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Re: [Archport] Pequeno guia para discutir o derrube de estátuas, por Tatiana Bina | Opinião patrimonio.pt

To :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Pequeno guia para discutir o derrube de estátuas, por Tatiana Bina | Opinião patrimonio.pt
From :   Alexandre Sarrazola <alexandresarrazola@gmail.com>
Date :   Mon, 13 Jul 2020 23:01:24 +0100

Salve todos 

Subscrevo tout court a asserção de Alexandre Monteiro na nota concernente à perigosidade da aparente candura com que nós, o Estado somos nós, assobia para o lado face à abjecta acção social política e cultural dos grupos neo-fascistas: assobio que me traz à memória  o - em última instância - pusilânime  posicionamento de Weimar, precisamente face à  «tirania totalitária» de uma minoria que decapitou a proba democrática e tolerante «maioria»

Todavia, ocorre-me partilhar que não me parece que «a colunista falhou». Pelo contrário: acertou em cheio. Perpassa pelo seu excelente sagaz e lúcido texto o fundamental: a gestão prática da Liberdade. Já que um génio o postulou limito-me a citar, sem nenhuma vergonha, na senda de Nick Cave, a wiki:

«[Isaiah] Berlin promoted the notion of "positive liberty" in the sense of an intrinsic link between positive freedom and participatory, Athenian-style, democracy.There is a contrast with "negative liberty." Liberals in the English-speaking tradition call for negative liberty, meaning a realm of private autonomy from which the state is legally excluded. In contrast French liberals ever since the French Revolution more often promote “positive liberty”—that is, liberty insofar as it is tethered to collectively defined ends. They praise the state as the state as an essential tool to emancipate the people.»

Em suma, pergunto até, de mim para comigo, se no quadro conceptual da liberdade positiva/negativa berliniana, e nos termos da Constituição da República Portuguesa, não teremos já nós - o Estado - deixado entrar no hemiciclo de São Bento minoritários apreciadores da minoria que Weimar tolerou. É que passou tão pouco tempo e há um olor a pólvora no ar que lembra bigodes bizarros. E o primado do formigueiro sobre a formiga. Especificando: o uso da liberdade positiva para a mote de ideias bonitas para um colectivo futuro glorioso (e o futuro ainda não existe: uma evidência sem contra argumento) anular os que não querem para si esse ideário. Quantos milhões morreram por delito de opinião contra ideias bonitas (não para mim) historicamente ontem? Talvez seja um pessimista inveterado, mas cheira-me - olhando para a União Europeia - que de alguma forma Weimar é aqui (a Europa hoje).

Parabéns Tatiana Bina.

Alexandre Sarrazola

Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com> escreveu no dia segunda, 6/07/2020 à(s) 14:41:
Concordo com tudo, à excepção de um pequeno pormenor: não é por haver minorias peticionárias que as estátuas têm que se manter ou remover.

Existem na nossa sociedade democrática instrumentos para a erecção de estátuas na praça pública e para a sua remoção, pacífica e técnica. 

O facto de haver 300 pessoas que estejam contra a (horrível) estátua do Vieira não lhes confere uma maioria qualificada que lhes permita a sua remoção legal. Nem muito menos a sua vandalização, ressabiados que estão por não conseguirem a sua remoção por meios democráticos, como sucedeu com o Coltson. 

O problema essencial nesta questão, que a colunista falhou em identificar, não é a estátua: é a da tirania totalitária de grupos fascizoides minoritários sobre a maioria.

Em segunda-feira, 6 de julho de 2020, Patrimonio.pt <patrimonio.pt@spira.pt> escreveu:

 

A nossa colunista Tatiana Bina, do MPMP (Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa), aborda esta semana as muitas questões que o derrube de estátuas em espaço público, que conheceu recentemente novo impulso no mundo ocidental, podem e devem suscitar:

 

«Apesar de os historiadores terem feito um esforço para explicar que história e memória são coisas distintas, este ponto não parece ainda plenamente compreendido: uma estátua não é uma personagem histórica em si. O seu derrube não implica o sumiço histórico de uma personagem. Uma estátua é uma homenagem, feita 'a posteriori', de maneira a legar à posteridade quem os seus executores consideram digno de ser constantemente lembrado. O seu carácter exemplar está conjugado no próprio modelo iconográfico e arquitectónico que é usado à exaustão e tem precedentes na antiguidade clássica: um suporte ou pedestal coloca uma figura humana acima dos passantes. A história de uma personagem histórica não está essencialmente nas estátuas: está em documentos textuais e arqueológicos que estão ou deveriam estar salvaguardados em museus, arquivos e universidades.

 

Mas acontece dano a essas personagens quando há descaso com essas instituições, com os seus profissionais, com os pesquisadores. Logo, o que se ataca não é a história: é a memória. Não há nenhum anacronismo em condenar uma estátua de um mercador de escravos. A sua existência histórica continuará conquanto existam pesquisas e divulgação do seu nome; mas o espaço que a estátua ocupa não é passado: é presente.»

 

Não deixe de ler o texto na íntegra, em patrimonio.pt

 

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Raquel Viúla
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