA SÓCIOS E NÃO SÓCIOS
1 – 14,30 H.
TEMA:
"A VIDA DO MAR É OUTRA COISA" –
NOÇÕES DE TEMPO E RESISTÊNCIA NA PESCA
https://www.facebook.com/events/1152430078267076/
Partindo de um projecto de doutoramento que tem com o objectivo de analisar
como a incerteza se torna um elemento constitutivo dos quotidianos nas
comunidades piscatórias de Setúbal e Olhão, pretende-se reflectir sobre as
noções de tempo na pesca que se alicerçam na oposição
mar/terra.
“A vida do mar é outra coisa”, disse um pescador setubalense, enfatizando a
diferença por relação à terra. Esta
oposição mar/terra sustenta uma teia
simbólica de oposições, que tem implicações na experiência de quem vive pesca.
A dimensão do mar e a sua imprevisibilidade, pese embora transferir
instabilidade às vidas dos pescadores traz, também, a possibilidade de uma
aparente não subordinação. É no mar
que se experienciam outros ritmos, não controlados, nem padronizados. O mar,
embora incerto e perigoso, é também uma fonte de possibilidades.
O controlo sobre o tempo é meio e mecanismo de poder, e a recusa a um tempo
hegemónico, marcado pelo relógio e
pelo calendário anual, pode ser vista como uma forma de resistência. A relação com a natureza, da qual os pescadores são
dependentes, e consequente ausência de horário de trabalho, são os principais
elementos evocados para sublinhar particularidade do tempo da pesca,
associando-o a um ideário de liberdade, de libertação
das obrigações impostas pela terra, local onde se encontram instituições que
regulam a actividade.
Com esta comunicação, pretende-se
traçar como emerge este discurso de autonomia e liberdade, de que forma tem uma
subjacente recusa contra-hegemónica às imposições da terra, e como a
experiência de diferentes temporalidades é articulada em quotidianos
atravessados por uma incerteza endémica, partindo do trabalho de campo
realizado em Setúbal.
AUTORA:
VANESSA IGLÉSIAS AMORIM
CRIA/ISCTE-IUL
Licenciada e mestre em Antropologia pelo Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL). No mestrado trabalhou com e sobre a comunidade piscatória
setubalense, com enfoque nos discursos sobre o estado actual das pescas.
Colaborou com a Mútua dos Pescadores, onde trabalhou no Departamento de Ação Cooperativa e Comunicação.
Colabora frequentemente com a Setúbal Pesca e a Bivalmar. Faz parte do projecto
de teatro-documentário “Pelos que andam sobre as águas do mar”. Atualmente é
doutoranda, com bolsa FCT, e o seu projecto tem como objectivo analisar como a
incerteza se torna um elemento constitutivo dos quotidianos nas comunidades
piscatórias de Setúbal e Olhão, analisando as estratégias produtivas e
reprodutivas mobilizadas para a ultrapassar.
2 –
15,30 H.
TEMA:
MOVIMENTOS NEOPAGÃOS EM PORTUGAL: ONTOLOGIA,
NATUREZA E CELEBRAÇÃO SAZONAL DOS CICLOS NATURAIS E FESTIVOS
https://www.facebook.com/events/229468131264156/
O Neopaganismo, um “umbrella term” utilizado para designar diversas tradições
religiosas e espirituais politeístas, tem como crenças centrais a sacralidade
da natureza, o politeísmo e a igualdade de género. Através da celebração sazonal dos ciclos naturais, procura estabelecer
uma ligação de respeito e proteção com o mundo natural.
Esta comunicação pretende apresentar
as reflexões e contributos epistemológicos, resultantes de uma investigação que decorreu em 2016 e 2017, na obtenção do grau do Mestre, a partir de uma etnografia
conduzida com um grupo Neopagão, focando a dimensão de celebração sazonal dos ciclos naturais e na vivência da
espiritualidade tendo como referente a Natureza.
A partir da ritualização sazonal dos
ciclos festivos e naturais, é possível perceber que este é um espaço de criação de relações, sociabilidades e visões do mundo,
remetendo para o estabelecimento de relações significativas entre humanos e
não-humanos, mas também para preocupações éticas e morais de cariz ecológico e
sustentável, que por sua vez são também elas de ordem epistemológica e
ontológica.
Criando um diálogo relevante entre a disciplina e este tipo de expressão
religiosa e espiritual, demonstra-se a importância que este tipo de novos
movimentos religiosos tomam face às crises políticas, socioculturais e ecológicas
que demarcam os nossos quotidianos.
Tendo em conta os discursos e soluções alternativas que oferecem, e o facto de
a sua visibilidade, e número, ser crescente no momento atual, é assim possível
verificar a relevância que estes adquirem.
A AUTORA:
JOANA MARTINS
Licenciada e Mestre em Antropologia pelo Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE - IUL), trabalhou durante o mestrado sobre movimentos Neopagãos em
Portugal, nomeadamente a vivência e celebração
cíclica e a sua relação com questões
ecológicas, tendo resultado esta investigação
na dissertação E assim a Roda gira:
Ontologias, Natureza e Celebração
Sazonal dos Ciclos Naturais no contexto dos Movimentos Neopagãos em Portugal.
Atualmente, é estudante de doutoramento no ISCTE-IUL e bolseira FCT, seguindo a
mesma linha de investigação, focando
contudo a presença e impacto destes grupos no espaço político e público,
principalmente no que toca a questões ecológicas e de igualdade de género.
PARTICIPAR NAS SESSÕES GRATUITAS E LIVRES QUE A
SPAE PROMOVE É UM ACTO DE CIDADANIA.